Os arquitetos portugueses Alberto Castro Nunes e António Maria Braga, vencedores do Prémio Rafael Manzano, defendem que “a forma mais correta” de fazer arquitetura é em pequena escala, com materiais naturais, e integrada na paisagem.
Os dois arquitetos foram distinguidos na última semana com o Prémio Ibérico de Arquitetura Tradicional Rafael Manzano, considerado o maior prémio de arquitetura da Península Ibérica, organizado pela International Network for Traditional Building Architecture and Urbanism (INTBAU).
O prémio, no valor de 50.000 euros, que será entregue na quinta-feira, numa cerimónia em Madrid, Espanha, foi criado pelo filantropo norte-americano Richard H. Driehaus, que tem especial admiração pela arquitetura da Península Ibérica.
Em declarações à agência Lusa durante um encontro dos premiados com o mecenas Richard H. Driehaus, ambos reiteraram convicções em defesa da construção sustentável que mantêm desde o início de uma carreira com cerca de quarenta anos.
“Este prémio é o reconhecimento de uma carreira que tem uma forma de encarar a arquitetura mal vista pelo sistema dominante”, disse Alberto Castro Nunes à Lusa.
Para os arquitetos – autores de projetos como a Cinemateca Portuguesa, em Lisboa, e os Julgados de Paz de Vila Nova de Foz Côa – o advento do betão veio alterar a forma de construir para pior, já que “a sua produção utiliza energias fósseis e a durabilidade não chega nem aos cem anos”.
Recordaram que muita da construção antiga, desde o tempo da civilização grega e romana, tinha nas suas componentes uma argamassa à base de cal que se revelou de grande durabilidade.
“Somos poucos a fazer a arquitetura tradicional e a construir de forma ecológica, em equilíbrio com a natureza e com materiais locais”, resumiu.
Os dois arquitetos disseram à Lusa que a sua visão sobre a melhor forma de fazer arquitetura “foi mudando, mas manteve-se na sua essência, e até se tornou mais radical”.
Cal, tijolo e madeira são os materiais de eleição dos arquitetos premiados, licenciado nos anos 1980, cujo trabalho continua a sustentar-se no princípio fundamental de que “a arquitetura deve estar em harmonia com o meio”.
No encontro com os premiados, o mecenas norte-americano Richard H. Driehaus mostrou-se preocupado com a qualidade do urbanismo e sustentabilidade da construção em todo o mundo.
“A construção em betão consome muita energia e está a tornar-se igual em todo o lado. O meu medo é que mais e mais cidades estão a perder a sua identidade, e parecem-se com outras de qualquer lugar”, comentou.
Alberto Castro Nunes e António Maria Braga foram premiados “pelo seu forte compromisso em preservar as tradições arquitetónicas portuguesas”, segundo um comunicado divulgado pela organização, quando da divulgação do prémio.
“O uso de materiais naturais e técnicas de construção que moldam a identidade de cada lugar”, nos projetos dos dois arquitetos, também foi valorizado pelo júri internacional.
“As suas obras são caracterizadas por durabilidade, sustentabilidade e beleza. Cada uma constitui um verdadeiro manifesto de respeito pela cultura local, da recuperação do equilíbrio com a natureza e a dedicação à comunidade”, justificou o júri.
O Prémio Rafael Manzano de Nova Arquitetura Tradicional foi criado em Espanha em 2012 e, em 2017, foi instituído em Portugal através da parceria com a Fundação Serra Henriques, sob o Alto Patrocínio do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Paralelamente, o The Richard H. Driehaus Charitable Lead Trust criou um concurso para apoiar a recuperação do património em pequenas localidades e um prémio para dar visibilidade a mestres e ofícios da construção tradicional.
Estas iniciativas já totalizam donativos na ordem dos dois milhões de euros, segundo a organização.
Na quinta-feira, 17 de outubro, terá lugar a entrega do prémio aos vencedores na Real Academia de Belas Artes de San Fernando, em Madrid, Espanha.