Braga é rica em tesouros fechados à generalidade da população, como o sistema hidráulico setecentista, subterrâneo, que distribuiu a água das minas nas Sete Fontes para o centro urbano de Braga. A água que jorra das minas prossegue por condutas graníticas até encontrar a última mãe d´água. Depois entranha-se no canal. Este prosseguia até à “Caixa das Águas” no Centro Histórico, mas foi destruído ou interrompido no decorrer da modernidade. A Junta de Freguesia de São Vítor aguarda um plano diretor para o Monumento, a fim de organizar visitas diariamente.
O tempo seco, pouco chuvoso, permite visitar o sistema hidráulico das Sete Fontes renovado e ampliado por D. Rodrigo de Moura Telles e D. José de Bragança, durante a primeira metade do século XVIII. A extração de água do subsolo das Sete Fontes remonta ao século IV e ao império romano. O miolo do Monumento Nacional está fechado à generalidade do público, mas a visita pode ser agendada com a Junta.
Ricardo Silva, presidente da freguesia de São Victor e arqueólogo de formação, apresenta pedaços côncavos e argilosos que vai armazenando dentro de mães d´água edificadas ao longo do traçado das Sete Fontes, como fragmentos de telhas romanas.
“O mais importante, neste momento, é definir um plano diretor ao monumento. É muito diferente suportar 20 pessoas a caminhar sobre as canalizações ou suportar 1.500”, afirma Ricardo Silva sobre o enquadramento do monumento no projeto de urbanização das Sete Fontes. “Mais cedo ou mais tarde as galerias deste monumento vão ter que estar abertas ao público. Mas, primeiro, é preciso elaborar um estudo a fim de perceber como poderá reagir a estrutura”, acrescenta o autarca.
As mães d´água são tanques esculpidos no granito, em meia-lua, que acolhem e fluem a água proveniente das condutas. Estão assentes no solo das construções barrocas e encarnadas, que simbolizam as Sete Fontes. A pressão atmosférica é fundamental para a água circular pelo sistema o que justifica os respiros das minas.
O sistema hidráulico dever-se-ia prolongar, segundo a Direção Geral de Património e Cultura, por mais de 3.500 metros, alcançando os 12 metros de profundidade. A água proveniente das Sete Fontes encontrava repouso na Caixa Geral das Águas, na Avenida Central.
O bem “precioso” era canalizado do subsolo das Sete Fontes para a rua do Areal, depois para o Largo de Monte d’Arcos, a Rua de São Vicente, a Rua dos Chãos com término no atual Largo de São Francisco.
A manutenção do Monumento Nacional é responsabilidade da AGERE. Dois funcionários, denominados “aguadeiros”, limpam as canalizações e o mato que cresce no exterior do monumento. Por vezes, é necessário abrir o canal a fim de limpar raízes que impedem a circulação da água. Partem a pedra de repouso, retiram as raízes do interior do canal e voltam a cimentar o buraco.
Estudo arqueológico do sistema de captação de água das Sete Fontes
O Município de Braga, para satisfazer as condicionantes arqueológicas impostas pela Direção Regional de Cultura Norte, promoveu, entre 2012 e 2015, o Estudo Prévio do Plano de Pormenor das Sete Fontes, com trabalhos arqueológicos de levantamento, sondagens e acompanhamento realizados na área do Sistema de Captação de Água das Sete Fontes.
Na síntese do estudo arqueológico elaborado pela Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, e disponibilizado pela Câmara de Braga, lê-se: “a análise da estratigrafia construtiva permitiu estabelecer a sequência evolutiva do sistema de captação de água das Sete Fontes, confirmando-se a sua origem em época romana, o seu reforço em época medieval e a sua plena consolidação no decurso do século XVIII, relevando aqui o projeto de renovação e acrescentamento promovido por D. Rodrigo de Moura Teles e pelo Senado da Câmara de Braga entre 1704 e 1741”.