Os leitores da Ave Mobilidade não reconhecem os passes dos estudantes do ensino secundário de Guimarães, emitidos pela Guimabus, para viajarem para a escola gratuitamente. Os alunos que residem nas freguesias mais afastadas, onde o operador urbano não chega ou tem poucas carreiras, são obrigados a usar as carreiras intermunicipais. Apesar de haver um acordo para os estudantes poderem usar os autocarros das duas empresas, quando o passe não funciona, os jovens ficam à mercê da boa vontade dos motoristas, que por vezes os deixam em terra.
Inês Rodrigues, de 17 anos, aluna do 12.º ano, na Escola Secundária Francisco de Holanda, residente em Gonça, é uma das afetadas por esta incompatibilidade entre os sistemas das duas operadoras. “Onde eu vivo há poucas carreiras da Guimabus. Em alguns horários, se usasse os autocarros deles, ou chegava duas horas antes ou meia-hora atrasada. Por isso, uso a Ave Mobilidade”, esclarece. “Antes de entrarem estas duas empresas nunca tive dificuldades porque era a mesma operadora, a Arriva, que fazia os transportes urbanos e os intermunicipais”, explica.
“Deu-me duas alternativas: pagar ou sair”
Os problemas não começaram imediatamente após o início da operação das novas concessionárias: a Guimabus, em janeiro de 2022 e a Ave Mobilidade em dezembro do ano passado. Segundo esta aluna, “durante algum tempo, a Guimabus dava-nos vinhetas que serviam para comprovar a validade.” A partir do final do ano passado, todavia, a Guimabus deixou de emitir senhas para os passes gratuitos dos estudantes e “isto coincidiu com a entrada da Ave Mobilidade.” Desde essa altura, quando as máquinas da Ave Mobilidade dão erro na leitura dos passes da Guimabus, os estudantes, ou têm dinheiro para pagar o bilhete, ou ficam nas mãos dos motoristas que, frequentemente, os deixam em terra. “Nos últimos tempos, na linha que eu uso, entrou ao serviço um novo motorista que não tem tolerância, apesar de saber que somos estudantes e que temos direito ao transporte gratuito”, queixa-se.
“Aconteceu-me no dia 21 de março. Entrei, passei o passe e deu erro. O motorista pediu-me a vinheta da Guimabus, disse-lhe que eles não emitem. Deu-me duas alternativas: pagar ou sair”, conta Inês. “Numa paragem mais à frente, aconteceu a mesma coisa a dois colegas meus. Infelizmente não tinham dinheiro com eles e o motorista obrigou-os a sair”, lamenta. “A mãe de um deles teve que deixar o trabalho para os levar à escola de carro”, acrescenta.
Cansada de enfrentar a situação repetidas vezes e assumindo as responsabilidades que têm como membro da associação de estudantes da sua escola, Inês dirigiu-se à Guimabus. “Disseram-me que não davam vinhetas porque o transporte de estudantes é gratuito”, afirma. De seguida, foi à Ave Mobilidade, “informaram-me que os motoristas têm instruções para deixar viajar se o passe funcionar, caso contrário devem pedir a vinheta.” Na Ave Mobilidade disseram à jovem que “a Guimabus tem que passar vinhetas porque eles também o fazem.”
Podem pedir reembolso
Recentemente, Inês levou a questão à reunião do executivo municipal de Guimarães, dirigindo-se ao presidente da Câmara que também é o presidente da Comunidade Intermunicipal do Ave, responsável pela Ave Mobilidade. “Neste momento, o meu direito de me deslocar para a escola gratuitamente depende da vontade do motorista me deixar entrar ou não”, queixou-se.
A vereadora com o pelouro dos transportes, Sofia Ferreira, reconheceu o problema da interoperabilidade entre as duas operadoras e afirmou que está a ser desenvolvido trabalho para resolver o problema. Entretanto, a vereadora sugeriu que os alunos que se vejam obrigados a pagar os bilhetes para viajar, peçam recibos dos mesmos e os façam chegar à CIM do Ave, pedindo o reembolso.