A Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade (FAPAS) advertiu, esta quarta-feira, em comunicado, que o Gerês “pode deixar de ser um parque nacional”, porque “está a ser continuamente degradado com uma totalmente errada lei da cogestão das áreas protegidas”.
O comunicado da FAPAS, intitulado “Quem quer acabar com o Parque Nacional da Peneda-Gerês?”, surge a propósito da polémica à volta da obra prevista para a chamada Cascata do Tahiti, em Terras de Bouro.
“Aguardamos a revogação ou alteração da cogestão do Parque Nacional da Peneda-Gerês, reposicionamento dos autarcas no seu lugar apropriado e nomeação de diretores de áreas protegidas, como prometido no programa deste Governo”, diz a associação ambientalista presidida pelo biólogo Nuno Gomes Oliveira.
A Câmara de Terras de Bouro pretende avançar com a obra invocando a sinistralidade na mais conhecida como a Cascata do Tahiti, mas a FAPAS está contra a obra, referindo que irá “artificializar” a área protegida.
“Segundo as montagens 3D divulgadas pela Câmara Municipal de Terras de Bouro, o que pretendem fazer é transformar um troço de paisagem natural, das mais valiosas do Parque Nacional da Peneda-Gerês, num cenário completamente artificial e de características urbanas, destruir este pedaço do parque na continuação do que já foi feito em outros locais”, alertam os ambientalistas.
“Não teremos outro parque nacional”
“Se perdermos a classificação da Peneda-Gerês, não teremos outro parque nacional em Portugal, com todo o prejuízo que isso significaria para a conservação da natureza e para as economias locais que se desenvolveram muito à custa da marca ‘parque nacional’ e para a história ficarão os nomes daqueles que, em nome de um falso desenvolvimento de um lucro imediato e de um crescimento não sustentável, contribuíram para a delapidação do nosso único parque nacional”, defende a FAPAS.
O comunicado salienta que “a confirmação de um território como parque nacional é feita pela Comissão Mundial de Áreas Protegidas (CMAP), da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) e “assenta”, entre outras premissas, “na proteção da integridade ecológica de um ou mais ecossistemas para as gerações presentes e futuras”.
Ainda segundo a FAPAS, há mais pressupostos para o Gerês, como qualquer outro parque nacional, manter tal estatuto, como “excluir a exploração ou ocupação não ligadas à proteção da área e prover as bases para que todos os visitantes possam fazer uso educacional, lúdico, ou científico de uma forma compatível com a conservação da natureza e dos bens culturais existentes”.
FAPAS aponta mais casos no Gerês
No mesmo comunicado, a FAPAS aponta ainda mais casos no território do Parque Nacional da Peneda-Gerês, que ameaçam a sua integridade, relacionados com as albufeiras, um dos quais do projeto da ‘Central Solar Fotovoltaica Flutuante de Paradela e projeto híbrido associado’, que em 24 de junho foi posto à discussão pública, até 02 de agosto.
“A FAPAS – Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade – vem expressar a sua total discordância, e defende que este projeto deve ser totalmente rejeitado e rejeitado, antes do mais, por se sobrepor parcialmente com a área do Parque Nacional da Peneda-Gerês, com a área da Zona Especial de Conservação (ZEC) Peneda-Gerês e com a Reserva da Biosfera Transfronteiriça Gerês-Xurés e Corredores Ecológicos de Entre Douro e Minho, Gerês e Cabreira”, aponta a FAPAS.
“Afeta ainda consideráveis áreas de RAN (Reserva Agrícola Nacional) e REN (Reserva Ecológica Nacional), sendo que nada justifica a ocupação de uma área protegida, ainda para mais no único parque nacional do país (e não poderemos ter outro) e área classificada pela UNESCO como de Reserva Mundial da Biosfera”, acrescenta o comunicado.
“Mas não é este o único projeto em discussão para as albufeiras do Parque Nacional da Peneda-Gerês, uma vez que desde 10 de julho e até 21 de agosto, está em discussão pública o projeto ‘Central Solar Fotovoltaica Flutuante de Salamonde e projeto híbrido associado’”, conclui a FAPAS.