Outrora local de venda de nabos, grelos ou peixe, o antigo mercado municipal de Braga foi convertido em “mercado cultural”, sendo hoje palco de música, teatro e dança e destino de “peregrinação” de arquitetos de todo o mundo.
“É uma obra de referência da arquitetura portuguesa contemporânea”, sublinha Miguel Bandeira, vereador do Urbanismo na Câmara de Braga.
O projeto inicial do mercado foi assinado por Eduardo Souto Moura, arquiteto que também riscou as obras de readaptação a novas funções.
No local, continuam de pé os pilares do antigo mercado, com os cabos de aço de fora, que surpreendem os mais incautos, havendo mesmo quem questione se não houve dinheiro para terminar a obra.
Intocáveis permanecem igualmente as escadas do antigo mercado e os muros de pedra trabalhada que testemunham a funcionalidade agrícola daqueles terrenos, em tempos idos.
Com a intenção de “manter o testemunho da preexistência”, Souto Moura projetou ainda um espaço para eventos culturais temporários, construindo uma nova bancada e um expositor à semelhança da banca do peixe.
Segundo Miguel Bandeira, o novo mercado cultural tornou-se num lugar “de visita permanente e frequente” de escolas de arquitetura “e de todos quantos se interessam pelo património”.
“É um ícone da atratividade patrimonial de Braga”, sublinha.
A transformação do velho mercado municipal em mercado cultural já foi premiada pelo Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana.
Desenhado nos anos 80 do século XX por Souto Moura, o Mercado do Carandá foi construído no coração de Braga, mas foi progressivamente ficado “abafado” por vários equipamentos que nasceram à sua volta, de que se destacam uma escola, um centro de saúde e a mais conhecida discoteca da cidade.
A zona registou, igualmente, um grande crescimento imobiliário.
A câmara decidiu, por isso, reinstalar o mercado noutro local e criar ali um polo de cultura, onde pontificam um grupo de teatro, uma escola de dança e uma companhia de música.
“Ficámos com aquele que é, seguramente, o auditório de Braga com melhor acústica”, atira o diretor daquela escola de música.
Jónatas Pego testemunha que o novo mercado cultural se transformou num autêntico local de culto de arquitetos.
“Todos os meses, temos autocarros de arquitetos de países como Itália, Japão, Suíça ou França. Além disso, numa base praticamente semanal, temos aqui um ou dois arquitetos de vários pontos de Portugal. Ficam encantados. Olham, soltam um ‘ah’ de admiração, tiram fotografias”, conta.
Apesar se tudo isto, e como admite o vereador do Urbanismo, esta poderá não ser ainda a “versão definitiva” do novo-velho mercado.
“O projeto vai-se adaptando sos tempos e às necessidades. Diria que estamos ainda perante uma obra em curso”, refere o Miguel Bandeira.