Artigo de Opinião

Rui Maia
Licenciado em História, mestre em Património e Turismo Cultural pela Universidade do Minho – Investigador em Património Industrial.
A Ponte do Porto localiza-se entre as freguesias de Pousada (Braga) e Prozelo (Amares), realizando a travessia sobre o rio Cávado. A sua denominação remete-nos etimologicamente para a palavra “porto”, outrora conotada com “ponto de passagem”.
O local onde se inscreve essa magnifica obra de arte do engenho humano parece envolto numa aura metafisica, tal é o impacto que causa em simbiose com a natureza que a abraça. As águas límpidas do Cávado refletem a vegetação exuberante que ladeia as suas margens, águas essas que ondulam ao sabor da brisa, onde patos e outras aves convivem harmoniosamente num ecossistema aparentemente sadio. Ao longe vislumbram-se as montanhas raiadas pelo sol, como se tocassem os céus, cujas encostas vertem a essência da vida, preenchendo riachos e rios buliçosos que correm para o mar.
O Homem ao longo de milénios sentiu a necessidade de anular as barreiras geográficas, como os rios, os precipícios ou outras, edificando obras de arte que lhe permitem vislumbrar mais além. As distâncias encurtam-se, as transações comerciais facilitam-se e, tudo ao seu redor, parece-lhe mais próximo e pequeno. A hodiernidade abstrai o Homem até das suas mais belas criações, distraído que anda com o mundo que se esvazia de sentidos, sentimentos e paixões. O Homem enreda-se nas redes, nas teias da fantasia, nas quimeras de pequenos ecrãs, nada tinge mais os seus horizontes do que os pixéis da tecnologia. Em pleno século XXI tudo parece vago, fugaz e descartável, mas nem sempre foi assim, sobretudo quando o Homem, esse ser desassossegado e inconstante, pelejava entre si para conquistar o seu lugar ao sol.
“O paradigma mudou, como nesse pitoresco lugar, onde da velha Ponte do Porto se vislumbra a jusante outra ponte a pairar, de betão armado, levando no seu tabuleiro a Nacional 205, adentrando terras de pecado”
A Ponte do Porto é uma obra medieval executada em meados do século XIV, cujas fundações nos remete para tempos romanos. A estrada com origem em Braga passava o rio Cávado na Ponte do Porto, ia a Amares (onde existiu uma albergaria) bifurcando para o traçado da Geira, a este, ou, seguindo direção norte, passando o rio Homem através da Ponte de Rodas, em direção a Ponte da Barca.
Trata-se de uma Ponte relativamente comprida (cerca de 150 m), e esguia (2,8 m), cujo tabuleiro é horizontal, com duas rampas de acesso. A secção horizontal do tabuleiro é constituída por quatro arcos quebrados, a parte alta dos três pegões que os separam possui olhais. Os arcos restantes, em número de dez, caracterizam-se por dimensões e forma desiguais. A Ponte apresenta regularmente contrafortes com talha-mares triangulares e talhantes retangulares. O tabuleiro é protegido por parapeito de granito de baixa dimensão, ao meio surge uma placa de ferro encastrada no granito onde se lê “Rio Cávado”.
A Ponte do porto está classificada como Monumento Nacional, pelo Decreto de 16 de junho de 1910.