Artigo de Inna Ohnivets
Embaixadora da Ucrânia em Portugal
A Segunda Guerra Mundial é o maior cataclismo social na história da civilização humana, em escala e consequências, uma vez que, no que respeita o grande número de vítimas e a destruição ou perda de bens materiais, não tem análogos na história mundial. A Segunda Grande Guerra é, pois, um daqueles acontecimentos fatídicos, cujos resultados e consequências, durante muitas décadas, determinaram mundialmente o futuro dos países e dos povos, tornando-se o ponto de partida e o ímpeto de grandes mudanças geopolíticas continentais.
A agressão armada russa no território da Ucrânia levou a um repensar não só do formato da celebração da vitória, mas também da visão holística e da própria perceção da Segunda Guerra Mundial por parte do povo ucraniano. É por isso que, em 2015, a Ucrânia deu início a uma nova tradição de celebrar os dias 8 e 9 de maio no espírito europeu de memória e reconciliação.
De acordo com o Decreto de 2015 do Presidente da Ucrânia, o dia 8 de maio na Ucrânia marca o Dia da Memória e Reconciliação, que visa “homenagear o heroísmo do povo ucraniano, a sua contribuição significativa para a vitória da Coligação Anti Hitler durante a Segunda Grande Guerra, assim como o respeito por todos os que lutaram contra o nazismo no mundo”. O dia 9 de maio na Ucrânia é o Dia da Vitória sobre o Nazismo na Segunda Guerra Mundial, que substituiu oficialmente o feriado soviético do Dia da Vitória.
Para o povo ucraniano, a tragédia da Segunda Guerra Mundial teve uma agravante, uma vez que, no início da mesma, o povo ucraniano estava dividido entre vários Estados. Assim, os ucranianos, privados do seu próprio Estado, foram forçados a lutar pelos interesses de outros. Além disso, a Ucrânia foi palco de várias guerras, no domínio da Segunda Guerra Mundial, as quais foram travadas em território habitado pelos ucranianos.
O povo ucraniano, juntamente com outros povos da ex-União Soviética, fez esforços incríveis para derrotar o fascismo. Cada sétimo soldado do Exército Soviético era natural da Ucrânia e cerca de 300 ucranianos estavam entre os mais altos comandos das forças armadas. Devemos também lembrar a contribuição daqueles ucranianos que estavam na retaguarda, trabalhando em fábricas e indústrias que forneciam todo material necessário para os que estavam na linha da frente.
Entre as enormes perdas da Ucrânia na Segunda Guerra Mundial, as mais graves foram demográficas. A guerra e a ocupação levaram a uma diminuição acentuada e catastrófica da população e a deformações significativas na composição nacional, no que concerne género, idade e ocupação profissional.
De acordo com várias estimativas, na Ucrânia, entre 7 e 10 milhões de pessoas perderam a vida durante a guerra em resultado das hostilidades, das políticas de ocupação, da fome e da repressão. O número mais mencionado pelos investigadores é de mais de 8 milhões de pessoas. E essas são apenas as perdas humanas diretas e irreversíveis do nosso país.
Deste modo, segundo dados oficiais, para o período de janeiro de 1940 a janeiro de 1945 a população da URSS diminuiu de 40 milhões 967 mil para 27 milhões 383 mil pessoas, ou seja, neste período, a perda demográfica foi de 13 milhões 584 mil pessoas. Deve notar-se que a Ucrânia levou quase 20 anos para repor as perdas demográficas, ou seja, para restaurar a população do pré-guerra, e somente na segunda metade de 1960 é que atingiu a população total do pré-guerra da Ucrânia dentro dos seus limites atuais: 42,9 milhões de habitantes.
Dia da Memória e da Reconciliação
O Dia da Memória e da Reconciliação e o Dia da Vitória sobre o Nazismo na Segunda Guerra Mundial não simbolizam o triunfo dos vencedores sobre os vencidos, mas deveriam antes servir como lembrete da terrível catástrofe da Segunda Guerra Mundial e como aviso. Devemos fazer todos os possíveis para garantir que guerras mundiais nunca aconteçam, para o bem das gerações futuras.
Hoje, tal como na Segunda Guerra Mundial, a Ucrânia está em guerra com um agressor, a Rússia, que invadiu a sua vizinha Ucrânia, anexou ilegalmente a Crimeia e está a travar uma guerra sangrenta no Donbas, invadindo a nossa soberania e integridade territorial. Para nós, é uma guerra pela liberdade, civilização, democracia e valores europeus, contra as ambições imperiais de um vizinho agressivo. Moscovo comporta-se como um destruidor do sistema de relações internacionais estabelecido pelos Estados vencedores da Segunda Guerra Mundial.
Se não respondermos a tais ações e se apenas forem feitas concessões ao Kremlin, estas poderiam tornar-se um catalisador para o início de uma próxima guerra mundial. Nós, tal como o resto do mundo, não queremos que isso aconteça, então, contamos com o vosso apoio – o apoio dos nossos aliados ocidentais – para alcançar a tão esperada paz na nossa terra natal ucraniana.
A Ucrânia, tal como o resto do mundo, procura evitar tal reviravolta, por isso, conta com a solidariedade e a assistência integral dos seus parceiros para alcançar a tão esperada paz em solo ucraniano, o qual é parte integrante da Europa.