Milhares de pessoas encheram as ruas de Guimarães, na noite passada, para participar ou ver passar o cortejo do Pinheiro que marca o início das Nicolinas, as festas dos estudantes do ensino secundário vimaranenses. Depois de dois anos sem que este número, o mais popular das festas, pudesse realizar-se, as pessoas saíram para a rua em massa.
O Pinheiro saiu, como é habitual, das Cancelas da Veiga, quando eram 23:00, depois de ter sido cortado pela manhã de terça-feira, em Aldão, na presença dos elementos da Comissão. Há mais de 80 anos que a mesma família oferece a árvore que a cada ano serve de mastro indicativo das festas em honra de São Nicolau. A temperatura, tendo em conta que o inverno está à porta, estava boa e a chuva não apareceu, por isso, reuniram-se as condições para uma grande Noite do Pinheiro.
Albano Costa espera pela passagem do cortejo na beira do passeio e vai ensaiando o toque. Ao cimo da rua, a elevação da “boneca” acima das cabeças assinala a aproximação da frente do cortejo. “Vim só para ver, com a família, os filhos principalmente estão sempre prontos para vir”, afirma. Ao seu lado um menino e uma menina, ele com sete, ela com dez anos, também com as suas caixas. A dela, igual à dos adultos, a do menino, adaptada ao tamanho. “Ela já sabe o toque, ele ainda é um bocado desalinhado”, ri-se o pai.
Nesta noite, ficamos com a sensação de que, em Guimarães, todas as pessoas têm uma caixa ou um bombo. De facto, mesmo quem não vai no cortejo está equipado e faz a festa na berma ou no passeio. Até nas ruas mais afastadas e nas praças do Centro Histórico, quando o Pinheiro ia no Toural ou na Alameda, se viam grupos a tocar. Na falta da “boneca” cabeluda original, os “chefes de bombos” improvisam, enfiando um garrafão de vinho numa vassoura para imitar os gestos que mantêm as caixas e os bombos (ou zabumbas) afinados.
Alguns regressam nesta altura para rever familiares e amigos
Na frente do cortejo, um Velho Nicolino, com a caixa às costas, crítica. “Estes aqui estão a tocar corretamente”, apontando para a frente do cortejo, “aqueles ali já não”, referindo-se a quem está no passeio. A verdade é que o Pinheiro deixou de ser uma festa só dos estudantes e é verdadeiramente uma celebração de toda a cidade de Guimarães. Neste dia, vimaranenses que estão espalhados por todo o mundo regressam à cidade onde cresceram e estudaram para reviver a festa da estudantada. Ao jantar, todos os restaurantes estão cheios, alguns com marcações de grupos que ficam feitas de um ano para o outro. Comem-se rojões e grelos da época e empurra-se com vinho tinto verde.
As Nicolinas são um motivo para rever amigos e familiares, mas também uma festa de excessos. Os Bombeiros Voluntários de Guimarães sabem-no bem e estiveram de prevenção nesta noite, em que foram reforçados pela corporação das Taipas. Este ano tiveram de socorrer 16 pessoas em situação de intoxicação por ingestão de bebidas alcoólicas.
Depois de erguido o Pinheiro, às 02:00, o presidente da Comissão de Festas Nicolinas 2022, José Paulo, lembra que “o Pinheiro é o mastro anunciador das Festas, mas temos outros números muito bonitos”. As Nicolinas continuam com as Posses e o Magusto (dia 04), a Missa e o Pregão (dia 05), as Maçazinhas e as Danças de São Nicolau (dia 06) e o Baile Nicolino (dia 07).
Como habitualmente, as Roubalheiras acontecem sem pré-aviso. Neste número, os estudantes furtam artigos diversos de casas particulares e estabelecimentos que depois depositam no largo do Toural. Na manhã seguinte, quem vai para o trabalho pode deparar-se com itens tão estranhos como uma baliza ou uma vaca em pleno centro da cidade.