Volta a Portugal em Braga: Argentino foi o primeiro a chegar ao Sameiro

Etapa teve partida em Viana
Volta a portugal em braga: argentino foi o primeiro a chegar ao sameiro
Foto: Podium Events / Matias Novo / Volta a Portugal / X

Nicólas Tivani tanto tentou, que acabou por ‘abandonar’ os segundos lugares, impondo-se na inédita chegada ao Santuário do Sameiro, no final de uma primeira etapa da 86.ª Volta a Portugal em bicicleta ainda liderada por Rafael Reis.

O ‘explosivo’ argentino da Aviludo-Louletano-Loulé andava desde a Volta a San Juan, no início de fevereiro, a colecionar segundos lugares e hoje, finalmente, ‘quebrou’ a série de oito, batendo o também sul-americano Jesús Peña (APHotels&Resorts-Tavira- Farense) e o australiano Brady Gilmore (Israel Premier Tech Academy), respetivamente segundo e terceiro, no ponto mais alto de Braga.

“Tentei durante todo o ano e, finalmente, aconteceu aqui na Volta a Portugal, o que é muito bom. Estava um pouco cansado de ser sempre segundo. Se não me engano, foram oito ou nove este ano”, disse com um sorriso aberto, após ter somado o segundo triunfo em etapas na prova onde se estreou a ganhar no ano passado.

Tivani até aspirava a mais, mas a sua pretensão de ‘roubar’ a camisola amarela a Rafael Reis (Anicolor-Tien21) falhou por meros dois segundos, depois de o português ter aguentado a pedalada do grupo do vencedor, que cortou a meta com o tempo de 03:56.04 horas e no qual estavam todos os favoritos à exceção do equatoriano Jonathan Caicedo (Petrolike), que perdeu oito segundos.

A primeira hora de corrida cumpriu-se a uma ‘alucinante’ média de 51,5 km/h, porque o pelotão decidiu anular todas as tentativas de fuga até à meta volante de Valença, onde Iúri Leitão (Caja Rural) passou na primeira posição, amealhou três segundos de bonificação e ‘empatou’ então em tempo com o camisola amarela.

Só depois desse primeiro sprint intermédio, situado ao quilómetro 45,2, é que um grupo se destacou, com o norte-americano Samuel Boardman (Project Echelon Racing) a juntar-se aos ‘nacionais’ Francisco Morais (Tavfer-Ovos Matinados-Mortágua), Aleksandr Grigorev (Efapel), Francisco Pereira (Feirense-Beeceler), Miquel Valls (Gi Group-Simoldes-UDO) e Duarte Domingues (Credibom-LA Alumínios-MarcosCar).

Quarto classificado da geral à partida para os 162,3 quilómetros entre Viana do Castelo e o Santuário do Sameiro, em Braga, Daniel Dias (Rádio Popular-Paredes-Boavista) uniu-se aos fugitivos, que tinham uma vantagem próxima dos dois minutos quando estavam decorridos 60 quilómetros.

O ciclista ‘axadrezado’ foi o primeiro a somar pontos na montanha, coroando na frente as terceiras categorias de Extremo e Portela do Vade, mas foi Valls o primeiro a destacar-se dos seus companheiros de jornada, sem conseguir uma vantagem assinalável.

Na aproximação a Braga, à frente do pelotão assomou a Israel Premier Tech Academy, numa declarada intenção de lutar pela etapa e, quem sabe, também pela geral, que acabou com a aventura do ciclista da Gi Group-Simoldes-UDO quando faltavam 24 quilómetros para o final.

A primeira ascensão ao Sameiro fez uma seleção inicial, resultante de várias mexidas, nomeadamente a de Hugo Nunes (Credibom-LA Alumínios-MarcosCar), o primeiro a cruzar o risco na primeira passagem pela meta.

Na descida da Rampa da Falperra, o vencedor da classificação da montanha em 2020 foi alcançado por Daniel Lima, o português da equipa israelita, e o espanhol Joseba López (Caja Rural), com a perseguição a ser assumida pela Aviludo-Louletano-Loulé.

Na ascensão final, que não fez tantas diferenças quanto o esperado, Lima foi o único a persistir, fazendo-o até aos 2,5 quilómetros finais, altura em que foi ultrapassado por Pedro Silva, que cá em baixo tinha recebido uma palmadinha de apoio do seu colega Reis – “Eu sei que ele me respeita muito e foi para lhe dar coragem para ele tentar”, assumiu ‘Rafa’ no final.

No encalço do rival da Anicolor-Tien21 partiu Tiago Antunes (Efapel), mas o último resistente seria mesmo Silva, que viu o seu sonho escapar-lhe por 500 metros.

“Era uma etapa que eu gostava muito de ganhar, porque estava próximo da minha casa. […] Faltaram 200 metros, mas vou continuar a lutar para ganhar uma etapa nesta Volta a Portugal”, prometeu o jovem de 24 anos, que, no final, lamentou à agência Lusa ter arriscado de longe: “se calhar, devia ter deixado para os últimos metros”.

