Mais de uma centena de imigrantes manifestam-se junto à AIMA

Para contestar a falta de respostas das autoridades portuguesas
Foto: Lusa

Mais de uma centena de imigrantes asiáticos concentraram-se esta manhã em frente à Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA), em Lisboa, para contestar a falta de respostas das autoridades portuguesas e exigir direitos iguais para todos.

“Direitos iguais para todos”, “somos todos legais”, “não mais espera” e “residência para todos” são algumas das frases gritadas pelos imigrantes asiáticos na manifestação promovida pela Associação Solidariedade Imigrante.

Em declarações aos jornalistas, o presidente da associação, Timóteo Macedo, criticou o acordo assinado recentemente entre o Estado português e as entidades patronais para a contratação nos países de origem, conhecido como Via Verde, dizendo que desta forma os trabalhadores vão ficar “escravizados e nas mãos dos patrões”.

Em declarações anteriores à agência Lusa, o presidente da associação referiu que têm recolhido muitas queixas de imigrantes do Bangladesh, Nepal, Paquistão e Índia. “[Aqueles] que o Estado português não quer aceitar”, adiantou.

“Queremos políticas públicas decentes de imigração. Queremos que o Governo ponha a AIMA a funcionar de forma eficaz (…), com trabalhadores não precários. Isto não deve ser uma contratação de serviços, deve ter trabalhadores efetivos e motivados para resolver os problemas dos imigrantes”, afirmou Timóteo Macedo.

O responsável exigiu ainda do Governo “outro olhar para as questões da imigração”: “O Governo não deve olhar para os imigrantes como pessoas descartáveis”.

Lembrou que “Portugal precisa de milhares de imigrantes para resolver os seus problemas” e, por isso, “não pode fechar os olhos”.

“Os portugueses têm familiares que já foram imigrantes e não gostariam que lhes fizessem o que estão a prometer fazer com estes. Expulsá-los, tratá-los como descartáveis”

A propósito do acordo assinado entre o Estado portugueses e entidades patronais, Timóteo Macedo afirma: “a mentalidade neocolonial está a regressar”.

“Nenhuma entidade patronal vai contratar gente que não conhece. Eu, se fosse patrão, também não mandava vir uma pessoa, seja de onde for, que não conhecesse. As pessoas vão vir e ficar acorrentadas aos patrões. E há muitos patrões sem escrúpulos”, lamentou.

Além das críticas ao acordo, aponta ainda o facto de muitos imigrantes que foram identificados como irregulares noutros países europeus estarem a ser colocados numa “lista de não admissão do espaço Schengen”, não tendo, por isso, resposta da AIMA.

Segundo a associação, só no Porto são cerca de 800 imigrantes indianos que “não conseguem ter documentos porque o seu nome está na lista de não admissão”.

“A AIMA devia fazer os possíveis para entrar em contacto com esses países para retirar os nomes destas pessoas, que estão cá a viver, a trabalhar e têm descontos para a Segurança Social”, afirmou o responsável.

A meio da manhã, quando a manifestação já contava com cerca de 300 pessoas, a coordenadora nacional do Bloco de Esquerda deslocou-se ao local para manifestar solidariedade com a comunidade imigrante e exigir respostas das autoridades.

“Estas pessoas estão aqui porque vieram para Portugal à procura de uma vida melhor e Portugal, que precisa destes trabalhadores e destas pessoas, que usa as suas contribuições para pagar as reformas e para ajudar a construir o país não lhes respondeu com a dignidade que merecem”, afirmou Mariana Mortágua, em declarações aos jornalistas.

Mortágua considerou que “o Estado falhou” com estas pessoas, lamentando os processos burocráticos que “impedem que possam sair do pais e ir ver as famílias”.

“É preciso documentação a tempo e horas, permitir que as famílias se possam unir para haver integração e um investimento forte nos serviços públicos, nas escolas e no ensino na língua, para que possam acompanhar o crescimento da economia e a vinda de imigrantes”, afirmou a responsável, acrescentando: “Queremos uma sociedade solidária e justa”.

A coordenadora nacional do BE lembrou ainda que “todas as situações que dificultam a regularização de imigrantes levam ao surgimento de máfias”: “Quando um imigrante não consegue aceder a um serviço público, vai haver um intermediário, ou uma máfia, que vai fazer com que isso aconteça. Se não há canais legais que permitam a regularização, são os angariadores que vão tomar o lugar das políticas estatais justas, iguais e eficazes”.

“O Governo fez o contrário. Fechou todos os canais legais, empurrou as pessoas para a clandestinidade, empurrou as pessoas para as máfias e agora diz que algumas empresas vão poder escolher alguns imigrantes (…). O resto da economia virá por via de máfias e angariadores ilegais”, concluiu.

 
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