As barcas utilizadas no compasso pascal de Fiscal, em Amares, estão durante a tarde deste sábado a emergir do rio Homem ao fim de quase um ano debaixo de água, para aproveitar o sol dos próximos dias para secarem e, posteriormente, serem decoradas.
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A iniciativa, como em outros anos, é levada a cabo pela Junta de Freguesia de Fiscal, que com ajuda a tratores e um camião grua, retiram as quatro barcas para o exterior, que vão servir para, na próxima segunda-feira de Páscoa, unir as duas margens com a travessia do compasso.
Recorde-se que no ano passado, depois de verificarem que algumas das barcas que ficam durante cerca de 350 dias submersas no rio não se encontravam nas melhores condições, a Junta de Fiscal – de onde é natural o popular músico António Variações – decidiu investir cerca de 20 mil euros para a construção de quatro novos barcos.
Na segunda-feira de Páscoa, os mordomos e respetivos compassos (acompanhados da comunicação social) vão atravessar o rio nas barcas, para unir os lugares de São Pedro e São Bento.
Os barcos ficam guardados no fundo do rio durante quase todo o ano para impedir que a madeira, feita de pinheiro manso, seque, levando a que durem mais tempo. É, aliás, a única “forma segura” de impedir que se abram rasgos no casco, devido ao impacto que o sol tem na madeira.
Os barcos foram, como também manda a tradição, construídos por um carpinteiro da freguesia, que, através da madeira do pinheiro, alguns arames, pregos e outro material – para a colagem -, não negligencia a tradição da construção deste que era o único meio daquela população se encontrar ao longo de todo o ano, quando ainda não existiam pontes nas redondezas.
É que, apesar de ter sido construída uma ponte há vários anos, a freguesia continuou a usar este meio para atravessar as ‘cruzes’ pascais nesta altura.
Embora se trate de uma tradição religiosa, compete à Junta de Freguesia assegurar a manutenção dos barcos, que são sua propriedade, bem como fazer o investimento necessário para os recuperar, como foi o caso deste ano.
E a tradição em Fiscal cumpre-se, não no domingo de Páscoa, mas na segunda-feira seguinte. A isso deve-se o facto de o anterior pároco, entretanto falecido, ter mais do que uma paróquia a seu encargo. Como o compasso de Fiscal tinha esta particularidade que diferia das outras paróquias, o padre resolveu mudar as celebrações naquela freguesia para a segunda-feira, algo que se vincou também como uma tradição.