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Albergue em Guimarães serve há 700 anos ceia de Natal a desfavorecidos
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Em 1315, no Albergue de S. Crispim, em Guimarães, foi servida a primeira ceia de Natal aos “desfavorecidos da cidade”, tradição, “ou obrigação”, que se cumpre até hoje sobre o mesmo chão com 700 anos de terra batida.
No dia 24 de dezembro, véspera de Natal, os voluntários chegam cedo, “gente nova” que começa a descascar as muitas batatas que se vão servir mais logo a acompanhar os mais de 20 bacalhaus, couves “sem fim”, rabanadas, aletria, bolo-rei, “tudo do bom e do melhor”, explicou o responsável pelo albergue, José Teixeira.
Reportagem Guimarães Digital (2013)
“Não é por serem pobres que têm que comer mal. Isto não é caridadezinha, é por Deus”, disse, fazendo contas aos mais de 100 “pobres e sem abrigo” que recorrem atualmente ao albergue para “conforto no estômago e agasalho” na noite de Natal.
“Já foram mais de 600 pessoas a cá vir fazer a ceia. Não só sem abrigo mas famílias inteiras, pobres. A polícia tinha que vir para a viela organizar as filas. Nunca ninguém foi embora sem comer”, garante o maestro da sinfonia de pratos, talheres, comida, risos e “algum choro” que se fará ouvir na pequena casa, datada da Idade Média, “e que conserva todos os traços originais”.
Paredes caiadas, traves de madeira, que quis o tempo que caiadas fossem também, corredores estreitos e textos baixos, tudo assente num chão de terra batida: “Está como era, como sempre foi. Não só porque fazemos questão mas porque a câmara também obriga”, confidencia – o Albergue de S. Crispim, que foi o primeiro hospital da cidade, fica no centro histórico de Guimarães, junto ao Tribunal da Relação.
“Isto é por Deus”, repete, enquanto, orgulhoso, exibe as dezenas de garrafas de azeite e as panelas, enegrecidas pelo tempo e pelo uso, que vão dar sabor e cheiro à ceia, servida em mesas corridas (tábuas em cavaletes), que serão cobertas por toalhas carregadas com pratos alinhados e talheres que farão a guarda ao repasto, “a única refeição quente da semana de muitos”.
Foto: DR
Segundo José Teixeira, que conta ter “herdado” do pai a “obrigação e o prazer” de organizar esta ceia, e “se os documentos não mentirem”, o Albergue de S. Crispim é anterior a 1315 e a ceia para os pobres teve origem na imposição de dois beneméritos, que deixaram a fortuna à Irmandade de S. Crispim mediante a obrigação de todos os anos ser ali servida uma ceia de Natal aos pobres.
O edifício, que alberga também um “pequena mas muito digna capela”, é hoje guarida de “senhoras já de idade e pouco mais”.
Pelas paredes, quadros com fotografias antigas, de mais antigos ainda mecenas do Albergue, contam algumas das oferendas á instituição. Em 1974, um “senhor de bem” da cidade doou 10. 000 $, hoje aqueles escudos “mal dariam para um bacalhau”. Mas continua a ser com donativos que se paga a ceia.
“Já nos deram mais. Hoje a câmara dá uma ajuda e alguns industriais da terra. Pouco mais. Mas vai chegando”, lamenta.
A ceia, essa, tem hora para começar, mas nunca tem pressa para acabar. O sinal de que o bacalhau está cozido e as batatas escoadas é dado pelo sino da capela às 19.00.
“Nunca sabemos quando vamos servir o último prato. Só quando não houver ninguém na viela é que damos a ceia por acabada e vamos nós para casa fazer a nossa consoada. Às vezes comemos já depois do galo da missa cantar”, diz.
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