O ex-adjunto do ministro das Infraestruturas afirmou hoje que o agente do SIS encarregue da recuperação do computador lhe disse que estava a ser pressionado “de cima” e que era melhor resolver a questão “a bem”.
“A pessoa que me telefonou é um homem que se identifica como agente do SIS [Serviço de Informações de Segurança], refere que está a ligar por causa do computador e da informação que lá está”, começou por explicar Frederico Pinheiro, na comissão de inquérito à TAP, questionado pelo deputado André Ventura, do Chega, sobre a intervenção daquela entidade na recuperação do seu computador de serviço, após ter sido exonerado por João Galamba, via telefone, em 26 de abril.
Alertado por familiares quanto à competência do SIS para aquela intervenção, Frederico Pinheiro disse ter expressado as suas dúvidas ao agente, que “refere que está a ser muito pressionado de cima”, admite saber que há informação classificada no computador e sugere que “o melhor” é resolver a questão “a bem”.
Segundo o ex-adjunto, “esta ameaça é repetida mais de duas vezes”.
O deputado do Chega pediu ao ex-adjunto do ministro das Infraestruturas que identificasse o agente do SIS que o contactou naquela noite, levando à intervenção do presidente da comissão de inquérito, António Lacerda Sales, que indicou não ser legítimo perguntar.
Frederico Pinheiro, que disse ter ficado chocado e incrédulo quando foi contactado pelo SIS, disse que informou o agente que já se tinha voluntariado para entregar o computador e, sabendo da importância da informação que lá estava, não podia simplesmente fazer a entrega sem ficar com um comprovativo.
“O agente do SIS diz que se eu entregasse o computador, nunca mais ouviria falar do mesmo”, referiu Frederico Pinheiro, provocando alguns risos na sala, acrescentando ter ficado combinado que a entrega do equipamento seria feita na rua da casa do ex-adjunto, pela meia-noite.
Frederico Pinheiro disse ainda que, “estranhamente, nunca foi preocupação do senhor ministro das Infraestruturas ou do Governo recuperar o telemóvel” de serviço, que se disponibilizou “voluntariamente para entregar”.
“Porquê? […] Era efetivamente no computador que eu guardava as notas sobre todas as reuniões em que participava e não no telemóvel. Ou ainda porque o objetivo do Governo não era a salvaguarda da informação classificada, mas sim a intimidação e ameaça a um cidadão sem qualquer poder político”, realçou o ex-adjunto, adiantando que ainda aguarda agendamento para a entrega daquele equipamento.
O também jornalista disse ainda que cerca de uma dezena de documentos sobre a TAP classificados por sua sugestão, depois de requeridos pela comissão parlamentar de inquérito, não estavam apenas no computador, mas também no telemóvel.
Questionado sobre o caso da indemnização paga à ex-administradora da TAP Alexandra Reis, uma vez que era adjunto do ex-ministro Pedro Nuno Santos, Frederico Pinheiro disse que aquele “processo foi decido ao nível político”, ao qual não tinha acesso.
O caso que envolve Frederico Pinheiro remonta a 26 de abril, envolvendo denúncias contra o ex-adjunto por violência física no Ministério das Infraestruturas e furto de um computador portátil, já depois de ter sido demitido.
A polémica aumentou quando foi noticiada a intervenção do SIS na recuperação desse computador.
Este episódio gerou uma divergência pública entre o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, em torno da manutenção no Governo do ministro das Infraestruturas, João Galamba, que apresentou demissão, mas que António Costa não aceitou.