O secretário-geral do PS, António Costa, admitiu que o partido deve “tirar conclusões” do processo Marquês, em que é acusado o ex-líder José Sócrates, mas só o deve fazer “quando este caso terminar”.
“Se o PS há de tirar conclusões sobre a matéria, seguramente que sim, mas acho que as deve tirar no momento próprio. E o momento próprio é quando este caso terminar. Aí, sim, o PS pode e deve falar”, afirmou António Costa, em entrevista ao DN, JN e TSF, publicada hoje na revista Notícias Magazine.
Militantes socialistas como Ana Gomes tem vindo a criticar o silêncio de Costa e de outros dirigentes socialistas sobre o processo que envolve Sócrates e que vai a julgamento por branqueamento de capitais e falsificação de documentos, mas o líder do PS mantém a posição que teve desde 2014, quando o antigo primeiro-ministro foi detido, sintetizada na frase: “À política o que é da política, à justiça o que é da justiça.”
E o próprio afirmou que só voltará “a falar sobre esse assunto quando houver uma decisão transitada em julgado”.
Na entrevista, António Costa admitiu que “seria difícil para qualquer partido lidar” com um caso deste tipo.
“O PS fez o que é correto. Porque qualquer coisa que o PS fizesse, das duas uma: ou seria uma pressão inadmissível sobre a Justiça ou seria uma desconsideração inaceitável do princípio da presunção da inocência. Ora, ou temos princípios ou não temos”, disse.
“Não é o PS que se vai substituir à Justiça, fazendo o julgamento que a Justiça há de fazer”, concluiu.
O juiz de instrução criminal Ivo Rosa decidiu mandar para julgamento o ex-primeiro ministro José Sócrates, o seu amigo e empresário Carlos Santos Silva, o ex-ministro Armando Vara, o banqueiro Ricardo Salgado, todos por crimes económicos e financeiros, mas deixou cair as acusações de corrupção e fraude fiscal.
José Sócrates, que estava acusado de 31 crimes, e Carlos Santos Silva, indiciado por 33 crimes, vão a julgamento em conjunto por branqueamento de capitais e falsificação de documentos, num processo que começou a ser investigado em 2013.
Em causa estão verbas de 1,72 milhões de euros entregues pelo empresário e alegado testa-de-ferro a Sócrates, que, segundo a decisão instrutória, não configuram o crime de corrupção, por estar prescrito, mas implicam três crimes de branqueamento de capitais.