Associação que bloqueou camionista em Espanha admite novos incidentes

A Organização de Produtores de Leite (OPL) de Espanha admitiu esta quarta-feira a possibilidade de ocorrerem novos bloqueios à entrada de leite português no país mas demarcou-se do incidente com camião cisterna, na Galiza.

“Admito que possam ocorrer novos casos porque os governos de Portugal e Espanha não fazem nada para regular o setor leiteiro. Os produtores sentem-se impotentes, têm que se defender de alguma maneira e tomam a justiça nas suas próprias mãos”, afirmou o porta-voz nacional da OPL, José Maria Alvarez.

Um camião cisterna português que transportava leite foi bloqueado, na segunda-feira, na Galiza, por produtores locais, que também derramaram o produto, informou fonte da empresa que assegurava o transporte.

Segundo fonte da administração de A Fornecedora, de Barcelos, o “ataque” registou-se na noite de segunda-feira, em Monforte de Lemos, Lugo.

A fonte escusou-se a adiantar quaisquer outros pormenores sobre o incidente.

José Maria Alvarez disse “não compactuar” com “este tipo de protesto seja contra que país for” mas afirmou “compreender” as razões que poderão ter estado na origem do incidente.

Apontou as “dificuldades de escoamento do leite” sentidas pelos produtores espanhóis causadas “pelas empresas do setor que operam em Espanha”.

“Dizem aos produtores espanhóis que há excedente de produção para justificar os baixos preços que praticam, cerca de 16 cêntimos por litro. É mentira porque essas empresas estão a importar leite de outros países, como Portugal e França”, sustentou, frisando que a OPL “não está contra a importação porque Espanha só produz 70% do leite que necessita”.

“Os produtores estão a ir à ruína e têm de fechar portas”, disse, afirmando que, em Espanha, “por dia, encerram cinco explorações de produção de leite”.

O porta-voz nacional da OPL disse “não ser contra a importação de leite” mas defendeu que “primeiro é preciso escoar o leite dos produtores espanhóis”, acusando os governos de Portugal e Espanha de “não tomar medidas para regular o setor”.

“A importação de leite tem que ser controlada. Tem de ser garantida a qualidade e quantidade de leite que entra no país. Há um vazio legal neste campo, o que deixa os produtores espanhóis desesperados e depois ocorrem casos destes”, sublinhou.

Fonte do gabinete do ministro da Agricultura referiu que “está a acompanhar o processo de identificação dos intervenientes e das circunstâncias em que ocorreu a situação”.

“Do resultado dessa diligência decorrerá, eventualmente, uma comunicação ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, no sentido de contactar as autoridades espanholas, caso se constate que houve qualquer procedimento incorreto da parte destas”, acrescentou.

Este protesto prende-se com o alegado incumprimento de normais legais na exportação de leite de Portugal para Espanha, nomeadamente no que diz respeito ao atestado de qualidade.

Em nota publicada na sua página na internet, a Associação Nacional dos Industriais de Laticínios (ANIL) acusa a Polícia Autonómica Galega de ter em curso uma campanha “sistemática e premeditada” para controlar o leite e derivados provenientes de Portugal, “com vista a desincentivar, por via administrativa, as exportações nacionais”.

“Desde maio de 2015 que a Polícia Autonómica Galega tem em curso uma campanha de controlo do leite e derivados provenientes exclusivamente de Portugal, com o pretexto de comprovar a rastreabilidade do leite que chega em camiões cisternas e embalado, para que tanto a origem como o processo de transporte e chegada ao destino cumpram com todos os requisitos legais”, acrescenta.

Aquela polícia terá levado a cabo, em 2015, um total de 109 inspeções, que resultaram em 70 denúncias.

“Alguma imprensa especializada adianta também que, em 2016, já se efetuaram 95 ações inspetivas, com controlo a 145 viaturas, das quais resultaram 5 autos por alguma irregularidade””, acrescenta a nota da ANIL.

A associação sublinha que o défice comercial de laticínios com Espanha se fixava, no final de 2017, em 165 milhões de euros.

Acrescenta que Portugal tem servido de “escoadouro” de leite excedentário que Espanha não tem capacidade para laborar, “transacionado a preços extremamente baixos, comprometendo os princípios elementares da concorrência e pondo em causa uma parte importante do tecido empresarial e das explorações leiteiras nacionais”.

“Com a colaboração da tutela, a fileira do leite tem de encontrar formas de ultrapassar este problema, que pode vir a ter graves repercussões”, alerta.

Sublinha que, “num cenário extremo, não será de excluir que ações de retaliação possam vir a acontecer, à semelhança das verificadas no setor da suinicultura, confrontado também com iguais condições de concorrência desleal”.

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