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Julgamento já começou
Sete vítimas ou testemunhas de acusação confirmaram, esta terça-feira, no Tribunal de Braga que uma mulher de 43 anos, de Vila Nova de Foz Côa, distrito da Guarda, mas residente em Braga, se fez passar por médica-psiquiatra e psicóloga, dando consultas e burlando cinco pessoas, num dos casos em 44 mil euros.
Ana Cristina P. não compareceu no julgamento, dado residir na zona de Aveiro e não ter havido comboios, mas o seu defensor comunicou que não pretendia falar na audiência.
Está acusada dos crimes de burla qualificada e de cinco outros de usurpação de funções.
Uma das testemunhas, o pai de um jovem de 19 anos que foi atendido pela ‘médica’, contou ter pago, de uma só vez, e em dinheiro, seis mil euros correspondentes a várias consultas.
“Custou-nos muito, ainda não nos restabelecemos do dinheiro pago”, declarou, salientando que a família ainda transferiu 38 mil euros para a conta dela, para pagar um internamento numa clínica em Madrid, Espanha, que nunca ocorreu.
Montou gabinete médico em casa
As testemunhas foram consensuais em afirmar que a arguida começou, em 2018, a dizer-se médica psiquiatra e psicóloga, que tinha trabalhado no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e que ia assumir um cargo de chefia no departamento de Psiquiatria no Hospital de Braga.
Acabou por montar um gabinete médico em casa, com artefactos e livros de Medicina, atendendo os clientes com uma bata onde se lia “Hospital de Santa Maria”.
Um dos lesados, de nome Paulo, garantiu ter-lhe pago 2.800 euros, também em notas, já que ela dizia que só quando estivesse a trabalhar no Hospital de Braga é que poderia passar recibos.
Depois, medicou uma mulher, Erica, em consultas semanais, a 60 euros, receitando-lhe vitaminas.
A um outro homem, diagnosticou-lhe “esquizofrenia” e receitou-lhe Risperdal, cobrando-lhe 75 euros. Mais tarde, soube-se que padecia apenas de depressão. Atendeu, ainda, um homem, de nome, Hugo a quem receitou produtos naturais e cobrou 60 euros.
Jovem de 19 anos foi o mais burlado
Disse para retirar filho das consultas do hospital
A mãe veio, então, a Braga e encontrou-se com ela numa pastelaria, onde a falsa médica combinou com ela que veria o doente em sua casa. Após a primeira consulta receitou-lhe medicação à base de produtos naturais e aconselhou a mãe a retirar o filho da Psiquiatria do Hospital da cidade onde andava a ser acompanhado. E garantiu que os surtos iam “acalmar”.
Numa outra ocasião, disse à progenitora que havia em Madrid, Espanha, uma clínica com métodos terapêuticos alternativos, com tratamentos com animais e com natação, que eram a solução para os problemas do jovem. Clínica que não existia. Só que o internamento custava 38 mil euros, verba que os pais aceitaram e pagaram em duas transferências bancárias feitas para a conta da Ana Cristina.
Ficou, ainda, combinado que a mãe do jovem e uma irmã deste iriam a Madrid visitar a Clínica, e, para tal, compraram os bilhetes de avião.
No entanto, perto do dia aprazado para a viagem, a ‘psiquiatra’ arranjou desculpas para que a não fizessem, como a de que a Clínica espanhola tinha adiado a entrada do jovem no internamento. E este continuou a ser seguido por ela, com pagamentos por consulta que somaram, seis mil euros, até março de 2019.
Em dezembro de 2018, o jovem teve um surto psicótico grave e foi internado de Urgência no Hospital de Braga. Apesar disso, a arguida convenceu os pais a tirarem o filho do Hospital, tendo, para isso, assinado o respetivo termo de responsabilidade.
Foram a Madrid e ‘nada’
Em janeiro de 2019, a irmã e o pai do jovem meteram-se no avião para Madrid para ir à tal Clínica. Chegaram à morada indicada e não havia lá nada. Aí, a médica desfez-se em desculpas, dizendo que tinham mudado de sítio e que nem lhe atendiam o telefone.
Nesse entretanto, Ana Cristina mudou de apartamento e, no novo, montou uma espécie de Gabinete clínico com batas de médico, uma delas com um bordado a dizer: “Hospital de Santa Maria”. E tinha caixas de medicamentos naturais e outros artefactos médicos a decorar o espaço.