“O inverno é uma das épocas do ano mais difíceis para seguir lobos e as suas condutas”. Quem o afirma é Carlos Pontes, fotógrafo e videógrafo de natureza natural de Ponte da Barca e um dos mais bem informados ‘seguidores’ das alcateias de lobo-ibérico do Parque Nacional Peneda-Gerês.
Desta vez, e pós várias horas de espera, conseguiu vislumbrar três lobos adultos, capturando o momento em fotografia. O colaborador da National Geographic conta que estes lobos, “assim como nós humanos, pelo menos em crianças, recebem com alegria a neve e insistem em aproveitar cada momento”.
“Em algum lugar, longe de pressões e barulhos desagradáveis, dois lobos adultos aproveitam a oportunidade de um sol que se revelou após dias de tempestades, nevoeiros densos e frio extremo”, conta Carlos, sempre “concentrado no cenário”.
“Os bichos mantinham alguma distância entre eles, chegaram a dormir cerca de uma hora em que a única acção que tinham era sacudir a neve e, volta e meia, levantar a cabeça para vigiar a envolvente. Eu esperava acontecimentos e tomava um café quentinho”, relata o profissional.
“Mais tarde e sem pressa, entra em cena um outro lobo, um pouco maior e mais escuro. Aquela silhueta, no alto da encosta, exibia uma pose e imponência que me deixou mais empolgado ainda, pois de imediato se reuniram e começaram a festa. Entre reviravoltas na neve, saltos sem jeito e corridas com escorrega, estes três lobos fizeram delícias como cachorros acabados de se encontrar no parque”, detalha Carlos Pontes.
“Apenas de café tomado, percebi, naquele exato momento, que realmente não sentia nada a não ser uma alegria enorme por todas aquelas imagens que presenciei e pude registar, porque os pés, as mãos e as restantes partes do corpo demoraram a reaparecer e fazerem-se sentir (risos)”, remata.
Quem é Carlos Pontes?
Um apaixonado pela fotografia de fauna selvagem. Natural de Ponte da Barca, desde criança que tem contacto com o Parque Nacional Peneda-Gerês (PNPG), não só com a área inserida em Ponte da Barca mas também em Arcos de Valdevez e Melgaço, zonas com as quais mais se identifica.
Aos 35 anos, é hoje considerado um autor diferenciador dos animais e paisagens do PNPG. Esteve sempre em contacto com serras e animais, enquanto se formou em design e buscou conhecimentos em biologia. Com grande habilidade técnica no mundo da natureza e fotografia, estuda teoria e prática sobre as áreas e espécies que fotografa.
Venceu alguns prémios em concursos nacionais de fotografia, colaborou com documentários de vida selvagem transmitidos pela televisão portuguesa e colaborou em publicações da National Geographic
Mais recentemente, colaborou como câmara no novo projeto “DEHESA – el bosque del lince” do aclamado produtor e realizador de filmes de natureza, Joaquin Gutierrez Acha.
Esta produção, sobre sobre Portugal e Espanha é da autoria de um dos melhores realizadores da Europa onde só entram dois portugueses: Carlos Pontes e João Cosme.
“Conhecer Carlos Pontes é perceber que o seu ADN é marcado pelas serras e os animais, particularmente o lobo-ibérico (canis lupus signatus)”, diz a biografia que o autor partilhou com O MINHO.
Desde os nove anos que vê lobos em estado selvagem, mas desde os vinte anos que começou a mostrar mais interesse. Os lobos são, hoje, a sua “principal fonte de inspiração”.
Através de exposições, Carlos Pontes quer ajudar a valorizar o lobo como “um elemento crucial não só da biodiversidade regional, mas também da identidade cultural e tradição populares”.
“Desmistificar a falsa ideia do lobo mau pode permitir que as entidades governativas da região vejam na sua imagem e no rico património cultural a ele associado no contexto ibérico uma mais valia para o desenvolvimento económico e turístico”, refere o autor.