Agências de viagens acusam BTL de usar “sucesso do setor para obter mais e mais dinheiro”

Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo
Foto: Lusa

A Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo vai abandonar a BTL em 2025, acusando a organização da maior feira de turismo de Portugal de usar “o sucesso do setor para obter mais e mais dinheiro”. 

A decisão da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) de estar fora da Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL) no próximo ano já tinha sido avançada pela imprensa especializada, mas sem detalhes. 

Hoje, no discurso de abertura do 49.º Congresso APAVT, que se inicia em Huelva, na Andaluzia, em Espanha, o presidente da associação que representa as agências de viagens apontou as razões. 

“Bem sabemos que o mercado há muito nos pede uma justificação para a saída da BTL, em 2025. Não vamos fugir a ela, evidentemente, começando por recordar um momento importante, quando, em 2020, uma BTL foi cancelada, devido à pandemia: o mundo tinha parado e tínhamos já pago verbas muito significativas à BTL, de acordo com o processo de contratação da feira desse ano. Na APAVT ninguém se esqueceu ainda que, a pedido dos representantes da feira, decidimos não exigir o reembolso das verbas entregues à entidade que gere a feira do turismo português, apesar de naturalmente termos devolvido todo o dinheiro que nos tinha sido pago pelos nossos associados”, começou por contar Pedro Costa Ferreira. 

Por outras palavras, acrescentou, a APAVT “financiou a BTL, fragilizando a própria tesouraria com verbas muito significativas”, naquele que – reforça – “era um dos momentos mais críticos” da existência da associação. 

A BTL é organizada pela Fundação AIP, sendo Dália Palma a diretora da feira.

Segundo o responsável, ultrapassada a pandemia, “estes mesmos parceiros […] fizeram exigências financeiras, “obrigando dezenas de associados” da APAVT a abandonar a feira. 

Ainda assim, disse que “não é isso que está em causa”, mas sim o facto de considerar que a BTL, “enquanto necessitou da APAVT”, acordou um preço que, entre outras coisas, tornou o seu stand o maior dos privados da feira, bem como “o maior dinamizador” de alguns dos programas que a BTL promove.

“Na altura, não foi um preço baixo. Foi o investimento mais certeiro da BTL, com um retorno inimaginável há dez anos. E quando a BTL achou que o turismo estava forte e que a feira estava consolidada, decidiu empurrar-nos do comboio do sucesso, para nos substituir por mais e mais dinheiro”, reclamou.

A APAVT refere-se a esta saída da BTL como o fecho de um ciclo de mais de dez anos, o qual “não tem regresso possível”.

“O que nos interessa […] é se temos uma feira para o Turismo, um evento que dinamiza, promove e consolida o nosso setor, ou se temos o Turismo para uma feira, uma organização que se tornou gulosa e que apenas usa o sucesso do setor para obter mais e mais dinheiro, sem a menor articulação, ou mesmo respeito, pelos diversos ‘stakeholders’ [agentes]”, questionou Pedro Costa Ferreira.

Perante uma plateia com personalidades de várias atividades do setor turístico, Pedro Costa Ferreira lançou um desafio ao presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP). 

“Há uns anos, em sede de CTP, estimulei o seu presidente a tomar politicamente conta da BTL, impedindo que o turismo fosse utilizado por um mero processo de recuperação empresarial. Hoje, Dr. Francisco Calheiros, reforço esta posição e lanço-lhe o desafio. Precisamos de uma feira que sirva o turismo e que se articule com os seus estrategas, decisores e protagonistas, não precisamos que o turismo seja unicamente fonte alimentadora de uma necessidade crescente de realizar receitas”.

O congresso da APAVT decorre até 26 de outubro, em Huelva, e conta com cerca de 750 congressistas.

*** A agência Lusa viajou a convite da APAVT ***

 
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