Os advogados Lestra Gonçalves e Alberto Jorge Silva serão homenageados este sábado, em Braga, por cerca de duas centenas de colegas seus, magistrados e outros profissionais do foro, que com ambos conviveram, em carreiras de mais de meio século.
Maria Manuel Marques (Mané Marques), também uma advogada histórica de Braga, coordenadora da comissão promotora da homenagem a Lestra Gonçalves e a Alberto Jorge Silva, afirmou a O MINHO que “impunha-se prestar tributo a estes homens”.
Segundo a mesma causídica, “pautaram-se sempre por grande civismo e humanismo”, pelo que “constituem uma referência para a advocacia e foram um bom exemplo para sucessivas gerações de advogados que com eles muitos valores aprenderam”.
“Braga foi uma comarca que sempre teve bons juristas e bons cidadãos, temos grande tradição, até no caso dos doutores Lestra Gonçalves e Alberto Jorge Silva pelo seu passado antifascista e de luta pela instauração da democracia”, referiu Mané Marques.
De acordo com Maria Manuel Marques, falando em nome do coletivo promotor da homenagem, “hoje virão a Braga pessoas de todo o país, fazendo questão de manifestar a sua gratidão a estes grandes homens, grandes advogados e grandes cidadãos”.
Lestra Gonçalves filho de Montalegre
José Afonso Lestra Gonçalves nasceu em 11 de maio de 1937, em Parafita, uma aldeia da freguesia de Viade de Baixo, no município de Montalegre, onde completou a 4.ª classe na Escola do Antigo, da mesma freguesia, e aos 11 anos ingressou no Seminário de Vila Real, por ser tradição o filho mais velho estudar para padre.
Mas, entretanto, José Lestra Gonçalves decidiu sair do Seminário de Vila Real, após ali ter estudado nove anos, pedindo então à sua mãe, Luísa Afonso, para continuar com os seus estudos, ingressando no 5.º ano de Ciências e depois no 7.º ano em Letras, no Colégio Dom Diogo de Sousa, em Braga, nunca mais parando de aprender, obtendo sempre conhecimentos multifacetados.
Concluído o liceu, matriculou-se no curso de Direito da Universidade de Lisboa, embora a contragosto, uma vez que os seus mais próximos amigos se matricularam na Universidade de Coimbra, mas, contudo, a escolha por Lisboa deveu-se ao facto de poder contar com o apoio de uma irmã que já ali vivia.
Enquanto frequentava a Universidade de Lisboa, prestou serviço militar em Mafra, sendo que quando já tinha cumprido um ano de serviço à pátria, é chamado para cumprir tropa no Quartel de Chaves, só que, entretanto, ocorreu a “Intentona de Beja”, planeada e comandada pelo general Humberto Delgado, tendo a sua Companhia (309) sido enviada para Beja.
Já tinha cerca de três anos de serviço militar e pensando que cumprira o seu dever, foi convidado a ir para Angola, já em 1962, aí permanecendo em mais dois anos de serviço militar, tendo desembarcado em Cabinda, onde depois se manteve com os seus companheiros por um ano, tendo sido deslocado para outros postos, onde decorria a guerra pela independência de Angola.
José Lestra Gonçalves terminou o serviço militar sem incidentes em Tembo Aluma, na Província de Malange, regressando a Portugal, em julho de 1964, com cinco anos de serviço militar cumpridos, retomando os estudos, mas já então na Universidade de Coimbra, pois, entretanto, conseguiu a transferência desde a Universidade de Lisboa, instalando-se em 1967 na República dos Kágados, até à conclusão do curso de licenciatura em Direito, em 30 de outubro de 1968.
Regressando a Braga, estagiou no escritório do advogado Guilherme Branco, também montalegrense, a conselho de quem José Lestra Gonçalves concorreu para a magistratura do Ministério Público, tendo sido colocado como magistrado no Tribunal Judicial da Póvoa de Lanhoso, onde permaneceu um ano e meio.
Mas como a sua vontade era advogar, iniciou a sua carreira profissional de advogado, partilhando escritório com o seu patrono, o advogado Guilherme Branco e posteriormente, com os advogados Francisco Tinoco de Faria e António Loureiro.
Ocorreu o 25 de abril de 1974 e a pedido de civis da Póvoa de Lanhoso, é nomeado presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso, exercendo tais funções entre outubro de 1974 até finais de 1975, findas as quais as passa a dedicar-se em exclusivo à advocacia, mantendo escritório em Braga, Póvoa de Lanhoso e Vieira do Minho, estabelece-se exclusivamente na cidade de Braga, quando a última das suas três filhas, Isabel, se licencia em Direito, depois das gémeas Ana e Luísa, com quem constituiu uma sociedade de advogados, em 1999. Em novembro de 2020, completou meio século de exercício da profissão de advogado, tendo sido homenageado, em Braga, pela Ordem dos Advogados.
Alberto Jorge Silva bracarense de gema
Alberto Jorge Carvalho da Silva, o nome profissional abreviado Alberto Jorge Silva, nasceu em 17 de outubro de 1943, na freguesia da Cividade, em Braga, sendo filho de Camilo Pereira Leite Lima da Silva e de Emília Pereira de Carvalho e o mais velho de cinco irmãos sendo os outros, António, Ester, Camilo e Celsa.
Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, foi caloiro no ano de 1961, tendo depois de concluído o seu curso sido candidato à advocacia na Comarca de Braga, sob o tirocínio primeiro de José Sampaio e mais tarde de José Salgado.
Inscrito como advogado, na Ordem dos Advogados, desde 22 de outubro de 1976, exerceu advocacia em prática isolada na Comarca de Braga até à data da sua reforma, tendo sido membro vogal da Delegação de Braga da Ordem dos Advogados no triénio de 1996/1998, integrando depois como vogal o Conselho Superior da Ordem dos Advogados no triénio 2005-2007, sob a presidência de Luís Laureano Santos.
Alberto Jorge Silva secretariou José Sampaio, com quem fizera estágio de advocacia, no primeiro Governo Civil de Braga saído do 25 de Abril de 1974.
Casado desde 13 de janeiro de 1968 com Maria Luísa Fernandes Caeiro Carvalho da Silva, professora aposentada do ensino secundário, o advogado Alberto Jorge Silva é pai de Paula Rute Caeiro Carvalho da Silva de Amorim, nascida em 04 de julho 1969, na freguesia de Sé Nova, Coimbra, advogada na Comarca de Braga desde 27 de janeiro de 1998, e de Camilo José Caeiro Carvalho da Silva, nascido em 1 de novembro de 1972, na freguesia de São José de São Lázaro, em Braga, e engenheiro civil.
Alberto Jorge Silva é avô materno de Pedro Afonso Caeiro da Silva Ferreira da Costa e Pedro Jorge Caeiro da Silva Ferreira da Costa, e avô paterno de Bárbara dos Santos Caeiro Carvalho da Silva e Gabriela dos Santos Caeiro Carvalho da Silva.