São Pedro de Rates é desde esta Quinta-Feira Santa o padroeiro secundário da Arquidiocese de Braga, restabelecendo-se assim a sequência, não só canónica, como histórica, de todo o seu percurso, figurando agora logo a seguir a São Martinho de Dume.
São Pedro de Rates foi o primeiro bispo de Braga, então ainda bispado, que não arcebispado, pelo que a sua consagração como padroeiro secundário da Arquidiocese de Braga foi muito bem recebida pela Cúria de Braga e em toda a estrutura eclesiástica.
São Pedro de Rates, segundo a tradição canónica, foi o primeiro bispo de Braga, entre os anos 45 e 60 da Era Cristã, sendo como ordenado prelado pelo Apóstolo Santiago, que por sua vez oriundo da Terra Santa, acabaria martirizado quando convertia ao Cristianismo povos praticantes do culto da religião romana, evangelizando ao longo do Norte do atual território português.
Segundo reza a tradição cristã, o Apóstolo Santiago, um dos apóstolos de Cristo visitou o noroeste da Península Ibérica no ano de 44 Depois de Cristo e durante a sua visita à cidade de Braga, então a capital da Galécia, o Apóstolo Santiago ordenou São Pedro de Rates como Bispo, tornando-se o primeiro o primeiro bispo da nova Diocese de Braga a partir de 45 Depois de Cristo.
Séculos mais tarde, soube-se que São Félix, o Eremita, pescador da Vila Mendo, na Freguesia da Estela, do concelho da Póvoa de Varzim, tinha-se retirado para o Monte da Serra de Rates, quando haveria de fazer uma descoberta que ficou para a história.
São Félix observou uma luz na escuridão todas as noites a partir do monte e certo dia, cheio de curiosidade, tentou saber os motivos da luz celeste, tendo então sido surpreendido com a descoberta do corpo de São Pedro de Rates, segundo diz a história.
A descoberta do corpo de São Pedro de Rates teve imediata veneração dos populares e deu origem à construção da Igreja de São Pedro de Rates, onde esteve sepultado até 1552, quando o corpo foi transladado para um túmulo na Sé Catedral de Braga.
Ao longo dos séculos São Pedro de Rates foi padroeiro da Arquidiocese de Braga, até 1985, mas esta semana a Santa Sé sob a proposta da Arquidiocese de Braga, para ser incluído como santo local, em São Pedro de Rates, no Santoral Bracarense, aceitou a proposta, mas foi mais longe, atribuindo-lhe agora a designação de padroeiro secundário da Arquidiocese de Braga.
Roberto Rosmaninho despoletou processo
O processo canónico que agora culminou com São Pedro de Rates enquanto padroeiro secundário da Arquidiocese de Braga, foi iniciado por Roberto Rosmaninho Mariz, então cónego, numa altura em que este prelado ainda não contava vir a ser bispo.
Roberto Rosmaninho explicou a O MINHO que tudo começou quando passou “a integrar o Cabido da Sé de Braga em 2011, como cónego, tendo a partir desse momento a ter mais presença na Sé Catedral devido a todas as suas celebrações inerentes”.
“Deparando-me mais atentamente com as imensas referências a São Pedro de Rates, desde logo na entrada da Catedral, debaixo do coro alto, túmulo, relíquias, conversei com o arcebispo de então, D. Jorge Ortiga, sobre esta realidade”, revelou.
“Mesmo com as reservas históricas, porque a Arquidiocese de Braga tinha deixado cair a relevância de São Pedro de Rates, após ser padroeiro durante tantos séculos e com tantos elementos alusivos?”, questionou o atual bispo.
“D. Jorge Ortiga concordou e decidiu que na revisão do Santoral da Arquidiocese faria a indicação para que fosse recuperado como santo com devoção local, em São Pedro de Rates, o que nos deixou logo muito felizes”, ainda de acordo com Roberto Rosmaninho.
“Entretanto, D. José Cordeiro, ao entrar já como arcebispo de Braga, também estranhou essa retirada total da formalidade da incorporação de São Pedro de Rates, até por ter sido padroeiro da Arquidiocese ao longo de tantos séculos”, acrescenta.
“Na articulação com a Santa Sé, para a aprovação do novo Santoral da Arquidiocese de Braga, pelo que me referiu, na Santa Sé sugeriram a solução de São Pedro de Rates ser colocado como padroeiro secundário da Arquidiocese de Braga, o que agora aconteceu, isto é, mais do que até esperávamos, que era a sua aceitação de incorporação no Santoral Bracarense como santo de devoção local, mas passou a padroeiro secundário da Arquidiocese de Braga, o que dá outra relevância”, explica.
Questionado por O MINHO acerca da sua tarefa para que se tivesse chegado até esta consagração, através da diplomacia de veludo da Igreja Católica, Roberto Rosmaninho Mariz respondeu que foi “só uma interpelação e estímulo neste processo”.
Roberto Rosmaninho Mariz, de 50 anos, nasceu no dia 13 de janeiro de 1974, na Paróquia de São Pedro de Rates, do concelho da Póvoa de Varzim, em pleno Arciprestado de Vila do Conde/Póvoa de Varzim, que é por sua vez da Arquidiocese de Braga.
Ordenado bispo auxiliar do Porto, na Sé Catedral de Braga, em 23 de julho de 2023, além de natural de São Pedro de Rates e fervoroso peregrino do Apóstolo Santiago, desde criança habituou-se a ver os peregrinos que passam o Caminho Central de Santiago pela Igreja de São Pedro de Rates, uma vila poveira onde existe o famoso abrigo de peregrinos.