A ministra da Cultura sublinhou hoje a importância de homenagear o escritor Camilo Castelo Branco, a dias do seu bicentenário, e realçou a necessidade de preservar e divulgar a obra do autor pelo país.
“É fundamental homenagear Camilo Castelo Branco enquanto figura histórica, homenagear o seu legado, que temos de estudar, preservar e divulgar. E, fundamentalmente, estar em todo o território. Ou seja, agir em todo o país significa que os governantes reconheçam a importância das singularidades locais, mas que tenham sempre presente que se trata de figuras […] que podem ser de Seide, mas que podem ser de todo o país e do mundo”, afirmou a ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, aos jornalistas, à saída da cerimónia de abertura do Congresso Internacional “Camilo Castelo Branco, 200 anos depois”, no Centro de Estudos Camilianos, em São Miguel de Seide, no concelho de Vila Nova de Famalicão.
Questionada sobre a relevância do autor de “Amor de Perdição” hoje, a governante frisou que “toda a obra de Camilo Castelo Branco é de uma grande atualidade”, acrescentando que o que mais a surpreende em Camilo “é a dimensão emocional que coloca na sua escrita”.
“Creio que a maioria dos portugueses leu Camilo Castelo Branco no contexto escolar e espero que o possam ler – quem não teve essa oportunidade – no âmbito das bibliotecas públicas cuja dinamização e transformação em unidades culturais de território estão a ser objeto das políticas culturais deste Governo”, afirmou Dalila Rodrigues, que lembrou que as bibliotecas vão “dinamizar um conjunto de programas que vão resultar de parcerias entre os municípios e o Ministério da Cultura”.
A ministra deixou ainda um elogio ao município de Famalicão, pelo trabalho de preservação e divulgação da obra de Camilo Castelo Branco.
O congresso internacional que hoje se inicia no Centro de Estudos Camilianos e na Casa de Camilo vai prosseguir até domingo, dia do bicentenário de Camilo Castelo Branco (1825-1890), reunindo no local onde o escritor viveu grande parte da vida dezenas de especialistas nacionais e internacionais na sua obra.
“Camilo é tão valioso como um Machado de Assis, um Dante, um Shakespeare”, afirmou esta semana à Lusa o diretor do Centro de Estudos Camilianos, Sérgio Guimarães de Sousa, acrescentando que, “de uma maneira ou de outra”, ainda hoje os portugueses são descendentes da escrita de Camilo Castelo Branco e do seu “universo de eleição”, remetendo para o interior do país e para a região Norte.
Até 31 de agosto, no Centro de Estudos, é possível visitar a exposição “Jorge. Desenhos do meu filho”, constituída por desenhos da coleção do filho de Camilo Castelo Branco e Ana Plácido, que teve a edição de um catálogo a acompanhar.
Ao longo do ano, vão multiplicar-se as iniciativas e as edições literárias para assinalar os 200 anos do nascimento do escritor.
Camilo Castelo Branco nasceu em 16 de março de 1825 na Rua da Rosa, em Lisboa, e perdeu a mãe aos 2 anos e o pai aos 10, tendo ido viver com uma tia para Vila Real. Ao longo da extensa carreira jornalística e literária, assinou obras que viriam a ser livros maiores da literatura em português, de “Amor de Perdição” a “Doze Casamentos Felizes”, entre muitos outros.
Homem de vários interesses, profissionais e amorosos, é preso na Cadeia da Relação do Porto, a par de Ana Plácido, acusados de adultério, dada a existência do casamento de Plácido com o comerciante Manuel Pinheiro Alves. Ambos foram absolvidos.
Um dos dois “gigantes” literários do século XIX português, a par de Eça de Queirós, na opinião de Sérgio Guimarães de Sousa, Camilo Castelo Branco, já cego devido à sífilis de que padecia, suicidou-se em 01 de junho de 1890.