Ex-deputada de Braga entre os críticos internos de Mariana Mortágua no Bloco de Esquerda

Alexandra Vieira
Foto: Facebook / Arquivo

Alexandra Vieira, ex-deputada do Bloco de Esquerda eleita por Braga, está entre críticos da atual direção do BE que afirmam que querem salvar o partido da “dissolução política” e apontam falhas de democracia interna, num documento alternativo subscrito por alguns elementos que integravam a lista apresentada por Mariana Mortágua à Mesa Nacional.

Estas críticas constam de um documento global alternativo àquele que foi apresentado pela Comissão Política do BE e que será discutido na V Conferência Nacional do partido, que decorre no próximo fim de semana, no Porto.

No texto é defendido que “as sucessivas derrotas que levaram o Bloco de um peso eleitoral de cerca de 10% para os atuais 4%, de um grupo parlamentar de 19 para cinco deputados” foram resultado de “erros de estratégia política eleitoral centrada na contabilização de possíveis mandatos” como a “sugestão de possíveis cargos do Bloco em futuros governos” ou no “namoro a posições social-democratas em campanhas eleitorais”.

Na opinião destes subscritores, faltou também a apresentação de “propostas que configurassem verdadeiras alternativas ao PS e PCP”.

Este documento é assinado por vários elementos que integravam a lista de Mariana Mortágua à Mesa Nacional do partido – órgão máximo entre convenções – alguns deles eleitos, como é o caso dos dirigentes Adelino Fortunato (que também integra a Comissão Política), Alexandra Vieira (antiga deputada), Helena Figueiredo e José Manuel Boavida.

O antigo deputado à Assembleia da República Heitor de Sousa também subscreve a proposta alternativa, que defende que desde o fim da ‘geringonça’, o BE “entrou em trajetória de declínio” e que os impactos desta solução governativa realçaram “a fragilidade ideológica do partido” e acentuaram a sua “dimensão social-democrata”.

“Os ziguezagues de orientação política acabaram por o isolar e empurrar para o atual modelo de «movimento dos movimentos», onde se resvala amiúde para abdicar de defender posições políticas próprias, em nome de um suposto apartidarismo dos movimentos, o que o conduz à dissolução política”, defendem.

Estes críticos apontam que “quer o debate interno, e com outras vozes na esquerda, quer a militância, têm sido substituídos por centralização de decisões em torno de um pequeno grupo que circula entre S. Bento e a Rua da Palma, sem ligação nem às estruturas do Bloco, nem à sociedade”.

Na visão destes bloquistas, o modelo atual do partido “está esgotado, tanto no plano político como organizativo”, “as viragens não explicadas de orientação e a prática interna dominante apontam para a decadência e para a degenerescência” e “já há sinais disso” com uma “organização desmotivada, desmobilizada, sem atividade”.

“O Bloco, hoje, parece ser apenas um pequeno grupo que toma todas as decisões sem ouvir, nem prestar contas aos militantes. O modelo parece ser mais o de influenciadores das redes sociais do que de um partido democrático”, criticam.

No texto, é proposta a apresentação de listas próprias às eleições autárquicas, que devem incorporar independentes sempre que possível. A intenção de assegurar lugares já conquistados a nível autárquico, “não se deve sobrepor à lógica do combate político mais geral, não só contra a direita, mas também contra as políticas erradas do PS e do PCP”, é alertado.

Por considerarem que a Conferência Nacional não tem competência para alterar a linha política do partido, os eleitos à Mesa Nacional pela lista E, opositora à lista de Mariana Mortágua, não apresentaram uma proposta alternativa à da Comissão Política.

Contudo, alguns desses bloquistas, nomeadamente o antigo deputado Pedro Soares, que foi o rosto da lista opositora na última convenção, assinam textos que serão debatidos no Porto.

Num desses textos, subscrito por Pedro Soares e Diogo Borges, é defendido que o BE “caminha para um pequeno partido «de eleitores»”, “tem vindo a perder contacto com a realidade”, “privilegia o parlamentarismo, afunda-se em manobras táticas, aliena a democracia interna e a participação, não tem capilaridade a partir da base”.

“Continuar por esse caminho é prosseguir com o ciclo das derrotas”, avisam.

 
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