Portugal tem 3% do pescado com certificação sustentável mas sardinha pode dar “empurrão”

Conclusão de uma organização internacional
Foto: Lusa

Apenas 3% do pescado consumido em Portugal tem um selo de sustentabilidade, o que representa mais de 16.000 toneladas, num total de 445 produtos e 72 empresas com certificação ativa, mas a sardinha pode impulsionar estes números.

A conclusão é do MSC – Marine Stewardship Council, uma organização internacional sem fins lucrativos, presente em Portugal, que distingue os esforços das frotas em proteger os oceanos e a vida marinha, atribuindo um “selo azul” que é colocado nos produtos capturados de forma sustentável.

“Em Portugal temos 445 produtos com o selo azul e 72 empresas com certificação ativa [da cadeia de custódia do MSC]. No entanto, isto representa só 3% do total do pescado consumido em Portugal”, ou seja, mais de 16.000 toneladas, revelou o diretor ibérico do MSC, Alberto Martín, em entrevista à Lusa.

A certificação da cadeia de custódia permite às empresas manipular e comercializar pescado certificado. Já a certificação da pescaria é o padrão do MSC mais difícil de alcançar, uma vez que só o processo de auditoria demora cerca de um ano.

O processo, que é conduzido por um auditor externo, avalia quase 30 indicadores, divididos em três grupos – o primeiro tem em conta, por exemplo, se o estado da espécie é bom e o segundo se a pescaria tem impactos ambientais significativos e irreversíveis, enquanto o terceiro avalia a governança.

Se cumprirem estes requisitos, as empresas recebem a certificação. Contudo, esta tem cinco anos de “validade” e, anualmente, os auditores vão atestar os progressos da pescaria em causa.

Alberto Martín disse que 90% das pescarias que conseguem uma certificação têm, ainda assim, de fazer algumas melhorias.

Se as pescarias apresentam atraso de um ano na implementação dessas mesmas melhorias podem continuar com a certificação, mas se o atraso for de dois anos aplica-se uma suspensão.

“Passados cinco anos têm de começar o processo outra vez. As pescarias não são estáticas, podem mudar ao longo do tempo. Com fenómenos como as alterações climáticas, que estão a provocar impactos ao longo do tempo, [as pescarias] podem ter diferentes cenários que mudam os seus parâmetros”, explicou.

No mercado português, as espécies certificadas mais representativas são o bacalhau, a pescada, o paloco, o atum e o salmão.

Por sua vez, o ‘senior program development do MSC para Portugal’, Rodrigo Sengo, destacou que “ainda há muito a fazer” em relação a espécies como o bacalhau, dada a tradição de consumo no país.

Já o atum de conserva “não é fácil de trabalhar”, uma vez que, apesar de existir disponibilidade da matéria-prima, a sua integração nos mercados é desafiante.

Apesar de representar 3% do pescado consumido em Portugal, o selo azul do MSC está a crescer neste mercado e pode ser impulsionado pela sardinha, quando esta espécie recuperar a sua certificação.

Porém, até ao próximo verão, quando a sardinha deverá ter concluído parte do processo, é cedo para fazer projeções sobre o crescimento desta percentagem uma vez que ainda não estará disponível uma “fotografia clara” do que pode acontecer.

No período 2023/24 foram exportados 237 produtos com o selo azul, sobretudo para “o mercado da saudade” – Luxemburgo, França, Alemanha e também Brasil-, representaram 57.000 toneladas e geraram 45 milhões de euros.

Em média, cada português consome, anualmente, 55 quilogramas de pescado.

De acordo com um estudo do MSC, que entrevistou 27.000 pessoas em todo o mundo, em Portugal, 75% dos entrevistados defendem a necessidade de mudar para fontes mais sustentáveis.

Em 2024, 46% dos consumidores portugueses reconhecem o selo azul do MSC, quando, em 2020, esta percentagem estava em 41%.

Para sensibilizar os cidadãos para a importância da captura sustentável para garantir a disponibilidade de pescado para as gerações futuras, o MSC promove iniciativas como a semana Mar Para Sempre, que este ano contou com a presença do ex-futebolista e atual armador Fábio Coentrão.

 
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