A Quinta de Soalheiro, de Melgaço, decidiu lançar-se na plantação de uma vinha da casta alvarinho na aldeia Branda da Aveleira, às portas do Parque Nacional da Peneda-Gerês, a uma altitude média de 1.100 metros.
O gestor e enólogo daquela empresa produtora, Luís Cerdeira, explicou à agência Lusa que o projeto é uma “parceria” resultante do “desafio” lançado pelo empresário Agostinho Alves, que com a sua família detém a marca registada “Branda da Aveleira”, tem investido no potencial turístico local e cedeu o terreno para esta vinha.
“Localizada a cerca de 1.100 metros (mais precisamente entre os 1.050 e os 1.120 metros) é sem dúvida a vinha mais alta de alvarinho de Monção e Melgaço, dos vinhos verdes e de Portugal”, acrescentou.
Luís Cerdeira diz que espera “descobrir o alvarinho no limite da frescura e da acidez, onde os aromas cítricos se sobrepõem aos aromas tropicais” e acrescentou que a plantação está já em marcha.
“O projeto nasceu de várias conversas em 2018”, começou a ser executado este ano e é “uma parceria entre a Soalheiro e a Branda da Aveleira, duas marcas do concelho de Melgaço”, explicou, frisando que objetivo é “criar um vinho Soalheiro Branda da Aveleira – Um Alvarinho plantado num vale glaciar a 1.100 metros de altitude”.
A primeira vindima não tem data prevista, porque “depende muito da evolução da vinha, mas seguramente não menos de três a quatro anos para a realização dos primeiros ensaios a sério”.
A vinha na Branda da Aveleira ocupa um terreno com uma “exposição sul-poente excelente, abrigado a norte e que tem concentração de calor no verão”.
Trata de “um terreno virgem, sem qualquer cultivo anterior” e portanto, “apropriado à utilização da viticultura biológica e biodinâmica”.
O solo é totalmente diferente daquele onde tem origem o clássico alvarinho, pois “junta o xisto ao granito, algo digno de se visitar” e que, de acordo com o enólogo, “vai ajudar na maturação das uvas, dificultada pela altitude”.
O responsável admite que os invernos rigorosos, que àquela altitude são uma forte possibilidade, “podem ser uma ameaça” a este projeto, mas também ressalva que “não há inovação sem risco”.
“Este está calculado e há regiões no norte da Europa que têm já esse problema do frio e da neve. A videira tem bastantes resistências ao frio, por isso entra em dormência no Inverso e renasce a cada ciclo. Contamos que o atraso no início ciclo vegetativo jogue a nosso favor”, afirmou.
“Estamos deveras expectantes para colher os primeiros cachos e fazer o primeiro vinho. Não é vulgar conseguir plantar uma vinha num vale glaciar. A Branda da Aveleira, localizada em Melgaço, integra o Vale Glaciar do Alto Vez”, o que explica a presença ali de xisto depositado ao longo da branda.
Um vale glaciar, “a abelha Buckfast, uma abelha ancestral que não pica, tem estação de acasalamento próximo da branda e é única no país”, trilhos e o pequeno rio Aveleira compõem a paisagem da branda onde esta “vinha especial” está a ser implantada e que outrora que foi residência de verão dos pastores locais.
“Para melhor conhecer as potencialidades e a biodiversidade do território, incluímos esta vinha no estudo de biodiversidade que a Soalheiro está a levar a cabo em parceria com o Centro de Biologia Molecular e da Universidade do Minho”, afirmou.
O investimento da Quinta de Soalheiro e do seu parceiro é “segredo, mas seguramente mais de 100 000 euros durante os primeiros dois anos”.