A alcunha de “Melro” vem-lhe de família mas cantar não é o forte de Agostinho Mendes, que aos 80 anos continua a transmitir “a velhos e novos” a arte de dançar, tendo já ensinado folclore a “milhares” de pessoas.
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“Tenho um dom para ensinar. Mandando-os alinhar, levantar os braços, olhar para o público e rir”, afirmou o ensaiador da Escola de Folclore de Santa Marta de Portuzelo, em Viana do Castelo.
Depois da morte do “grande” amigo Isidro Palmeira, em março passado, considerado o “dançarino número um” da região, e que inspirou a estátua dedicada ao folclore situada em pleno centro da cidade, que o “Melro” passou a ocupar o seu lugar como o “ensaiador que mais gente ensinou a bailar”.
“Um dia que morra, que não vou estar aqui toda a vida, o maior prazer que teria era juntar todos aqueles que ensinei a dançar”, disse emocionado.
Agostinho Mendes começou “tarde” no folclore, com 20 anos, quando ingressou no Grupo Folclórico daquela freguesia de Viana do Castelo, e nem ele próprio acreditou na sua vocação para dançarino.
“No primeiro dia em que fui ao ensaio, sem perceber patavina de folclore, todos os elementos se riram, porque não dava uma para a caixa, andava lá às escuras”,
desabafou.
Rapidamente lhe ganhou o jeito, e aos 23 anos já dirigia ensaios, tendo tornado num elemento “fundamental” do grupo que nos anos 50 ganhou projeção internacional com deslocações “constantes” à Alemanha, França, Inglaterra, Bélgica, Holanda, Brasil, Espanha.
“Tinha duas coisas que mais adorava na vida: os meus pais, e o Grupo de Santa Marta de Portuzelo”, confessou o homem que foi cartaz da romaria de Nossa Senhora da Agonia em 1959.
Funcionário da Câmara de Viana, Agostinho Mendes viu na reforma, a oportunidade de dedicar a “grande amor”, ainda mais tempo.
Rosinha, Grupo Folclórico de Santa Marta de Portuzelo (RTP, 2012)
Ajudou a fundar e a dinamizar grupos folclóricos em todo o concelho, e no município vizinho de Caminha, e chegou até a ser convidado para “preparar” duas danças que apresentou na Universidade de Coimbra.
Há mais de 23 anos que ensina a dançar na escola folclore de Santa Marta, a cerca de 70 elementos, atividade que complementa num lar de idosos da cidade, “e onde o chamarem”.
“Já ensinei milhares de pessoas, dos 4 aos 80 anos. É melhor ensinar os pequeninos que os grandes. Os pequeninos ficam amuados mas não ficam zangados. Uma pessoa tem de gritar mais um bocadinho, porque eles distraem-se. Os miúdos ficam amuados, mas esquecem rápido. Os velhos, não. Ficam amuados e zangados, não esquecem”, admitiu do alto dos seus 80 anos.