Marta Alves, de Arcos de Valdevez, está a fazer uma corrida contra o tempo de câmara fotográfica na mão. Anda pela sua freguesia, Prozelo, a fotografar os rostos trabalhadores (e cada vez mais envelhecidos) dos que ainda permanecem agarrados à terra. “Tenho receio que quando estas pessoas desaparecerem as coisas fiquem abandonadas”, atira.
A fotógrafa está a desenvolver o projeto documental “Ó gente da minha terra”, em que fotografa e conta a história de vida de pessoas da sua freguesia. Publica nas redes sociais, mas espera que um dia este projeto vire uma exposição e, quem sabe, um livro.
Há uma semana partilhou a história do Cristóvão e da Sofia, dois jovens irmãos que são um “caso raro”. “São os únicos jovens na minha freguesia que ainda trabalham na agricultura”, conta a fotógrafa de 29 anos a O MINHO. A maioria foi “para fora”. Uns trabalhar, outros estudar e depois, como Marta, por lá ficam.
Cristóvão e Sofia são diferentes. “Nós gostamos disto. Há poucos jovens que querem esta vida, mas nós vamos continuar a fazer o que nos faz feliz”, contou Sofia, citada por Marta Alves, no texto que acompanha as fotografias.
Para lá da juventude que resiste, Marta mostra a senhora Lurdes que ainda lava a roupa à mão no lavadouro, a senhora Ermelinda que coze o pão no forno a lenha ou a “Laidinha” que tem “sempre que fazer”. Pessoas “muito genuínas” e “generosas”. “Fui fotografar a senhora do pão, ela deu-me farinha, no outro dia deram-me batatas”, relata.
São histórias simples contadas em fotografias tiradas por uma admiradora de Artur Pastor ou do espanhol Vicente Fraga, dois fotógrafos que têm obra dedicada à vida rural.
Para Marta Alves, esta é uma forma de homenagear as pessoas da sua terra, mas também de “chamar a atenção para valorizarmos as nossas tradições”.
Pelo meio recebe “muito carinho” e uma desculpa para voltar a casa. Depois de ter estudado na Universidade do Minho, em Braga, vive agora em Matosinhos, mas nunca perdeu as ligações à terra natal. “Sou muito ligada aos Arcos e às pessoas de lá”, explica.
Marta Alves trabalha na área da Comunicação e dedica-se à fotografia enquanto ‘freelancer’, dinamizando também ‘workshops’. Como O MINHO noticiou, em 2022, ganhou um prémio com uma fotografia que tirou à tia-avó de 99 anos.
“Quando vou aos Arcos aproveito para fotografar. As pessoas conhecem-me, sabem de quem sou filha, mas é raro estar lá”, diz. Por isso, não hesita em se perder na conversa com as suas conterrâneas.
Começou no início do mês a partilhar este seu projeto “Ó gente da minha terra” e no futuro quer mostrar tudo numa exposição. Enquanto isso vai colecionando histórias de pessoas antigas, mas que, garante, “têm um espírito muito novo”.