Nacionalismo exacerbado é uma cebola – corta-a bem

O nacionalismo exacerbado é uma cebola, e o liberalismo é a faca que corta as suas camadas e acaba com divisões
Imagem: DR

ARTIGO DE OPINIÃO

Mário Coelho

Engenheiro e membro da Iniciativa Liberal

Ponto de partida

Nos últimos dias temos assistido a um vasto leque de manifestações de nacionalismos. Como diz o famoso genérico, “em casa, no carro, em todo o lado”, somos bombardeados com notícias que nos induzem a crer que o mundo está perdido.

Parece que o tema, e o medo que gera, se tornaram omnipresentes, inevitáveis e, pior que tudo, sem solução. Mas nada temam.

Se o nacionalismo exacerbado é uma cebola, a solução existe e até já lhe sinto o cheiro.

O caso – onde está o nacionalismo exacerbado?

Na verdade, é mais do que um caso. Aqui ficam alguns exemplos de diferentes formas de nacionalismo que temos visto nos últimos dias.

Naturalmente que poderia elencar mais casos, mas já temos aqui uma boa tripla para ilustrar o cenário. Um nacionalismo mais global, outro mais local e outro mais emocional. Parece o início de uma anedota, mas sem graça alguma neste caso.

O nacionalismo é uma cebola

Com toda a certeza, esta teoria tem um nome qualquer mais elegante, atribuído por quem estuda estas questões. Eu gosto desta analogia da cebola, por ser muito fácil de explicar.

  • Na camada do meio da cebola está a minha família. As que estão fora, não prestam.
  • Na camada seguinte, a única freguesia boa – a minha. As outras não prestam.
  • Na camada seguinte, a minha cidade – a melhor. As outras não prestam.
  • Na camada seguinte, o meu país – o melhor do mundo. Os outros não prestam.

Certamente que já deu para perceber a lógica da coisa.

Eventualmente, o que talvez não tenha ficado claro é que, quando o nacionalista está numa camada, o seu nacionalismo é válido também para as camadas abaixo. Explicando, agora de forma mais rápida.

  • Na camada do país, todos os meus concidadãos são excelentes, independentemente da sua cidade.
  • Na camada da cidade, pessoas de todas as freguesias são excelentes também.
  • Na camada da freguesia, todos são os melhores fregueses.
  • Imagine-se que, até na camada da minha família, todos são espetaculares!

Mas se o nacionalismo exacerbado é, afinal de contas, uma cebola, o que fazer com ele? Fácil. Pica-se bem picadinho e usa-se para fazer um estrugido. O segredo aqui, como em qualquer bom cozinhado, é saber como tratar os alimentos – a cebola, no caso.

A faca do liberalismo

O liberalismo defende, tal como o nome permite antever, pessoas livres, mercados livres, sociedades livres e cidadãos livres. Ou seja, e voltando à teoria da cebola, o liberalismo pode ser a faca que corta as diferentes camadas da cebola dos nacionalismos e permite que, pela via da liberdade de cada indivíduo ser o que quiser e se realizar como bem entender, sejamos todos uma mesma camada – a camada dos seres humanos.

Portanto, aos olhos do liberalismo, somos todos iguais, não importa a nação, freguesia ou clube, para usar os exemplos acima. Assim, parece-me lógico assumir que, havendo facas liberais suficientes, podemos acabar com os nacionalismos que, por estes dias, nos fazem chorar – tal como as cebolas.

O que podemos fazer

Visto que teremos em breve eleições autárquicas, esta vai ser mais uma oportunidade para darmos força aos liberais. Para reforçarmos a faca que pode ajudar a cortar os nacionalismos que infestam o nosso mundo, uma camada da cebola de cada vez.

No curto prazo, com liberais nas freguesias e nos municípios, serão menos duas camadas da cebola nacionalista para nos preocuparmos.

No médio prazo, trataremos de os levar ao Governo do país.

A longo prazo, e ainda que nos pareça utópico a esta distância, chegaremos à cebola de uma só camada.

Como dizia Saramago, “não tenhamos pressa, mas não percamos tempo”.

E eu acrescento, “para não deixar queimar o estrugido!”

 
Total
0
Partilhas
Artigos Relacionados