O presidente da Câmara de Arcos de Valdevez anunciou esta quarta-feira o início do processo de classificação da aldeia de Sistelo como Paisagem Cultural, como forma de “preservar e valorizar” os socalcos de produção agrícola, “únicos no país”.
“Esta classificação é fundamental para reconhecer a importância da paisagem, da relação do homem com a natureza e a forma como a moldou”, afirmou o autarca João Manuel Esteves.
O social-democrata adiantou que através daquela classificação, que espera ver concretizada “em meados de 2016”, os socalcos agrícolas daquela aldeia, que classificou “de uma beleza única e espetacular”, serão “preservados e valorizados, aumentando a sua atratividade turística através da captação de novos investimentos”.
“Nesta altura já estão a surgir naquela área projetos de turismo em espaço rural”, afirmou.
A abertura do processo de classificação da aldeia de Sistelo como Paisagem Cultural foi publicada em Diário da República no passado dia 10, “numa iniciativa da autarquia junto da Direção Regional de Cultura Norte, que colheu agora a validação superior Direção Geral do Património Cultural”.
Segundo o autarca, trata-se “da primeira classificação do género, uma vez que parte de iniciativa exclusiva de agentes nacionais, sendo que as outras quatro existentes são classificadas pela UNESCO”.
A área agora considerada para classificação “abrange um alargado espaço de inigualável qualidade ambiental e natural, vizinho do único parque nacional, o Parque Nacional da Peneda Gerês (PNPG) “, mas também portador de um notável património etnográfico e histórico, marcado por centenas de anos de ocupação humana que moldaram a paisagem, com destaque para os singulares e excecionais socalcos de produção agrícola, únicos no país, e que valeram já a Sistelo uma outra classificação informal, a de pequeno Tibete português”.
Aquela classificação vai ainda permitir, realçou o autarca de Arcos de Valdevez, “a valorização do rio Vez e afastar qualquer interferência na sua beleza e efeitos na paisagem envolvente”.
Em setembro último aquela Câmara anunciou o parecer desfavorável da Secretaria de Estado do Ambiente à construção de uma barragem no rio Vez, em Sistelo, pelo impacte negativo que o projeto provocaria.
Na altura, a autarquia disse que a decisão da Secretaria de Estado do Ambiente foi sustentada num parecer emitido pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
Em causa está um projeto de Aproveitamento Hidroelétrico (AHE) de Sistelo, que prevê a construção de uma central na margem direita do rio Vez, em Sistelo, para produção de energia elétrica, a qual será posteriormente injetada na Rede Elétrica Nacional através de uma linha área com seis quilómetros de extensão.
O projeto, orçado em 12,5 milhões de euros, é da empresa Hidrocentrais Reunidas, e esteve em consulta pública de 11 de maio a 05 de junho, após ter sofrido algumas alterações, depois de em 2007 não ter avançado após ter recolhido parecer condicionado.
Aquele projeto foi fortemente contestado pela população daquela aldeia de Arcos de Valdevez por considerar que a míni hídrica “vai trazer impactos negativos na paisagem, na qualidade da água, e no património”.