Cerca de 150 pessoas participaram hoje, em frente à Câmara de Viana do Castelo, numa manifestação contra a empresa Águas do Alto Minho (AdAM), defendendo a devolução da gestão das redes de água e saneamento ao município.
A ação, pacífica, foi mobilizada através das redes sociais para assinalar o Dia Mundial do Consumidor e decorreu em frente às sete autarquias que integram à AdAM.
Na capital do Alto Minho o protesto começou cerca das 10:00, no Passeio das Mordomas da Romaria, mesmo em frente ao edifício camarário, e terminou cerca de uma hora depois, sempre acompanhado pela PSP.
Ouviram-se palavras de ordem como “Água sim, abuso não”, “Juntos venceremos”, “Não às Águas do Alto Minho” e “José Maria é um aldrabão”.
Contactada pela Lusa, fonte da GNR de Viana do Castelo apenas avançou dados das ações realizadas em Monção e Valença, onde estiveram presentes cerca de 20 pessoas, em cada um dos concelhos.
Segundo informação de outras fontes à Lusa, na manifestação em Ponte de Lima participaram cerca de uma centena de pessoas, em Caminha participaram cerca de 30 e em Vila Nova de Cerveira cerca de dezena e meia.
Fonte autárquica de Arcos de Valdevez disse que o protesto mobilizou cerca de meia centena de pessoas e, em Paredes de Coura, fonte municipal disse “não ter ocorrido nenhuma ação”.
Mário Sousa, organizador do protesto, já reclamou quatro vezes, entre outras situações, por erros de faturação e por pagar.
Residente em Santa Marta de Portuzelo, Mário Sousa reclamou “a reversão da AdAM” e queixou-se por os “munícipes não terem sido ouvidos”.
“Não queremos água privada. Queremos água municipal (…). A criação desta empresa foi um logro (…). Esta luta não vai parar por aqui. Nós queremos a reversão (…). Se a Câmara é dos munícipes porque é que não nos protege? (…) Devia ser feita sindicância às contas (…). Todos nós perdemos a boa-fé na empresa, nós não queríamos a empresa, mas mais se acentua com esses sucessivos erros”, disse Mário Sousa.
Além das palavras de ordem, os manifestantes desafiaram o presidente da Câmara a falar com os munícipes.
“Acho que, em favor dos munícipes, deviam dar a cara, deviam falar com a população que está revoltada”, afirmou o cliente da AdAM e organizador da iniciativa.
Em declarações aos jornalistas, no interior do edifício camarário, o presidente da Câmara de Viana do Castelo reconheceu os erros cometidos pela empresa.
“Estamos a passar por uma dificuldade. Temos de reconhecer. Temos de pedir desculpa às pessoas por aquilo que não correu bem, mas entendemos que este projeto vale a pena. Por isso estamos a fazer um esforço maior para que se corrijam rapidamente”, disse José Maria Costa.
O autarca socialista adiantou que “desde que os sete autarcas que integram a empresa “derem um murro na mesa, registaram-se “melhorias sensíveis”, apontando, como exemplo, o aumento dos postos de atendimento, os protocolos com os CTT e outras entidades para fazerem as cobranças, o aumento de recursos para acolherem as reclamações e darem resposta, em tempo útil, às pessoas”.
“Vai também hoje ser anunciado que a AdAM vai ser empresa aderente do CIAB – Tribunal Arbitral de Consumo para que as possam reclamar junto de entidades que possam servir de mediadores”, sublinhou José Maria Costa.
Questionado sobre as iniciativas de alguns partidos que reclamam a reversão da empresa e a devolução dos serviços à gestão municipal, admitiu que, “num ano atípico e quando alguma coisa não corre bem como gostaríamos, haja sempre a tendência de algum aproveitamento político”.
A AdAM é detida em 51% pela Águas de Portugal (AdP) e em 49% pelos municípios de Arcos de Valdevez (PSD), Caminha (PS), Paredes de Coura (PS), Ponte de Lima (CDS-PP), Valença (PSD), Viana do Castelo (PS) e Vila Nova de Cerveira (Movimento independente PenCe – Pensar Cerveira), que compõem a Comunidade Intermunicipal (CIM) do Alto Minho.
Três concelhos do distrito – Ponte da Barca (PSD), Monção (PSD) e Melgaço (PS) – reprovaram a constituição daquela parceria.
A nova empresa começou a operar em janeiro de 2020, “dimensionada para fornecer mais de nove milhões de metros cúbicos de água potável, por ano, e para recolher e tratar mais de seis milhões de metros cúbicos de água residual, por ano, a cerca de 70 mil clientes”.
Em janeiro deste ano, a AdAM anunciou o início da regularização de consumos não faturados em 2020, na sequência de erros que afetaram 15 mil consumidores.
A constituição da empresa tem sido contestada por vários partidos e pela população, que se queixam do aumento “exponencial” das tarifas e do “mau” funcionamento dos serviços, reclamando a sua reversão e a devolução da gestão daquelas redes a cada um dos municípios.
Notícia atualizada às 14h41 com mais informação.