Espanha acordou em sobressalto com as notícias que davam conta do adiamento de, pelo menos, 300 voos em alguns aeroportos do país, incluíndo os principais – três em Madrid e três na Catalunha – isto de acordo com o avançado pela ENAIRE, responsável pela gestão do tráfego aéreo no país vizinho, ao final da manhã desta sexta-feira.
Motivo? A China voltou a utilizar um foguete para transportar material para o espaço sem acautelar o seu regresso em segurança e um detrito de 23 toneladas proveniente do Long March 5B, o modelo mais potente alguma vez construído pela nação comunista, andou a orbitar a terra numa trajetória descendente, passando, ainda em órbita, por cima da região minhota ao início desta manhã, de onde seguiu pelo oceano Atlântico até reentrar na atmosfera por cima do Pacífico, poucos minutos depois. O tempo aproximado de uma volta inteira ao planeta era de menos de uma hora.
https://twitter.com/ENAIRE/status/1588477265301897217?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1588477265301897217%7Ctwgr%5E2c4c9b0fae1bf6fe0b3cea0e5d9b02035898a551%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Frr.sapo.pt%2Fnoticia%2Fmundo%2F2022%2F11%2F04%2Ffoguetao-chines-desgovernado-afeta-300-voos-em-espanha-antes-de-cair-no-pacifico%2F306563%2F
A linha onde o objeto poderia cair, segundo o serviço de vigilância e monitorização espacial da União Europeia (EUSST) cruzava Norte de Portugal e Espanha e o Sul de Itália na trajetória do foguete, isto no espaço terrestre europeu. Segundo a NAV, que gere o tráfego aéreo em Portugal, os voos nos aeroportos portugueses não foram afetados, mas a queda do objeto estava a ser acompanhada e foram tomadas medidas preventivas de acautelar que os voos não excedessem determinada altitude durante o período em que o objeto sobrevoou a península.
Apesar do receio, o pedaço do veículo de transporte espacial reentrou na atmosfera cerca das 10:01 horas desta manhã no oceano Pacífico, isto segundo o Pentágono, que remeteu mais esclarecimentos para o Governo da República Popular da China.
#USSPACECOM can confirm the People’s Republic of China Long March 5B #CZ5B rocket re-entered the atmosphere over the south-central Pacific Ocean at 4:01am MDT/10:01 UTC on 11/4. For details on the uncontrolled reentry’s impact location, we once again refer you to the #PRC.
— U.S. Space Command (@US_SpaceCom) November 4, 2022
O episódio não é novo e, segundo escreve o The New York Times, é a terceira vez em quatro lançamentos do mesmo foguetão em que isto acontece, e sempre com o mesmo modelo de foguetão, uma vez que a agência chinesa não acautela uma forma de puxar todas as diferentes partes do veículo para a Terra de forma segura, como acontece, por exemplo, com os atuais foguetões utilizados pela NASA ou pela Agência Espacial Europeia, que regressam de forma teleguiada e aterram numa balsa no meio do oceano, tudo através de drones e sensores, sem necessidade de intervenção humana na amaragem.
O foguetão de onde saiu o detrito foi lançado na passada segunda-feira, transportando o terceiro e último módulo da nova Estação Espacial Chinesa, que irá concorrer com a Estação Espacial Internacional que atualmente alberga astronautas americanos e europeus e cosmonautas europeus e asiáticos. Peritos confirmam que a China tem dado importantes passos rumo à exploração espacial, estando já programada a construção de uma base na Lua para abastecer veículos espaciais que possam ir a outros planetas, sendo Marte o alvo mais que provável dada a proximidade.
De acordo com a Reuters, no primeiro lançamento do Long March 5B, detritos caíram numa cidade da Costa do Marfim, danificando várias infraestruturas, incluíndo edifícios, mas ninguém ficou ferido. Os outros dois lançamentos resultarem na queda de detritos em zona de água, primeiro no Oceano Índico e depois no Mar de Sulu, nas Filipinas.
Esta sexta-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês adiantou que as reentradas de detritos na atmosfera terrestre é uma prática comum a todos os países que os lançam, salientando que, no caso do Long March 5B, “foi concebido para que a maior parte dos componentes fique destruído ao reentrar na atmosfera, antes de poder afetar a aviação ou atingir o solo”.
Enquanto isso, o mundo fica de olho no céu sempre que um lançamento chinês termina em sucata espacial, e a região do Minho esteve, pela segunda vez, na trajetória desse lixo que pode ser potencialmente perigoso. E essa situação não deverá mudar, uma vez que não existe qualquer tratado internacional que force a China a mudar a forma como gere a ‘corrida espacial’, explicou o diretor do Centro de Estudos para Detritos Aeroespaciais, durante um ‘briefing’, na última quinta-feira, nos Estados Unidos.