Embora não tenha triunfado com Pedro Silva, a Anicolor-Tien21 foi uma das vencedoras no Santuário do Sameiro, onde Artem Nych foi quarto, o mesmo lugar que ocupa na geral, dois segundos atrás de Brady Gilmore, que está a cinco do camisola amarela.

Quem também respondeu ‘presente’ foi Jesús Peña, que bonificou e subiu a 14.º da geral, na véspera de uma jornada em que Rafael Reis poderá perder a liderança da geral para Tivani.

A chegada a Fafe, após 167,9 quilómetros desde Felgueiras, é perfeita para o argentino da Aviludo-Louletano-Loulé, que mantém vivo o sonho de lutar pela geral da prova ‘rainha’ do calendário nacional.

Volta a portugal em braga: argentino foi o primeiro a chegar ao sameiro
“Houve ainda tempo para uma homenagem especial ao bracarense Peixoto Alves, natural de Palmeira, que fez história ao vencer a Volta a Portugal em 1965 e é uma referência maior do ciclismo nacional, celebrada hoje na sua cidade”. – Município de Braga

Declarações

– Nicolás Tivani (vencedor da etapa, segundo da geral individual e líder das classificações por pontos e da montanha): “Em primeiro lugar, acreditávamos que podíamos chegar à amarela hoje. Tentámos várias vezes, mas o Rafa [Reis] defendeu-se muito bem. A verdade é que começar desta maneira a Volta a Portugal é muito importante.

Vamos dia a dia, vamos tentar fazer uma boa classificação na geral e, se não der, procurar ganhar etapas. Começámos bem e isso é o importante.

Amanhã [sexta-feira], vamos tentar ficar com a amarela, mas sabemos que todas as equipas se prepararam muito bem para esta Volta. É uma prova muito importante para toda a Europa, todo o mundo.

Estamos muito felizes com esta vitória. Acho que a equipa merecia. Tentei durante todo o ano e, finalmente, aconteceu aqui na Volta a Portugal, o que é muito bom. Estava um pouco cansado de ser sempre segundo. Se não me engano, foram oito ou nove este ano”.

– Rafael Reis (líder da geral individual): “Acabou por ser um dia bastante bom. Era uma subida em que sabíamos que podíamos defender a camisola amarela e acabámos por decidir tentar fazer isso e também dar a oportunidade ao Pedro [Silva].

O Pedro é um excelente corredor, a equipa trabalhou bastante bem de início para ‘escolher’ a fuga que nos desse mais jeito. Acabámos por conseguir controlar bem a etapa, com o Fábio [Costa]. O Pedro teve aqui uma oportunidade de ouro para tentar vencer a etapa. Infelizmente, não conseguiu. Para nós, ia ser uma festa, porque o Pedro é um corredor que merece.

Acabámos por, no final, também conseguir defender a amarela. Sabíamos que o Tivani ia estar muito forte para hoje também. Era uma oportunidade de ouro para eles e amanhã [sexta-feira] também é uma oportunidade muito boa para um corredor como o Tivani.

A equipa do Louletano nota-se que está à procura de tentar a amarela e isso também é bastante bom para nós. Tira-nos um pouco o peso de sermos camisola amarela, porque sabemos que as outras equipas também querem as oportunidades e sabemos que a Volta é o que nos traz também bastante visibilidade.

Eu sei que ele [Pedro Silva] me respeita muito e foi para lhe dar coragem para ele tentar. Ele tinha a liberdade para o fazer. A equipa também sabe aquilo que pode contar comigo. Eu já fiz o meu trabalho ontem [quarta-feira] e agora vamos desfrutar mais um dia de camisola amarela.

Estou bastante contente também por me ter conseguido defender. É fruto também de muito trabalho. Mas também acaba por ser uma subida em que eu me consigo defender, porque é uma subida feita em ‘escadas’. Temos partes inclinadas e partes mais fáceis, em que na roda conseguimos respirar e defendermo-nos. E, depois, a parte final acaba por ser mais fácil. Dá para guardarmos as energias e na roda não perder tempo”.

– Pedro Silva (ciclista da Anicolor-Tien21): “Era uma etapa que eu gostava muito de ganhar, porque estava próximo da minha casa. E também tenho que agradecer ao Rubén [Pereira, o diretor desportivo], e ao Artem [Nych] por me darem a liberdade de tentar discutir esta etapa.

Faltaram 200 metros e não fui o mais forte hoje, mas vou continuar a lutar para ganhar uma etapa nesta Volta a Portugal e ajudar o Artem a ganhar a Volta, que é o mais importante.

Eu treinei muitas vezes aqui nesta subida. Sabia que tinha uma palavra forte a dizer nesta chegada. Arrisquei de longe, se calhar devia ter deixado para os últimos metros. Mas não me arrependo de nada, porque acho que se ganhasse ia ser uma vitória bonita. Isso é o que mais importa, é desfrutar do que fazemos e estarmos felizes”.

Notícia atualizada às 20h32 com mais informação.

 
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