A semana (louca) da política nacional 

O Marcelo, o Costa, o Montenegro, o Carneiro e o Santos. Eles, os outros e todos nós juntos nos próximos quatro meses…

ARTIGO DE OPINIÃO

Vítor Oliveira

De Guimarães para o País.

Causou – e ainda causa – alguma estranheza o facto do Presidente da República ter agendado as eleições legislativas antecipadas para o dia 10 de março 2024, dentro de quatro meses! Muito tempo, dirão uns. Podia ser mais cedo, argumentará uma perspetiva mais pragmática.

O que poucos vaticinavam é que, nesta última semana que passou, o Governo maioritário de António Costa caísse com estrondo e Portugal se visse mergulhado, de repente, numa crise política. Uma semana, porém, foi suficiente, na verdade, para serem tomadas decisões para o futuro. Quando há vontade, as coisas resolvem-se e, afinal, as burocracias superam-se. 

O próprio Partido Socialista foi lesto a convocar a sua Comissão Política Nacional, a agilizar as suas eleições internas já para dezembro, a reagendar o seu calendário eleitoral e a antecipar o seu Congresso para janeiro. E ainda ficamos a conhecer dois candidatos à sucessão de António Costa. Tudo isto em quatro… dias! Não em quatro semanas. Ou quatro meses. 

Quando se quer, resolve-se! E essa é que devia ser sempre a regra instituída e a matriz orientadora de quem está temporariamente a governar-nos, independentemente da cor partidária da sua administração. 

Nesta semana, entre outros assuntos, falou-se insistentemente das pressões que houve para acelerar um processo de construção da empresa Start Campus, em Sines, de armazenamento de dados, classificado pelo Governo como o maior investimento estrangeiro desde a Autoeuropa. 

Estivemos a assistir ao debate e às pressões que houve nos gabinetes para acelerar um procedimento processual, quando devíamos estar antes a escrutinar as razões que motivam e o tempo que demoram (tantos) assuntos a ser resolvidos. Seja este ou outros processos. Seja no governo ou nas autarquias locais. Um cidadão, uma empresa, uma associação, quer ver os seus problemas resolvidos. É para isso que confiam o seu voto a quem é eleito. 

O QUE PODE ACONTECER EM QUATRO MESES?

Quatro meses. É o tempo que vamos fazer de conta que está tudo bem, mas que não está. É o período de uma pseudo normalidade em que foram encontradas soluções administrativas criativas, bem ao jeito do arranjo e do desenrascanço “tuga”. 

Quatro meses. É o tempo de mais quatro mensalidades que os portugueses vão pagar de empréstimos com taxas de juro de valores exorbitantes. Quatro meses, no mínimo, é o tempo de espera para as inquietudes de médicos, enfermeiros, professores, funcionários e operacionais de escolas voltarem a ser (re)avaliadas por um novo governo…

Quatro meses. É o tempo em que, na prática, os partidos políticos vão estar em campanha eleitoral, mas com uma Assembleia da República ainda com plenos poderes. Quatro meses é o tempo em que pode acontecer muita coisa. Até substituir o atual líder do Partido Social Democrata. E haverá (sempre) tempo para todos os partidos se organizarem…

Ontem, já com a noite negra cerrada, em conversa de circunstância, à saída do Estádio D. Afonso Henriques, no final de um jogo que tinha tudo para correr bem ao Vitória, depois de uma primeira parte que poderia ter resultado em uma goleada histórica, um familiar meu não podia ter esboçado melhor metáfora para descrever Luís Montenegro. 

Enquanto um líder assertivo, convincente e determinado sobe decidido e com agilidade ao topo de uma árvore para recolher um fruto, Montenegro tem o perfil de líder que aguarda que o fruto caia da árvore! E depois, entre um olhar sério e uma linguagem “pipi”, diz até estar preparado para apanhar o fruto… quando ele cair! Tem sido esta a imagem criada, desde que substituiu Rui Rio. 

Vejamos. 

Luís Montenegro, que já foi nadador salvador, é conhecido por fazer um arroz de marisco de comer e… chorar por mais! Mas não foram os dotes culinários que o fizeram brilhar no programa televisivo da Cristina Ferreira. A 20 de dezembro de 2019, exibiu as suas capacidades vocais num dueto em direto com Tony Carreira, ao cantar a música “Sonhos de Menino”.

“Cada macaco no seu galho”, diria a sabedoria popular. Ainda se lembram da metáfora mencionada neste texto? Da subida ao topo da árvore para recolher o fruto…?!

E se o povo diz que o fruto proibido costuma ser o mais apetecido, quatro dias pode ser o tempo suficiente para se passar de um estado “não sou candidato a nada” para um expectável candidato à liderança do Partido Socialista. 

Pedro Nuno Santos, o governante que se lembrou mais tarde que tinha autorizado uma indemnização de 500 mil euros a Alexandra Reis, através de uma mensagem digital, quando tinha a TAP sob sua tutela ministerial, perfila-se para disputar o cargo de Secretário-Geral do PS com José Luís Carneiro.

O antigo Presidente da Câmara de Baião, um ex-jornalista do extinto semanário “Independente”, informação ocultada no seu separador na página oficial do Governo (eu sou jornalista desde os 6 anos!), apresentou oficialmente a sua candidatura este sábado, em Coimbra. Um edifício com significado simbólico, mas antigo, com corredores apertados e um imóvel com fissuras nas paredes. São pormenores, é verdade. Mas os pormenores…

Boa semana a todos.

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