Nesta pacata aldeia de Montalegre ninguém desconfiava que o novo vizinho era um fugitivo

Fernando Ferreira estava sozinho numa casa há 15 dias
Foto: DR e Ivo Borges / O MINHO

Fernando Ribeiro Ferreira, um dos cinco fugitivos do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, em Lisboa, foi hoje recapturado, pela Polícia Judiciária (PJ), na aldeia de Castanheira, freguesia de Chã, em Montalegre.

Naquela pacata aldeia, a notícia apanhou todos de surpresa. Os vizinhos com quem O MINHO falou contam que nunca desconfiaram que o novo vizinho era um dos evadidos de Vale dos Judeus.

Segundo a vizinhança, Fernando Ribeiro Ferreira estaria há cerca de 15 dias na casa em que foi detido.

A casa onde estava Fernando Ferreira. Foto: Ivo Borges / O MINHO

Todos os dias, o fugitivo saía, por volta das 11:00, para comprar pão. O resto dos mantimentos ninguém sabe onde os adquiria pois nas redondezas não há mercearias.

A casa onde se encontrava – ainda segundo os vizinhos – foi comprada há “alguns tempos” por um homem estrangeiro, de pronúncia espanhola, que a restaurou e já há muito por ali não é visto.

A casa onde estava Fernando Ferreira. Foto: Ivo Borges / O MINHO

Pouco antes, estivera lá a residir outro indivíduo. Assim, além da surpresa, há algum medo, dada a proximidade a Espanha, de aquela localidade isolada estar a ser usada como esconderijo de criminosos.

Só agora, que souberam da detenção, os vizinhos começam a juntar todas peças do puzzle. Um deles contou a O MINHO que há dias vira por ali um ‘drone’, deduzindo, agora, que já fosse a PJ a monitorizar o suspeito.

A casa onde estava Fernando Ferreira. Foto: Ivo Borges / O MINHO

Ainda tentou fugir

Em conferência de imprensa, a diretora da Unidade Nacional Contraterrorismo, Manuela Santos, referiu que o paradeiro do evadido já era conhecido das autoridades “há alguns dias” e que o cidadão português ainda tentou a fuga.

Entretanto, Fernando Ferreira foi levado para a cadeia de alta segurança de Monsanto, em Lisboa.

A PJ assinala que Fernando Ribeiro Ferreira tem uma “extensa carreira criminal, referenciado pela prática de criminalidade especialmente violenta mas, também, no âmbito da criminalidade altamente organizada, dos quais se destacam os crimes de associação criminosa, homicídio, rapto, roubo à mão armada, tráfico de estupefacientes e detenção de arma proibida”.

Tem como data da primeira reclusão o ano de 1980, cumprindo, aquando da fuga, uma pena de prisão de 24 anos, associada a 11 condenações.

Manuela Santos e o diretor da PJ, Luís Neves, salientaram o trabalho “de filigrana” desenvolvido e a importância de manter o silêncio nestas operações.

A casa onde estava Fernando Ferreira. Foto: Ivo Borges / O MINHO

Fernando encontrava-se sozinho na casa e tentou fugir quando se apercebeu da presença dos agentes policiais, “mas não teve qualquer hipótese de sucesso”, revelou Manuela Santos.

“Ele tentou a fuga quando percebeu que ia haver uma entrada da residência, mas não houve qualquer hipótese de sucesso”, uma vez que a “situação estava controlada”, disse a diretora na unidade de contraterrorismo da PJ.

“Elevado grau de preparação”

A responsável acrescentou que desde a fuga dos cinco reclusos, em 07 de setembro, têm sido desenvolvidas todas as diligências para os encontrar.

O diretor da PJ acrescentou que o detido tinha na sua posse material que revela um “elevado grau de preparação e de cuidado”.

A casa onde estava Fernando Ferreira. Vídeo: Ivo Borges / O MINHO

A equipa de investigação encontrou “armas com silenciador, várias munições”, equipamentos para impedir a interceção das comunicações e binóculos de visão noturna e longo alcance, enumerou Luís Neves.

“Tudo indica que este material tenha sido utilizado no apoio” à fuga da cadeia de Vale de Judeus, acrescentou Manuela Santos.

Três por capturar

Ainda no que se refere aos três reclusos que ainda não foram capturados – um cidadão da Geórgia, Shergili Farjiani, um da Argentina, Rodolf José Lohrmann, e um do Reino Unido, Mark Cameron Roscaleer, a diretora da unidade nacional de contraterrorismo disse que foram feitos “contactos desde a primeira hora a nível internacional, não só com os países de origem dessas pessoas, mas com todos os outros onde possa haver algum tipo de contacto”.

“Todas as entidades policiais congéneres estão alertas e atentas e há um canal especial dedicado a esta matérias. Têm vindo alguns alertas”, mas que não foram confirmados, disse Manuela Santos.

“Temos tempo”

Em relação aos que estão em fuga, diretor nacional da PJ diz: “nós temos tempo”.

“Podemos demorar um mês, dois meses, como podemos demorar anos até chegar ao resultado que é a recaptura de todos os evadidos, os outros três, sendo certo que este é um trabalho que corre em paralelo com a investigação criminal relativamente à fuga”, assegurou Luís Neves.

Manuela Santos sublinhou ainda que, além do trabalho para encontrar os restantes evadidos, continuam a decorrer investigações sobre como decorreu todo o processo da retirada de presos e de evasão para saber, nomeadamente, “quem colaborou na sua fuga”.

“Esperamos conseguir apresentar alguns resultados dentro de algum tempo”, anunciou.

Artigo de Ivo Borges com Lusa

 
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