A pandemia e a nova fragilidade da comunicação presencial

Opinião de Catherine Pereira, profissional de comunicação

Catherine Pereira
Profissional de Comunicação

Os últimos dois anos trouxeram-nos mudanças em várias áreas da nossa vida e a forma como comunicamos com os outros não foi exceção. A adaptação e alteração de rotinas e hábitos diários foram muito impactantes e esta nova realidade potenciou sentimentos de incerteza, dúvida, medo e dificuldades.

A inevitabilidade da distância, do confinamento e do isolamento trouxe consigo a perda de alguns costumes e hábitos que nos aproximavam dos outros e que potenciava o contacto pessoal. Alteramos, sem dúvida alguma, e de forma profunda, a forma como nos relacionamos.

A comunicação direta e presencial foi fortemente afetada pela imposição da distância, pelo toque que não era permitido, pelas máscaras que impossibilitavam a comunicação de um rosto e onde os olhos passaram a ser a ponte de comunicação não verbal mais direta. Perdemos, de forma substancial, o tempo para ouvir com atenção, numa atitude mais egoísta (mesmo que inconsciente) de isolamento.

As tecnologias foram-nos aproximando (e ainda bem), mas não substituíram de todo a comunicação cara a cara, onde a presença traz consigo a força das emoções, a possibilidade de nos interligarmos mais rapidamente com o outro.

O processo de evolução e transformação digital foi incrível, mas um ecrã nunca substituirá a importância das reais ligações humanas. Temos de nos conectar sim, mas essencialmente através do coração. As ligações humanas não se podem tornar remotas.

A verdade é que o tempo foi passando e quando a vida regressou à aparente normalidade as pessoas mudaram os seus comportamentos de relação interpessoal. Os receios e as dúvidas bloquearam, de certa forma, algumas das nossas emoções e, por exemplo, o cumprimentar com o braço, ou até nem cumprimentar, foi alimentando este afastamento presencial exigida pela pandemia.

Alimentou-se uma certa frieza nas relações, num comportamento pouco empático, em relações menos sólidas e distantes.

Mais de dois anos depois já se sente alguma liberdade na forma como nos expressamos com os outros, mas o que adquirimos da experiência vivida do confinamento e das regras impostas para bem de todos ainda se sentem no nosso dia-a-dia. Como se as pessoas tivessem ficado desajeitadas na comunicação presencial, na clara sensação de uma maior frieza na forma como lidamos com os outros.

Este afastamento interpessoal pode ser uma ótima oportunidade para evoluirmos mais um pouco.
É importante percebermos que podemos continuar a ter cuidados redobrados em altura de pandemia, mas que isso não impossibilita de estarmos mais disponíveis para o outro.

Assusta-me pensar que a pandemia nos possa ter tirado a empatia pelos que nos rodeiam, isso seria fatal para a criação de ligações humanas cada vez mais presentes, onde a comunicação surge como um elemento que nos aproxima.

Devemos reaprender a comunicar presencialmente. A comunicação presencial tornou-se um grande desafio.

O desconfinamento é uma nova oportunidade que o mundo nos está a dar para repensarmos a forma como olhamos para o outro. O sucesso pessoal e profissional não é um caminho solitário. Temos de tomar consciência que para recebermos temos de dar. Esta é a passagem para a sabedoria.

 
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