José Razão e Filipe Magalhães, das freguesias barcelenses de Aldreu e Fragoso, resolveram colocar o ‘pé na estrada’ em direção à Moldova para resgatarem o maior número possível de refugiados. E já se encontram na viagem de volta, estando, neste momento, a cruzar a fronteira da Roménia com a Hungria. Com eles trazem duas famílias, depois de Filipe, no centro de acolhimento, ter anunciado que poderia trazer mais pessoas para Portugal. Uma delas vem na carrinha e a outra desloca-se no próprio carro.
Filipe Magalhães explica a O MINHO que a sogra vive em Odessa, na zona Sul da Ucrânia, e que a viagem serviria para a resgatar. Contudo, partilhou com o amigo José Razão a ideia da ‘missão’, e resolveram encher uma carrinha (Mercedes Vito) com bens humanitários (medicamentos, comida, artigos de higiene). E, na volta, trazem não só a sogra de Filipe, mas também uma família que quis vir para Portugal.
“A minha sogra vive em Odessa sozinha com um cão, não tem família próxima, e quando começou a surgir a hipótese de guerra, ela não acreditava que ia haver, mas a guerra começou, deixaram de haver voos e ela ficou bloqueada”, explica o barcelense.
E prossegue: “Os vizinhos dela começaram a sair para aldeias do interior ou até mesmo do país, e ela foi ficando ali, sem saber como sair. Nós não estávamos descansados, e como ela tinha problemas em passar a fronteira porque o cão não tem as vacinas de acordo com o regulamento europeu – e é a companhia dela que nunca iria ficar para trás – eu disse logo que ia lá”, recorda.
Nesta altura, em conversa telefónica com O MINHO, Filipe teve de interromper a entrevista pois foi questionado por um guarda de fronteira, na Hungria, de uma forma um pouco rude. Mas rapidamente ficou resolvido e retomámos a conversa. “Esta parte da burocracia tem sido sempre muito complicada”, desabafou.
Questionado sobre o ambiente vivido no centro de acolhimento na Moldova, Filipe realça ter assistido “a vários cenários” preocupantes: crianças acolhidas por ONGs que não estavam acompanhadas pelos pais, pessoas desnorteadas pelo clima de incerteza para onde iam. O duo barcelense, já no centro de Chișinău (capital moldava), onde se encontra um pavilhão para descarregar os bens humanitários e outro que serve de acolhimento a refugiados, anunciou que poderia trazer uma família no regresso.
“Como existe a necessidade de deslocar os refugiados para aliviar a cidade, e havia uma família que já tinha colocado a hipótese de vir para Portugal, trouxemos a família – pai, mãe e dois filhos”. Mas não se ficaram por ali.
Filipe conta que foi abordado por uma senhora ucraniana, professora de Inglês, que não tinha dinheiro para conseguir pagar o combustível nem as portagens para sair dali. “Era uma avó, duas filhas e duas netas, que estavam no seu próprio carro”, explica. “Só tinham uns sacos com roupa e estavam realmente numa situação complicada. Dissemos que as ajudávamos, e ela perguntou quanto custava, ao que respondemos: nada. Caíram-lhe logo as lágrimas”, contou.
Os dois barcelenses explicam que têm recebido apoio financeiro de amigos, para ajudar nos custos da viagem, não só da Mercedes em que se transportam mas também do carro da família que trazem, de forma imprevista.
Para concluir, Filipe desafia outros que tenham espírito de aventura para que façam o mesmo.
Para ajudar Filipe e José a suportar os custos na viagem de regresso, podem ser feitos donativos através de MBWay 967085867 ou 933160755 ou através da conta PT50 0010 0000 5746 2730 0019 8