No Centro Social Paroquial de Ribeirão, Famalicão, pessoas com deficiência e incapacidade produzem legumes sem recorrer à terra em plataformas suspensas que permitem o acesso a cadeiras-de-rodas, um projeto que a instituição pretende alargar a desempregados de longa duração.
São 300 metros quadrados de estufa com tecnologia de ponta instalada num terreno com 5.190.
Em outubro a primeira leva de cultivo gerou 235 quilos de alface, 40 de nabiça, 25 de agrião e 10 de espinafre, mas também há couve, penca e repolho, conforme enumerou Rui Areal, de 19 anos, utente da Casa de Santa Maria, um dos três equipamentos do centro.
Ao todo o centro acolhe cerca de 450 pessoas (dos quatro meses de idade à terceira idade em valências que vão desde a creche ao lar residencial, passando por cantina social) e o Rui é um dos 36 utentes com deficiência que ajudou a fundar o projeto “Hortas Acessíveis”.
Gosta de ver as sementes crescer até ficarem “plantas bonitas” e prontas para vender porque, como disse, “é preciso fazer dinheirinho”. Sabe que o legume cresce graças à “água que leva comida à planta” e há cerca de uma semana ajudou a colher mais de 400 alfaces “espetaculares” por serem “bem melhores do que os que se vendem no supermercado”.
O sistema de cultivo, explicado de forma simples por Rui Areal, chama-se fluxo laminar de nutriente (NFT), que serve para cultivar legumes acima do solo, pondo a circular uma solução nutritiva composta por água pura e por nutrientes dissolvidos. Um pé de alface demora cerca de três semanas a crescer.
Na horta trabalham jovens com défice cognitivo ligeiro e jovens com doença mental, acompanhados pelo engenheiro agrónomo José Carlos Oliveira, segundo o qual “o produto em hidroponia [nome dado à técnica] é de qualidade superior pois é cultivado em estufa protegida e limpa e, uma vez que as plantas não entram em contacto com os contaminantes do solo, fica diminuído o ataque de pragas e doenças”.
Já a diretora técnica da Casa de Santa Maria, Cecília Vieira, explica que o projeto “reconhece a capacidade das pessoas com deficiência, a sua dignidade”, descrevendo avanços em termos sociais.
“É o trabalho que dá dignidade. É importante a valorização enquanto pessoa. Ao verem a planta a crescer, [os utentes com deficiência] perguntam como é que se vai dar conta da situação. Vamos vender? E vão às vezes. Assim também se combate o estigma. Acaba-se com o medo que algumas pessoas têm de se aproximar das pessoas com deficiência”, conta a responsável.
Ambos descrevem ainda “momentos de felicidade que valem só por si”, juntando-se a experiência do “pai” do Centro Social Paroquial de Ribeirão, o padre Joaquim Fernandes, e da diretora geral, Conceição Oliveira.
“Há uma ligação muito grande, um intercâmbio entre as valências. Quer as crianças do jardim-de-infância, quer os idosos do Lar de Santa Ana [outro dos três equipamentos da instituição] convivem e criam expectativas juntos. Os miúdos sabem explicar o processo. Os mais velhos podem fazer parte se desejarem”, apontam.
É que o facto de a estrutura não ter bases pregadas ao chão cria acessibilidade a todas as zonas de cultivo, logo ergonomicamente o sistema também é vantajoso porque permite que os “agricultores” não tenham de se vergar para desenvolver uma tarefa.
“Este projeto é uma aposta inovadora, sustentável, diferenciadora e que promove a solidificação de uma comunidade solidária com uma forte aposta na igualdade de oportunidades e na inclusão de públicos socialmente desfavorecidos”, indica a candidatura que valeu ao “Hortas Acessíveis” ganhar um dos “selos” do “Famalicão Visão 25” atribuídos este ano pela primeira vez pela câmara local a empresas e instituições que criem impactos assinaláveis no território.
O terreno está preparado para acolher mais estruturas, sendo meta do Centro de Ribeirão promover no futuro a integração de desempregados de longa duração do concelho de Famalicão.
Fique a par das Notícias de Famalicão. Siga O MINHO no Facebook. Clique aqui