Assim se vivia no Minho antes de Cristo e dos romanos

História e arqueologia do vale do Neiva

Quase todos nós, num certo momento da vida, visitámos um castro ou uma mamoa. Símbolos do passado que, quando os vemos despojados, não nos dizem grande coisa. Em Barcelos, uma associação em conjunto com um grupo de arqueólogos conseguiu recriar com bastante precisão o que ocorria nesses tempos, com um “jantar ritual castrejo” e uma oferenda à deusa Nábia, nome que terá ‘batizado’ o rio Neiva.

O propósito da recriação surgiu para comemorar o Dia Internacional da Arqueologia, celebrado em julho, mas só agora assinalado no terreno pela impossibilidade de realizar fogueiras em espaço florestal durante o verão.

Dessa forma, no passado dia 24 de setembro, cerca de 50 pessoas deslocaram-se até ao vale do Neiva, entre Durrães e Barroselas (Viana do Castelo) e entraram num ‘buraco espaço-temporal’ imaginário, regressando mais de 2.200 anos na história da humanidade, até ao auge da “Idade do Ferro”, quando o Império Romano ainda não tinha conquistado o noroeste da Península Ibérica e a nossa cultura ainda era a deixada por tribos pagãs ao longo de séculos.

Foto: Ajcnovo

Arqueólogos prepararam ritual e menu 

Mas vamos por partes. A Associação Lírio do Neiva, sediada em Durrães, concelho de Barcelos, todos os meses promove um evento, de nome “Encantos”, onde é comemorado um dia específico desse mês que assinale alguma efeméride ou promova alguma profissão. Decidiram, então, convidar um grupo de arqueólogos da freguesia, entre os quais Andreia Silva, que explicou a O MINHO alguns dos pormenores recriados. Colaboraram também elementos do Grupo Cénico do Lírio do Neiva, a Casa do Povo, o Grupo de Estudos Históricos do Vale do Neiva (GEN), o Centro Social de Durrães, a Escola EB de Durrães e a Junta da U.F. de Durrães e Tregosa.

Por entre o hidromel, bebida bastante popular no período em que a sociedade aprendeu a manusear os metais, e uma visita guiada ao Castro dos Castelos, em Durrães, um povoado com cerca de 2.400 anos, os participantes foram brindados com um ritual e com um jantar daquele tempo, na Levada das Pesqueiras, um local com um cenário idílico situado entre os concelhos de Barcelos e Viana do Castelo, no rio Neiva.

Foto: Ajcnovo
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Oferta à deusa Nábia, a ‘padroeira’ do Neiva

“Normalmente associada ao culto da água, dos vales e das montanhas, há indícios de que esta divindade pagã deu o nome ao rio Neiva”, considera Andreia Silva. E porque antes de comer é necessário alimentar os deuses, a oferenda, enunciou a O MINHO, consistiu na oferta de um naco de carne, de forma a que as próximas temporadas de caça sejam prósperas para os minhotos. Este tipo de oferta, acreditam os investigadores e arqueólogos, era muito comum na época.

Questionada sobre a escolha da deusa, Andreia Silva explicou que Neiva vem de Nábia: “Era uma deusa que se adorava neste vale, tanto que existem provas nas escavações feitas em Durrães onde foram encontrados objetos dedicados à deusa Nábia, por isso está mais que provado que era adorada nestas zonas”.

Foto: Ajcnovo
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Após a encenação, que foi recriada com bastante pormenor, seguiu-se o jantar da Idade do Ferro, “com as técnicas e os produtos que existiam na época”, para depois ser apresentado o livro “Warkânu – Tribos Ancestrais de Portugal”, pelos autores Manuel Silva e André Costa.

O que se comia na época

No jantar foram cozinhados os produtos que se utilizavam na época. E como se sabem quais são? Muita pesquisa, explica Andreia. “A seleção foi feita por arqueólogos para que o jantar fosse recriado da forma mais precisa. Para isso consultei bibliografias e estudos das sementes que existiam na altura e que foram recolhidas durante as escavações nos castros”, explica.

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Assim, o menu consistiu em pão de bolota com manteiga, caldo com cebola, cenoura, aveia e favas, um prato com carne de vaca, milho miúdo, (milé) com ervas aromáticas, carne de vaca grelhada, cogumelos e maçã.

A carne foi confecionada com as técnicas da altura, com a carne a ser grelhada em cima de seixos do mar que eram colocados diretamente na fogueira.

Foto: Ajcnovo
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A sobremesa foi requeijão com frutos secos e mel.

Uma viagem no tempo

Andreia Silva revela que todo o Jantar Ritual Castrejo procurou ser uma viagem no tempo, ao período anterior à chegada dos romanos ao Noroeste Peninsular, ou seja, antes da era de Cristo. “Foi uma oportunidade para perceber como viviam, comiam e pensavam os povos que habitavam os castros”, disse.

Além do jantar, foram desenvolvidas várias oficinas (olaria, arte rupestre, tecelagem) dirigidas aos mais novos e aos adultos que quisessem aprender mais sobre a história dos seus antepassados.

Foto: Ajcnovo
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O evento teve apoio da Câmara Municipal de Barcelos, da Junta de freguesia da U.F. de Durrães e Tregosa, do Grupo de Estudos Históricos do Vale do Neiva (GEN), da Casa dos Nichos (Viana do Castelo) e do Gabinete de Arqueologia da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão.

 
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