Rui Manuel Marinho Rodrigues Maia
Licenciado em História, Mestre em Património e Turismo Cultural pela UMinho – Investigador em Património Industrial
Aproximam-se as autárquicas 2025 e, como é habitual, perfilam-se os candidatos para o novo ato eleitoral. Nada disso nos surpreende, pois, assim é a democracia no seu pleno desempenho.
Todavia, apesar de em muitos casos alguns autarcas terem que se abster do concurso dessas eleições, por limite de mandatos, em todos os quadrantes políticos vão-se apresentando os “novos” candidatos, que de novo nada trazem.
Em muitos casos, tenta-se dar continuidade às políticas de um ciclo político que finda e se refere querer renovar. Porém, quer-se renovar o quê, como e para quem? Essa é a derradeira questão que se coloca, quando sabemos, pelo menos há 50 anos, que os atores políticos, sobretudo aqueles dos partidos políticos com maior representatividade, como o Partido Socialista, o Partido Social Democrata e outros que lhes prestam vassalagem, como o caso do Bloco de Esquerda, o Partido Comunista ou o CDS-PP, subscreveram ao longo de décadas a falência de Portugal.
A Justiça passa por uma provação de credibilidade, a Saúde caminha cada vez mais para alimentar o setor privado, deixando aqueles de parcos recursos à mercê da sua própria sorte, a Imigração é uma calamidade, mesmo percebendo a necessidade de trabalhadores e a emergência do equilíbrio demográfico.
Todavia, permite-se de forma aligeirada a entrada desregulada de todo o tipo de cidadãos sem que, precocemente, se rastreie a proveniência, a presença ou a falta de cadastro, onde se vão acomodar condignamente, para que setores devem ser canalizados a fim de suprir as fragilidades da nossa economia, etc.
A Educação encontra-se numa verdadeira hecatombe, desde a falta de docentes, auxiliares, condições de trabalho dignas, valorização das carreiras, falta de autoridade, entre muitos outros aspetos.
Em Portugal, ao fim de 50 anos, ninguém no espectro político português teve a coragem de delinear um plano nacional urbanístico que sirva de modelo para desenvolver as localidades e, ao mesmo tempo, corrigir problemas estruturais existentes. O que conta é a economia, ainda que se propaguem as aberrações urbanísticas que impactam o presente e o futuro.
Na verdade, pouco ou nada se tem feito, a não ser obras de cosmética que, em muitos casos, servem timidamente as premências da hodiernidade. Muitas localidades confrontam-se com gravíssimos problemas de mobilidade e segurança, incrementando a sinistralidade rodoviária, a falta de asseio de muitos arruamentos, o estorvo àqueles e àquelas que infelizmente padecem de mobilidade reduzida, em que proliferam passeios com árvores pelo meio, ou a ausência deles, obrigando o cidadão a circular nas vias destinadas aos automóveis, onde a regularidade para cadeiras de rodas e outras é inexistente em muitas freguesias urbanas, entre muitas outras contingências daí advindas. E, caro leitor, a quem cabe decidir, o leitor vai votar em quem? Ainda acredita nos vendedores da banha da cobra, desde as cúpulas mais altas da governação às mais pequenas autarquias? Eu, não!
Infelizmente e para a minha infelicidade, desacreditei neste país, porque, 50 anos de pseudodemocracia é tempo fastidioso. Mas, caro leitor, quando for votar, lembre-se que não se pode queixar, nos momentos em que os seus filhos não avistarem futuro em Portugal, nos momentos em que ficar horas e horas à espera numa urgência hospitalar até morrer, quando os seus rendimentos não lhe chegarem para pagar a alimentação ou a medicação de que precisa, quando a sua pensão ou reforma for tão baixa face à sua carreira contributiva longa, quando todos esses problemas lhe assaltarem a consciência e o seu dia a dia, lembre-se, foram os velhos do Restelo.
Há efetivamente, para além da incompetência, do culto da mediocridade e do oportunismo, outro aspeto deplorável na vida política portuguesa: a arrogância e prepotência de muitos atores políticos, que mais não fazem do que a própria promoção em detrimento de uma missão de cidadania – pavoneiam-se na passerelle como fantoches – alimentados pelos Media que, em muitos casos, os monopolizam.
Todos, ou quase todos, promovem-se à custa do erário público, fabricam a inacessibilidade, os distanciamentos às populações, aos seus munícipes, alienam-se da causa pública, porque o que interessa é defender oligarquias e precaver a própria subsistência e das suas famílias. Não há estadistas, não há um comportamento horizontal, que diste da verticalidade deste sistema corrupto e corrompido, a política transformou-se para muitos em profissão e não num desígnio nacional. O lema é servirem-se e não servir.
Até mesmo o próprio processo eleitoral foi concebido contra a democracia, tais são as barreiras que impõe, é a burocracia e a tecnocracia que imperam neste meio bolorento, apartado de valores éticos e morais, esvaziado de fraternidade e humanismo.
Nunca a célebre frase fez tanto sentido: Homo homini lupus est. 25 de abril, sim, mas ninguém se convença de que vivemos em plena democracia, trata-se apenas de uma falácia ardilosa, fabricada e impingida, uma tranquilidade desinquieta e desinquietante. Pão & Circo, futebol, romarias e vinho, enquanto houver, deixa andar que boa vai ela, a pobre da Nação…