Melgaço. Capela de Santa Rita à espera do milagre da reconstrução

A população de várias freguesias do concelho de Melgaço, está a mobilizar-se para reconstruir o interior do Santuário de Santa Rita em Roussas, que ficou parcialmente destruído por um incêndio.

O fogo, que se suspeita ter sido provocado por um curto circuito ocorrido no dia 20 de setembro, destruiu um altar e deixou completamente carbonizadas uma imagem da padroeira da capela, advogada das causas impossíveis, com quase 300 anos de existência, e também uma de São Paio e outra da Senhora da Aparecida.

O padre António Esteves, que está de saída ao fim de 45 anos na paróquia, não esconde o desgosto de à sua despedida, deixar o templo fechado ao culto, mas confia que a sua Santa Rita fará o milagre da reconstrução. A obra está orçada em cerca de 300 mil euros.

“Se calhar vai mandar dinheiro para as obras. Ainda aparece aí alguém com um cheque. É que quem conhece a Santa Rita tem de ser devoto dela por força”, garante o padre, lembrando alguns dos feitos da padroeira a que ele próprio assistiu.

“Um dia andavam aqui em obras, a construir os muros à volta e eu não tinha dinheiro para as pagar. Precisava de 90 contos naquela altura. Estava aflito e decidi pedir emprestado. Eram 11:30, cheguei à vila de Melgaço e ouvi chamar por mim: Senhor padre Esteves faça-me um favor, leve-me este cheque para a Santa Rita. Era um donativo de cem contos. Não sei se foi a mando dela”, contou o pároco a rir, continuando: “Outra vez era a festa aqui e ao meio-dia havia que deitar o fogo de artificio, mas chovia torrencialmente. Choveu sempre, sempre, até ao meio-dia. A essa hora parou a chuva. Deitamos o fogo e a seguir voltou a chuva”.

Segundo o sacerdote dos cerca de 300 mil euros, necessários para mandar fazer as imagens perdidas, reconstruir o altar e recuperar paredes e teto afetados pelo fogo e fumo, uma pequena parte já foi doada por populares.

“Estão a fazer peditórios pelas freguesias e as pessoas estão a colaborar. Há um ou outro que diz que tem de ser o padre a fazer as obras, mas de resto está a correr bem. As pessoas têm pena do que aconteceu e já juntamos algum dinheiro”, afirma, desabafando: “Isto a mim desgostou-me muito. Há 45 anos que dava missa aqui todos os domingos às 10.30horas. Agora vou-me reformar. Saio no dia 8 de dezembro e fica a capela assim”.

A mesma dor é partilhada pelos membros da fábrica da igreja, que se tem desdobrado em ações para angariar fundos para as obras. “Tenho sofrido muito por causa disto e o sentimento é geral. Custa-me muito. Farto-me de chorar. Moro aqui a dois minutos e venho ao santuário desde os seis anos”, lamenta Maria do Sameiro, membro daquela organização.

Há várias equipas a percorrer o concelho de Melgaço e também a pedir em alguns pontos de Monção, onde há devotos. A comissão fabriqueira tem feito apelos sucessivos nas redes sociais. “Gostava que a obra estivesse pronta no dia de Pentecostes, que é 50 dias depois da Páscoa, mas é muito difícil. Precisava-mos que ela fosse milagreira”, diz Maria do Sameiro.

Inicialmente o santuário, que existe em Roussas desde 1735, era mais pequeno e dedicado a São Paio. Mais tarde devido ao aumento da devoção a Santa Rita, foi construído o atual, de muito maior dimensão, que ficou concluído em 1953.

Segundo o pároco António Esteves, “a devoção a Santa Rita em Roussas tornou-se mais evidente, depois do milagre de 1745 em que uma pessoa daqui estava possessa pelo demónio e agarrou-se à santa e ficou curada”. E garante: “Há muito, muitos devotos. Aos domingos vinha gente aqui de todo o lado. Até de Braga, do Porto e de Lisboa”.

 
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