As eleições para a Associação de Futebol de Viana do Castelo realizam-se esta sexta-feira. Pela primeira vez têm mais do que uma lista e todo o ato eleitoral está envolto em enorme polémica com uma lista impedida de ir a votos e acusações de falta de transparência e de “ditadura”.
Das três listas apresentadas a sufrágio, a Assembleia Geral da AF Viana do Castelo aceitou duas: de Jorge de Melo Sárria, atual presidente, e António Oliveira Amaral. E rejeitou a de Rui Fernandes.
Para essa decisão alegou que das “listas deve constar o número total de efetivos de cada órgão, bem como três suplentes a eleger para cada um deles”.
“As listas apresentadas devem ter a identificação dos candidatos por cargo a que se propõem. Não sendo o caso da lista apresentada por Rui Manuel Soares Fernandes, e considerando ainda que os Estatutos da AFVC não têm previsão para a reparação da irregularidade em causa”, lê-se na decisão.
“Por outro lado, os clubes subscritores da lista do candidato Rui Fernandes têm de ser representados pelos seus representantes legais (três elementos e carimbo do respetivo clube) o que não é o caso, com exceção do filiado Sporting Clube Courense”, acrescenta a decisão de rejeitar a candidatura de Rui Fernandes.
Ontem, Rui Fernandes promoveu uma conferência de imprensa em que rejeitou todos os argumentos apresentados pela Assembleia Geral e garantiu que só não impugna as eleições – que estão adiadas desde finais do ano passado – porque quer que elas se realizem.
“Quando percebemos que a apresentação de uma lista à AFVC pressupõe a subscrição de uma percentagem de clubes ficamos perplexos e sentimos que os dirigentes não se sentiram confortáveis com essa situação porque poderiam sofrer represálias por subscrever uma lista totalmente independente”, diz Rui Fernandes, acrescentando que “este foi o primeiro momento em que percebemos que este caminho não ia ser fácil”.
“Quando os dirigentes vivem com medo de represálias e de expressar livremente a sua opinião dentro de uma associação que os representa, pergunto qual é o estado da democracia interna desta associação?”, questiona.
“Nesta fase, notou-se claramente, por parte dos dirigentes, um desconhecimento das suas obrigações perante a AFVC num processo eleitoral e muitos diziam desconhecer até a existência de eleições”, realça.
“Na nossa opinião, os dirigentes têm urgentemente de repensar a forma de estar na sua associação. Têm de ser mais ativos e interventivos para o crescimento da mesma. Têm de discutir alterações aos estatutos, para que não aconteçam omissões e decisões como foram cometidas nos últimos tempos por parte da Mesa da Assembleia Geral, que, como se viu, num dia diz uma coisa e no outro diz o seu contrário, sem que nada nem ninguém lhe faça frente”, acrescentou.
Contudo, a candidatura preparou-se para as eleições até que estas foram adiadas “contra a vontade expressa dos clubes que não queriam o adiamento”.
“Pergunto o que aconteceu à Mesa da AG por tomar uma decisão leviana e à revelia da vontade de quem a elegeu? Nada. Mais uma vez os clubes baixaram a cabeça e aceitaram”, nota.
Depois, no dia 4 de junho, acrescenta, “os clubes são notificados, às 23 horas de uma sexta-feira, curiosamente ponte do feriado de Corpo de Deus, em que muitas pessoas aproveitavam o fim de semana prolongado, com a convocatória das eleições que estipulava que as candidaturas teriam ser apresentadas em dois dias úteis. É no mínimo curiosa, mais uma vez, esta atuação por parte da Mesa da Assembleia Geral”.
“Tivemos que recolher toda a documentação em contrarrelógio e sentimos claramente que esta convocatória em cima do joelho foi para apanhar (alguns) candidatos desprevenidos. Recordamos que cada lista tem de ter 59 elementos aos quais são pedidos vários documentos, como o registo criminal que tem um prazo de validade. Nós já tínhamos essa documentação reunida, em dezembro de 2020. E agora tivemos que a reunir novamente, em dois dias. Mas, nas 48 horas seguintes entregamos toda a documentação nos serviços da AFVC. Entregamos um dossier com 276 documentos”, descreve.
Rui Fernandes garante que o presidente da Assembleia Geral, Rui da Purificação, lhe disse que ia avaliar as candidaturas e se houvesse incorreções “iria dar tempo para corrigir”.
“No sábado, dia 12 de junho, somos informados de que a nossa lista não foi aceite porque na listagem dos candidatos aos diferentes órgãos não especificamos o cargo a que se candidatavam e porque, nas subscrições dos clubes, faltavam as assinaturas de mais dois representantes legais. Estes dois aspetos, gravíssimos na opinião da Mesa da Assembleia-Geral, não permitiram aceitar a nossa lista”, lamenta o candidato que, “imediatamente”, contactou o presidente da Mesa que lhe “disse para submeter um requerimento a solicitar um prazo para a correção dos elementos em falta”. O que foi feito.
“Surpreendentemente, recebemos uma deliberação da Mesa da Assembleia-Geral a informar-nos que, espantem-se!, não tinha competência para nos dar prazo nenhum para correção do que quer que fosse. E que, portanto, uma lista rejeitada uma vez, é rejeitada para sempre porque não há prazo para corrigir nada”, critica, considerando que “esta situação chega a roçar o surrealismo”.
“Recordamos que neste ano civil houve várias eleições para associações de futebol pelo país e todas elas necessitaram de efetuar correções e puderam fazê-las. Mas em Viana do Castelo, não. Somos diferentes do resto do país. Já suspeitávamos que a democracia era escassa, mas nunca pensamos que a AFVC fosse uma ditadura deste calibre”, acusa.
“Como se isto não fosse o bastante, surgem-nos muitas dúvidas sobre a equidade com que todo este processo está a ser gerido entre as três listas. Não há transparência em nada do que sai desta AFVC e neste ato eleitoral, que pela primeira vez tem mais do que uma lista, não se cuidou de disfarçar o espírito tacanho, déspota e obscuro que tem existido há demasiados anos”, lamenta.