Daniel Campelo, o autarca do Orçamento do Queijo Limiano que projetou Ponte de Lima

Os 16 anos de liderança autárquica de Daniel Campelo em Ponte de Lima, onde deixou obra e cofres autárquicos recheados, foram marcados por uma greve de fome e pela viabilização do que ficou conhecido como “Orçamento do Queijo Limiano”.

Daniel Campelo foi presidente da Câmara Municipal de 1994 a 2009, sendo que um dos mandatos foi conquistado com maioria absoluta, como independente, após ter sido suspenso do CDS-PP por Paulo Portas. Em 2009 não se recandidatou e cedeu o lugar ao número dois na autarquia, Vítor Mendes, atual presidente.

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O regresso à vida política aconteceu em 2011, quando a ex-ministra Assunção Cristas o escolheu para a Secretaria de Estado da Agricultura do Governo PSD/CDS-PP. Pediu para sair em 2013 por “já não poder dar o máximo” naquela que foi a sua estreia em funções governativas. Teve também uma passagem pela Assembleia da República, entre 1999 e 2002, como deputado do CDS-PP eleito por Viana do Castelo.

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As “marcas” que Campelo deixou na “vila mais antiga de Portugal” são reconhecidas pelos seus pares na autarquia, mas também por quem com ele se bateu na oposição.

Manuel Trigueiro, vereador do PSD entre 1997 e 2001 e entre 2004 e 2009, elogia-lhe a capacidade de diálogo, a proximidade às pessoas e a simplicidade, mas também a “obra feita” e a “boa saúde financeira” que deu ao município.

“Deixou obra e deixou, sobretudo, uma postura de diálogo. Procurava ser consensual, mesmo em questões da estrita competência do presidente da Câmara. Tinha a preocupação de explicar. Eu votava contra porque as apostas do CDS não espelhavam o programa eleitoral do PSD”, diz.

Trigueiro recorda o “homem simples no exercício das funções”, o “trato fácil”, mas também aponta os projetos que “não resultaram tão bem” durante a governação do engenheiro agrónomo, hoje com 56 anos.

A promessa do então primeiro-ministro José Sócrates de instalação de uma loja IKEA no concelho, que acabou por não se concretizar, ou o caso da fábrica do Queijo Limiano, são dois exemplos.

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Em 2000 ficou conhecido pela greve de fome na Assembleia da Republica, contra a transferência da produção do queijo Limiano de Ponte de Lima para Vale de Cambra, depois da compra da fábrica por uma multinacional.

Teve apoio do então primeiro-ministro, António Guterres, apoio esse conseguido por ter aprovado, com o seu voto, dois orçamentos socialistas, contra as indicações do partido pelo fora eleito.

Para viabilizar o documento negociou uma série de investimentos no distrito de Viana do Castelo, em que se incluía a construção de uma fábrica de queijo em Ponte de Lima. Esse orçamento ficou conhecido como o “Orçamento do Queijo Limiano”, mas a fábrica nunca foi construída.

Se há “esses revezes”, o “longo percurso político” de Daniel Campelo inclui projetos emblemáticos que o vereador do PSD Manuel Trigueiro destaca, como a Área Protegida das Lagoas de Bertiandos e São Pedro d’Arcos, a requalificação do rio Lima e as várias infraestruturas criadas no concelho.

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O atual autarca, Vítor Mendes recebeu o testemunho de Campelo em 2009 e reconhece tratar-se de um “legado difícil” a que tem dado continuidade, “com responsabilidade e trabalho, apesar da forma diferente de estar na vida e na política”.

“Daniel Campelo é um marco e uma referência no país. Como autarca, fez a defesa intransigente do concelho, da população, a criação de um território diferente, de referência a nível nacional e com sustentabilidade financeira”, especifica.

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Mendes diz “ter apreendido muito” com Campelo e de com ele ter vivido, enquanto número dois, uma “experiência autárquica gratificante”.

“Daniel Campelo catapultou Ponte de Lima para patamares acima da média nacional. Projetou o concelho a nível nacional e internacional com uma estratégia de valorização dos recursos naturais e do património, assente em projetos diferenciadores”, refere, apontando, ainda, os “alicerces fundamentais” que deixou para uma “gestão exemplar” das contas públicas, “ainda hoje seguida”.

Vítor Mendes destaca, por outro lado, a visão política de Daniel Campelo, por ter sido “dos primeiros autarcas do país a eleger a educação como prioridade e a falar do mundo rural”, e a determinação “em alcançar as metas a que se propunha, procurando combater o centralismo”.

“Lembro-me da teimosia com que contrariava o poder central, mas da preocupação que tinha em manter um bom relacionamento institucional”, sublinha o sucessor de Campelo, atualmente afastado das lides políticas e empenhado nos projetos empresariais que abraçou.

 

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