Em anos de eleições “os incêndios aumentam”

Análise do antigo presidente da Federação Distrital dos Bombeiros de Viana do Castelo
Em anos de eleições "os incêndios aumentam"
Foto: Facebook de Germano Amorim

Numa altura em que os incêndios continuam a não dar tréguas e muitas localidades começam a contabilizar os prejuízos, o antigo presidente da Federação Distrital dos Bombeiros de Viana do Castelo aponta o dedo à “falta de prevenção” e lembra que há um Roteiro Estratégico para o Alto Minho que “foi deixado na gaveta”. E, diz ainda, que em anos de eleições os incêndios aumentam.

“Somos uma área de território pobre, demograficamente deprimida e, por isso, precisamos de unir esforços para, em concertação, conseguirmos delinear uma estratégia a curto, médio e longo prazo”, reforça Germano Amorim.

Em entrevista a O MINHO, o presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Arcos de Valdevez, afirma que na altura em que assumiu os destinos da Federação Distrital, foi criado um Roteiro Estratégico Para o Alto Minho 23 -33 com o objetivo de “olhar para todo o território do Alto Minho e ter um pensamento estratégico em áreas como a proteção civil ou a emergência pré-hospitalar”, identificando as “características e os problemas do território”.

Documento levanta questões relacionados com arvoredo e coordenação de meios

Na altura da discussão para a criação do documento, foram levantadas uma série de questões que “pudessem diminuir os riscos da má organização do território”.

“A plantação de tipo de arvoredo que não é adequado; a falta de meios de acesso e acessos que não estão devidamente identificados; a coordenação entre bombeiros voluntários, a GNR -UEPS – Unidade de Emergência, Proteção e Socorro, Sapadores Florestais e a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil” foram alguns desses temas que ganharam destaque.

“Nós temos a noção que todos os corpos de bombeiros são pobres.E todos têm dificuldade em ter alguns meios. Nesse documento, identificamos alguns problemas relacionados com a gestão territorial ardida e com as zonas industriais existentes. E definimos, entre nós, caminhar no sentido de termos uma plataforma logística que servisse todo o distrito”, adianta.

O plano aprovado definiu ainda “uma central de compras”, e meios que pudessem estar disponíveis de acordo com a realidade do território.

“Por exemplo, termos uma Viatura Especial de Combate a Incêndios diretamente vocacionada para as zonas industriais, e estar numa zona de acesso que permitisse intervir o mais rapidamente possível”, exemplifica Germano Amorim.

“O mesmo para as áreas florestais, dando importância àquele que é o único Parque Nacional existente no país”, reforça.

O Roteiro Estratégico Para o Alto Minho 23-33 permite “olhar para o território e identificá-lo devidamente, saber qual a concertação existente entre os vários corpos de bombeiros, e criar critérios claros e transparentes relativamente ao financiamento das entidades dos corpos de bombeiros com base em critérios como o número de população, extensão territorial, orografia (temos zonas de mar, terra, transfronteiriça)”

O documento, segundo Germano Amorim, teve a contribuição de diversas entidades ligadas à proteção e socorro, incluindo a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, GNR, Sapadores Florestais, ICNF, Associações Humanitárias dos Bombeiros, entre outras.

Após redigido, o plano para 10 anos foi apresentado na CIM Alto Minho e “aprovado por unanimidade”.

“Fez-se, apresentou-se, aprovou-se e arrumou-se na gaveta. E isto é o que causa estranheza. De 2023 até 2025 nada foi feito. Nem sequer foi apresentado publicamente”, assegura o ex líder da Federação.

Germano Amorim lança críticas à falta de limpeza do território e afirma que em “ano eleitoral, os incêndios aumentam”

“Há uma coincidência que é preciso notar: sempre que há ano eleitoral, os incêndios aumentam. Com que objetivo? Por um lado, uns que tentam desestabilizar. Por outro, os que se aproveitam da situação do ponto de vista de salvadores”, afirma Germano Amorim

“A prevenção e a reorganização do pensamento estratégico sobre o território não se faz no tempo em que não há incêndios”, atira em jeito de crítica, acrescentando que “a falta de limpeza do território é evidente”.

“Só não vê quem não quer. Meses antes de sabermos que íamos ter um verão com picos de calor verdadeiramente intensos, basta ver que, muitas vezes, nem as bermas das estradas estavam limpas”, denuncia.

“O eucalipto continua a proliferar por todo o lado. Outras espécies exóticas, que nada têm a ver com a nossa realidade, continuam a imperar”, considera.

“Não faz sentido estarmos muito admirados com a ocorrência de incêndios, quando não há limpeza, quando não há organização do território e quando se podia fazer muito mais em termos preventivos, e não se faz”, reforça.

“E porque não se faz? Porque não há escala. Porque estamos a falar em termos de paróquia. Temos sempre esta cultura de andar a ver, ponto a ponto, o que cada um pode fazer. Claro que há auto responsabilidade (na limpeza dos nossos terrenos, por exemplo), mas não chega. Tem que haver um pensamento estratégico coincidente com a área do Alto Minho”, acredita.

“E o objetivo do Roteiro Estratégico 23-33 era pensar no território dessa forma. E saber se um Carro Escada (por exemplo) em Ponte de Lima é capaz de servir rapidamente Arcos de Valdevez, então não vale a pena adquirimos. Mas podemos comprar outro que irá ajudar e servir Ponte de Lima numa lacuna que, eventualmente, possam não ter”, sublinha.

“O plano demorou muitas horas, muito tempo a fazer-se, com o contributo de todos os corpos de bombeiros e associações humanitárias. Houve muita gente a trabalhar neste documento. Mas depois dele aparecer, rapidamente, a maioria das pessoas ignoraram e desprezaram o plano”, atira.

“Acho que é tudo uma questão de egos e de medo”, considera.

“Espero que retirem o Roteiro Estratégico 23-33 da gaveta, olhem para ele e que façam bom uso do documento”, conclui Germano Amorim.

 
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