Volvidos que estão 2 meses após as eleições legislativas de 4 de Outubro, podemos concluir que, pelo conjunto de factos ocorridos desde então, se produziu uma lição democrática ímpar na nossa história. O processo de constituição do novo governo passou por diferentes estágios de maturação.
Começou por ser um governo bicéfalo de direita e rapidamente se transformou num governo tripartido pela esquerda. A democracia ensinou-nos que em Portugal tudo é possível – lição número 1, desde conduzir pela esquerda e pela direita de qualquer maneira até conduzir de marcha atrás.
Eu, que acreditava ser impossível um acordo à esquerda, depois de décadas de comportamentos que o justificavam, fiquei surpreendido com a negação de tal facto. A esquerda parece ter acordado o fundamental de uma plataforma de governo, mesmo sem garantir um acordo pleno e transversal nas principais medidas governativas. Outra lição: é possível um governo de pluralidade de apoios não circunscritos a um programa de governo fechado – lição número 2.
Também me surpreendeu bastante ver regressar ao governo um conjunto de políticos de carreira, que poucas provas deram no passado recente em prol do interesse do País. Deve ser desta vez que vamos perceber afinal o que valem, ou finalmente o que nunca valeram e isso pouco importará num governo tão eclético – lição número 3.
Mas, a maior lição de todas, aquela que maior espanto me causou, é a de parecer que o Povo está maioritariamente satisfeito com esta solução, independentemente dos resultados eleitorais finais. E essa é a lição número 4 – nunca duvidar da capacidade de transformação dos políticos e nunca desprezar a sapiência popular.
Em suma, a nossa democracia ensinou-nos a todos, sem exceção, que o paradigma mudou. Daqui para a frente, se a direita quiser ser poder, ou ganha com maioria ou garante maiorias pós eleitorais (eventualmente com algum partido de centro que surja). Tudo o resto são hipóteses moribundas que a esquerda se encarregou de enterrar, pois esta frente popular de esquerda, está visto que, veio para ficar. E não ficará por pouco tempo, a julgar pelos mecanismos que passaram a estar disponíveis para agarrar o poder…
O PSD e o CDS têm muito a aprender e a refletir (um dia mais tarde porque para já está tudo ainda muito ressacado) sobre este período da história democrática portuguesa. Quanto mais rápido o fizerem, melhor para Portugal. Teimar na mesma postura significa querer obter diferente resultado sem mudar nenhuma variável da equação. E a isso chama-se falta de sentido de estado neste estado sem sentido.