Um painel de azulejos de homenagem ao músico Nelson Vilarinho, por Mário Rocha, é um dos pontos altos da 20.ª edição da Arte na Leira que começa, no sábado, na aldeia de Arga de Baixo, em Caminha.
“É um painel com 1,8 metros de altura e 2,7 de comprimento, em alto-relevo onde quero mostrar a forma como Vilarinho de Covas, como é conhecido localmente, tocava a concertina. A forma como colocava o corpo, as expressões do rosto sempre me impressionaram”, explicou hoje à Lusa o pintor Mário Rocha, mentor da exposição lançada em 1998, e por onde já passaram mais de 500 artistas.
O painel está exposto na parte exterior da Casa do Marco, propriedade de Mário Rocha, sendo composto por várias dezenas de azulejos, em alto-relevo, pintados pelo próprio artista.
Vilarinho de Covas (1929-2013) era natural do concelho vizinho de Vila Nova de Cerveira e frequentava a mostra Arte na Leira, em plena serra d’Arga, sendo “considerado um dos melhores tocadores de concertina do Alto Minho”.
“Amigo do Pedro Homem de Melo, acompanhou o poeta por diversas vezes e levou o som da sua concertina além-fronteiras”, explicou.
Além daquela homenagem, Mário Rocha vai mostrar, pela segunda vez, a coleção “Olhares de Covas”, 15 imagens, em cerâmica, de rostos de pessoas da freguesia de Covas, em Vila Nova de Cerveira.
“Foi naquela freguesia que teve lugar a grande exploração de volfrâmio do século XX, aproveitando a oportunidade de negócio que o conflito armado, a Segunda Guerra Mundial, oferecia. Alguns trabalhadores eram de Covas, outros oriundos de freguesias periféricas, como o meu pai, que se deslocava da freguesia da Abelheira, em Viana do Castelo, para trabalhar na exploração mineira. Por conseguinte, foi, durante a minha infância, que ouvi as primeiras histórias sobre as gentes de Covas”, contou.
Vídeo: Município de Caminha
A 20.ª edição da Arte na Leira vai ser inaugurada, no sábado, às 18:30, na Casa do Marco, em Arga de Baixo, em Caminha, transformando a aldeia numa galeria ao ar livre, onde mais de 40 artistas vão expor os seus trabalhos, em pleno espaço rural.
“Este ano temos uma mostra mais rica mas não por serem os 20 anos. Para nós são sempre 20 anos. Trabalhamos sempre com o mesmo carinho. A Arte na Leira é sempre especial. A ideia é fazer, sempre, bem feito”, disse o pintor.
Para o presidente da Câmara de Caminha, citado numa nota da autarquia, “há 20 anos, a ideia de levar a arte moderna para o coração da serra d’Arga era algo que só podia ocorrer aos artistas”.
No ano em que assinala as duas décadas, concluiu, o projeto Arte na Leira “está hoje completamente consolidado, tem condições para crescer e o seu mentor, Mário Rocha, saberá abrir novos caminhos”.
A iniciativa, que se realiza até 19 de agosto e que conta com o apoio da Câmara Municipal de Caminha, inclui trabalhos de pintura, escultura, tapeçaria, desenho, cerâmica e fotografia.
Concertos e recitais de música de câmara, gastronomia típica da região e fogo-de-artifício completam o programa de abertura da mostra e venda de peças de arte, em iniciativas distribuídas pelos vários espaços da propriedade do pintor Mário Rocha, numa aldeia em que atualmente habitam menos de cem pessoas.