O secretário-geral do PS acusou hoje o primeiro-ministro de falhar aos portugueses, face aos problemas na área da saúde, e pediu ao Presidente da República coerência na forma como lida com estes temas.
Pedro Nuno Santos reuniu-se esta tarde com a administração do Hospital Garcia de Orta, em Almada, Setúbal, tendo no final da visita, em declarações aos jornalistas, considerado que os acontecimentos dos últimos dias sobre o INEM levaram a um sentimento de “grande insegurança” face aos responsáveis governativos, alegando que “não estão a cuidar como deve ser da saúde em Portugal”.
“A pergunta que também se coloca ao dia de hoje, passados estes dias todos desta crise no INEM, é qual é o tempo que o senhor primeiro-ministro dedica ao tema da saúde em Portugal. Até agora não vimos uma declaração de preocupação, de empatia”, criticou.
O líder do PS acusou Luís Montenegro de, num tema que estabeleceu como prioritário na campanha e sobre o qual fez muitas promessas, estar “a falhar ao país e aos portugueses”.
“Relativamente ao INEM a única declaração que tivemos do senhor primeiro-ministro foi uma declaração de desvalorização do tema. É tempo de o senhor primeiro-ministro vir a terreiro falar desta crise que nós estamos a viver na emergência médica em Portugal”, apelou.
Questionado sobre a atuação do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, sobre esta polémica do INEM, Pedro Nuno Santos respondeu que a sua atenção está centrada no Governo e disse “não fazer julgamentos” do chefe de Estado.
“Acho obviamente que qualquer político deve ser coerente ao longo do tempo que está em funções e, portanto, espero que o senhor Presidente da República não lide de forma diferente com estes temas como lidou no passado com outros. Isso obviamente que posso pedir, essa coerência na forma como se trata destes temas”, pediu.
Sobre a declaração da ministra da Saúde, Ana Paula Martins, de que 70% do seu tempo será dedicado ao INEM, pasta que chamou a si depois da polémica dos últimos dias, o líder do PS considerou que isso “significa que resta 30% de tempo para dedicar ao SNS e à saúde em Portugal”.
“Não sei se a afirmação foi preparada com os consultores, mas a verdade é que nos preocupa que a senhora ministra ache que só precisa de dedicar 30% do seu tempo ao SNS”, criticou.
Pedro Nuno Santos considerou que a chamar a si este tema “não inspira grande confiança” porque “há uma desautorização, há um assumir publicamente que a senhora secretária de Estado não soube gerir o dossiê”, o que “diz mais sobre a senhora ministra do que sobre os outros membros do Ministério da Saúde”.
“Não precisamos de esperar pelos inquéritos para saber que a forma como foi gerida toda esta greve foi grave porque teve consequências. A senhora ministra pode assumir a responsabilidade já pela forma irresponsável, incompetente e negligente com que lidou com este tema”, afirmou.
Pedro Nuno Santos condenou que os portugueses estejam “permanentemente consumidos com a forma caótica com que a senhora ministra vai gerindo o setor da saúde”, perdendo-se de vista aquilo que é preciso “preparar para futuro”.
“Ainda não ouvimos a ministra a dizer nada sobre a preparação para o inverno que aí vem”, lamentou.
As mortes de 11 pessoas alegadamente associadas a falhas no atendimento do INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica) motivaram a abertura de sete inquéritos pelo Ministério Público (MP), um dos quais já arquivado. Há ainda um inquérito em curso da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS).
A demora na resposta às chamadas de emergência agravou-se durante a greve de uma semana às horas extraordinárias dos técnicos de emergência pré-hospitalar, que reclamam a revisão da carreira e melhores condições salariais.
A greve foi suspensa após a assinatura de um protocolo negocial entre o Governo e o sindicato do setor.