Declarações dos treinadores após o jogo Benfica–Sporting de Braga (1-3), da final da Taça de Portugal de futebol feminino, disputada hoje, no Estádio Municipal de Aveiro:
Miguel Santos (treinador do Braga): “Uma conquista destas fica sempre na história do clube. Tinha dito às jogadoras – antes da outra final e para esta o discurso nesse aspeto foi igual – que nós tínhamos oportunidade de fazer história duas vezes.
E isto não acontece sempre na vida das pessoas quer do ponto de vista pessoal, quer do ponto de vista profissional. Portanto, era uma dupla oportunidade que nós tínhamos. Na primeira aprendemos a lição. Na segunda levámos o troféu para Braga.
É importantíssimo porque é o terceiro, juntando à supertaça e ao campeonato. É especial porque é a prova rainha do futebol e era especial para nós. As jogadoras sabiam. O Braga já é a terceira final em que estava. O ditado popular é muito simples à terceira é de vez e desta vez foi mesmo.
Estamos muito contentes, muito satisfeitos. As jogadoras foram fantásticas, superaram-se. Demos aqui uma lição de vida também. Na vida como no futebol, por vezes, podemos ter momentos difíceis, mas não vamos abaixo. Levantámos a cabeça, mantivemos a postura, o empenho e a dignidade. Fomos bem mais humildes, mais simples e práticos e conquistámos o troféu. Deixámos muito suor dentro de campo, deixámos muita raça. As jogadoras tiveram um espírito guerreiro imenso e isso foi diferente da outra final.
Taticamente apresentámo-nos diferentes também. Na primeira final apresentámo-nos num 3-5-2. Nesta final apresentámo-nos num 4-4-2 losango. Fizemos as alterações que tínhamos de fazer quer na saída de jogo quer na forma como tínhamos que chegar à baliza, porque na outra final fomos muito meiguinhos na hora de chegar à baliza. Desta vez, fomos muito mais agressivas, muito mais objetivas. O número de remates foi superior, o número de golos também.
Acabámos também por sofrer um golo. Não queríamos, mas temos de dar também um bocado de mérito ao Benfica que é um digno vencido. E, portanto, o sentimento é de dever cumprido (…) Isto tudo ajuda o clube a crescer quer no futebol feminino, quer também a cimentar a posição que o Braga tem no panorama nacional de quarto grande.
[Sobre o confinamento] Sinceramente e sendo um pouco egoísta e falando futebolisticamente não queria parar. No entanto, o número de casos em Portugal continua a aumentar e obviamente se o Governo cancelar os próximos compromissos que temos obviamente que vamos respeitar e vamos pôr as jogadoras a treinar de uma forma mais adaptada. Não paramos totalmente, teremos que adaptar, mas é sempre diferente.
O período de paragem quanto mais curto for melhor. Quanto mais longo, pior para toda a gente, até porque, depois desta vitória, não preciso de dizer mais nada no que diz respeito à moral que está ali naquele balneário. Neste momento, está toda a gente contente, satisfeita e acho que esta equipa cresceu. Estas duas finais deram crescimento à equipa.
Parar agora, para nós podia ser um bocadinho prejudicial. Acho que para outras equipas também, porque toda a gente quer competir, mas se tivermos que parar, obviamente que respeitamos as normas que o Governo e a DGS nos impuserem.
O futebol feminino também poderá sair um bocado prejudicado quer em termos de clubes quer em termos de seleção nacional, porque há compromissos das seleções em fevereiro.
Portugal está bem posicionado para poder garantir, caso ganhe à Finlândia, o apuramento direto e se perguntar à [Andreia] Norton ou às jogadoras portuguesas e às estrangeiras que temos, que vão frequentemente às seleções, se elas querem parar, elas dizem que não. Preferem não parar. Mas, temos um Governo e somos um país democrático e sabemos acatar aquilo que forem as ordens do Governo e da DGS.”
Filipa Patão (treinadora do Benfica): “Primeiro de tudo quero parabenizar o Braga pela vitória. O que eu considero diferente [relativamente ao último jogo que o Benfica venceu] chama-se futebol e o futebol tem disto, quando não somos competentes no momento defensivo, no momento de transição, dado que colocamos tanta gente em zonas ofensivas e queremos procurar ser tão superiores e estar em cima do adversário e ter qualidade na posse.
A partir do momento em que assumimos isso, também temos que assumir a competência a nível defensivo. Hoje infelizmente não a tivemos. Nas transições defensivas, estivemos desequilibradas, cometemos alguns erros.
Houve um bocadinho também de estrelinha para o Braga em certos momentos e isso ditou o jogo. Agora, não tenho a menor dúvida de uma coisa: Equipa que joga assim vai estar sempre mais próxima de vencer mais vezes do que perder.
Já sabíamos que o Braga ia procurar aqui entrar forte, até porque precisava mesmo de ganhar o jogo, precisava mesmo de ganhar uma final. Portanto, era normal que o Braga tentasse por tudo entrar forte.
Nós não explorámos os espaços que o Braga nos deixou precisamente no momento de pressão. Tentaram-nos pressionar mais em cima, tentaram-nos condicionar principalmente o corredor lateral esquerdo. Nós já estávamos à espera disso. Não fomos competentes o suficiente para dar continuidade ao nosso jogo, quando a bola entrava nesse corredor. Portanto, não nos surpreendeu.
Agora, aqui a questão é que temos que evoluir e continuar a crescer e o caminho é este. Nós temos que estar cientes que quando temos uma ideia de jogo, quando temos dinâmicas que estamos a tentar trabalhar, com duas semanas de trabalho, há sempre momentos em que vamos falhar, em que vamos ser menos competentes.
Temos de estar preparados para isso e temos que assumir e eu estou cá para dar a cara e estou a assumir e tenho a certeza absoluta que estas jogadoras vão ser cada vez mais competentes no futuro.”