Um infusor de rede para fazer chá ou cozer alimentos, um ralo de lava loiça são exemplos de utensílios com os quais uma artista de Viana do Castelo cria peças inspiradas nas festas da Agonia e no traje regional.
“Na criação das minhas peças de joalharia contemporânea ou nos acessórios de moda utilizo os mais diferentes materiais. Tudo o que encontro no meu quotidiano serve para criar ou materiais como a lã, o acrílico ou os metais”, afirmou hoje a artista plástica Fernanda Vilas Boas.
O infusor de rede, em forma de esfera e feito de alumínio utilizado para fazer chá, cozer arroz ou legumes e o ralo de lava loiça compõem duas das peças de joalharia contemporânea inspiradas nos gigantones e cabeçudos, este ano o tema escolhido para o cortejo histórico-etnográfico da Romaria d’Agonia, que vai decorrer de 19 a 21 de agosto.
“A riquíssima cultura vianense, que das vestes coloridas aos objetos de enfeite, do ‘glamour’ do campo ao perfume do mar, me faz despertar um saudável inconformismo, é o mote desta exposição”, disse, referindo-se a mostra intitulada “Chieira” (termo minhoto que significa orgulho) que inaugura sábado, às 10:00, no Museu do Traje, em pleno centro da cidade.
A exposição coletiva incluiu ainda a nova coleção de vestuário de uma criadora local, Sofia Araújo, que inspirada nas tradições da cidade criou a marca “Biana” em parceira com o fotógrafo Vítor Roriz.
Os colares criados a partir de utensílios domésticos por Fernanda Vilas Boas fazem parte dos trabalhos de joalharia contemporânea, que incluem brincos, pulseiras e outros adornos e acessórios como uma carteira confecionada com o mesmo material, jornais e cola, com que são feitos os gigantones e cabeçudos, figuras humanas grotescas que acompanham os grupos de bombos, emblemáticos das festas da cidade.
“Adoro trabalhar o património local. Viana é a minha terra natal e é um orgulho muito grande para mim fazer trabalhos inspirados nessa temática”, afirmou a artista de 52 anos que também faz escultura.
O traje à Vianesa, a filigrana, o coração de Viana e a cerâmica são também elementos do património da cidade utilizados nos sapatos e carteiras que Fernanda Vilas Boas preparou para a exposição, a primeira coletiva em que participa.
“Reinventar as obras-primas de uma herança que tanto me orgulha é apenas adicionar de forma permanente, a autenticidade das evocações à sua identidade”, sublinhou.
Há mais de três anos que a professora de Artes Visuais expõe o seu trabalho sem intenção de o comercializar.
“São peças únicas que não quero vender. Faço uma ou outra cópia, porque me pedem e só são vendidas no Museu do Traje”, explicou.
Na exposição a inaugurar no sábado, Fernanda Vilas Boas assina ainda uma instalação artística.
“É um vídeo em 3D sobre as contas, peça em ouro dos colares usados pelas mordomas e lavradeiras desde que nascem”, adiantou.
A exposição da criadora Sofia Araújo inclui cerca de 40 peças de vestuário com cerca de 30 imagens do fotográfico Vítor Roriz que retratam as festas, o traje e o património de Viana do Castelo.
“Esta coleção é mais rica que as anteriores até pela responsabilidade de expor no Museu do Traje. Alarguei o leque de temas que usei nas peças como por exemplo o estuque e os azulejos e reforcei o cuidado com os acabamentos e tecidos”, explicou a empresária.
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