O ministro dos Negócios Estrangeiros disse hoje, em Bruxelas, que um eventual apoio militar da China à Rússia seria “extremamente negativo” e colocaria Pequim “numa luz completamente diferente” no que respeita as relações com a União Europeia (UE).
“Nós não temos nenhuma informação que nos permita dizer que a China vai fazer isso. A China tem dito que não apoia militarmente a Rússia e a nossa convicção é que a China deve manter a sua palavra”, começou por comentar João Gomes Cravinho, à saída de uma reunião dos chefes de diplomacia da UE.
E prosseguiu: “Seria extremamente negativo se a China apoiasse a Rússia militarmente, e obviamente colocaria a China numa luz completamente diferente no que toca às relações com a União Europeia”.
Hoje de manhã, à entrada para o Conselho de Negócios Estrangeiros, ao qual preside, o Alto Representante da UE para a Política Externa e de Segurança, Josep Borrell, afirmou que já transmitiu a Pequim que o eventual fornecimento de armas à Rússia constituiria “uma linha vermelha” para a UE.
Borrell revelou que teve “uma longa conversa” com o diretor do Gabinete da Comissão de Negócios Estrangeiros do Partido Comunista da China (o mais alto responsável diplomático de Pequim), Wang Yi, ao qual expressou a “profunda preocupação” do bloco comunitário relativamente a um eventual apoio militar da China à Rússia.
“Exortei-o a não fazê-lo. Expressei não apenas a nossa preocupação, mas também o facto de que, para nós, tal constituiria uma linha vermelha na nossa relação”, afirmou o chefe da diplomacia dos 27.
Apontando que Wang Yi assegurou que Pequim não planeia fornecer armas à Rússia, o chefe da diplomacia da UE concluiu com a garantia de que os 27 vão “permanecer vigilantes”.
Hoje mesmo, o Governo de Pequim negou estar a ponderar fornecer armamento à Rússia para uso na ofensiva contra a Ucrânia, como acusou o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken.
“Não aceitamos que os Estados Unidos apontem o dedo às relações entre a China e a Rússia e muito menos que exerçam pressão e coação”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.
O representante acusou ainda os Estados Unidos de estarem “a divulgar informações falsas”.
“Quem não cessa de fornecer armas ao campo de batalha são os Estados Unidos, não a China. Os Estados Unidos não estão qualificados para dar ordens à China e nunca aceitaremos que os Estados Unidos ditem ou imponham a forma como devem ser as relações sino-russas”, disse ainda o mesmo porta-voz.
No domingo, o chefe da diplomacia norte-americana advertiu que a China está a estudar a possibilidade de fornecer armas e munições à Rússia.
“Até ao momento, empresas chinesas (…) forneceram apoio não letal à Rússia para uso na Ucrânia. Agora estamos preocupados com a informação de que eles estão a considerar fornecer apoio letal”, disse Antony Blinken, numa entrevista à estação televisiva CBS, sublinhando que a situação poderá ter “sérias consequências”.
Blinken explicou que se reuniu no sábado, à margem da Conferência de Segurança de Munique, com Wang Yi, a quem transmitiu a “profunda preocupação” dos Estados Unidos sobre “a possibilidade de a China fornecer armas letais à Rússia”.
A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro do ano passado, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).