Trabalhadoras da Ricon já só pensam no “ganha-pão de amanhã”

As trabalhadoras da Ricon, em Vila Nova de Famalicão, dizem-se “resignadas e conformadas” com o fim do grupo e preocupam-se agora com “o ganha-pão de amanhã”, algumas já têm ofertas, mas sem “o miminho” que tinham ali.

A agitação dos últimos dias à porta da Ricon Industrial, a principal unidade fabril daquele grupo têxtil, deu lugar ao silêncio de quem sabe que “já não há nada a fazer”. Agora, dizem os trabalhadores da empresa, maioritariamente mulheres, “é contar os dedos que sobram depois dos anéis se perderem”.

Reunidas num piquete de vigia ao material da empresa, “há que garantir que não roubam mais nada”, as mulheres da Ricon já discutem o dia de amanhã, já que o de hoje vai servir para “meter os papéis” para o fundo do desemprego.

“Surpreendidas não podemos dizer que estamos. Isto já estava as soluções desde que a GANT [maior cliente do grupo] cortou nas encomendas. Mas não esperávamos que fosse assim, sabermos das coisas ou pelos jornais ou a receber cartas de despedimento aqui à porta”, lamentou Rosa Silva, na Ricon há 12 anos.

Com já seis das oito empresas do grupo “dadas como perdidas”, depois do Tribunal de Comércio de Famalicão ter declarado o encerramento e liquidação dos ativos da Ricon Industrial SA, da Delveste, da Nevag SGPS, da Nevag II SGPS, da Ricon Serviços e da Delcon, com as assembleias de credores da Fielcon e Ricon Imobiliário marcadas para esta tarde, e ao que tudo indica vão ter igual desfecho ao das restantes, o pensamento das trabalhadoras já se centra no futuro.

“Este [emprego] já foi. Isto já estamos conformadas e resignadas. Agora temos é que pensar no ganha-pão de amanhã. Já há aqui quem tenha oferta de emprego de outras empresas aqui da área ou arredores. A nossa sorte é que somos muito qualificadas para isto”, disse Rosa.

Fechou-se uma porta, há uma janela à vista. Mas a luz que entra é menor: “Tínhamos um miminho aqui. Onde vamos arranjar trabalho assim? Autocarro à porta, sopa, lanche, mais o subsídio de alimentação. Éramos bem tratadas, já não há disto”, lamentou Alzira, 29 anos ao serviço da Ricon.

O entra e sai no portão vai aumentando à medida que a manhã corre. “Viemos meter os papéis para o desemprego, montaram aqui um balcão para isso. E viemos render as colegas na vigia”, dizem.

Vigia? “Sim. Temos que garantir que daqui não sai nada. Há aqui uma empresa de segurança, mas foi contratada pelo patrão e não confiamos”, explicam assim o ‘piquete’ noite e dia na empresa.

Entre o deve o haver das contas, falta receber o mês de janeiro e metade do subsídio de Natal. E se ao final da manhã de quarta-feira era certo que o mês de janeiro fosse pago aos trabalhadores do grupo todo, cerca de 800, ao final da tarde essa certeza “foi à vida”.

“De manhã o senhor Pidwell (Pedro Pidwell, administrador da insolvência) disse que nos ia pagar janeiro, que havia dinheiro para isso. De tarde disse que não, que havia dinheiro, mas que era da Delveste e já não nos ia pagar. Agora já não sabemos”, descreveram.

 
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