Há precisamente 881 anos, Afonso Henriques, na altura já auto-proclamado Rei de Portugal, assinou o Tratado de Zamora com o seu primo Afonso VII, diploma que veio restaurar a paz entre o condado portucalense e o reino de Leão, reconhecendo Portugal como um reino soberano.
Por essa razão, monárquicos costumam celebrar este dia – que curiosamente é feriado em Portugal por causa da Implantação da República e queda da Monarquia, em 1910 – como sendo o primeiro do Reino de Portugal.
Os primos nobres tinham já um acordo de paz em vigor, o Acordo de Tui, que reconhecia o valor de Afonso Henriques na batalha contra os mouros, mas após a mítica vitória na batalha de Ourique, em 1139, Afonso auto-proclamou-se Rei de Portugal, mesmo à revelia de Leão e do Vaticano, e invadiu a Galiza.
Seguiram-se batalhas, como o célebre Recontro de Valdevez, que culminaram com o Tratado de Zamora, a 05 de outubro de 1143.
O tratado foi assinado muito graças ao Arcebispo de Braga, João Peculiar, que conseguiu reunir os dois Afonsos em Zamora, na presença de uma entidade do Vaticano, no caso o cardeal De Vico.
Apesar de, nesse tratado, Afonso VII ter reconhecido Portugal como um reino soberano, o Vaticano apenas aceitaria esse conceito 1179, pela mão do Papa Alexandre III.
É que o representante do Papa naquela Conferência, chama a Afonso Henriques apenas dux portucalensis, e nada de rei. O problema para o nobre de Guimarães é que, naquela época, em plena Idade Média, o Papa detinha grande autoridade sobre o poder dos reis, pelo que o seu reconhecimento era fundamental para ser realmente reconhecido como tal por entre os parceiros católicos.
Depois de longas negociações diplomáticas, surge finalmente a Bula Manifestis Probatum, de 23 de maio de 1179, em que o Papa Alexandre III reconhece, de direito, o reino de Portugal e o título de rei a D. Afonso Henriques,
Bula Manifestis Probatum do Papa Alexandre III pela qual é reconhecido o Reino de Portugal Sabemos por evidentes sucessos que como bom filho e príncipe católico tendes feito vários serviços à sacrossanta Igreja, vossa mãe, destruindo valorosamente os inimigos do nome cristão, dilatando a fé católica por muitos trabalhos de guerra e empresas militares [...] Por isso nós concedemos à tua excelência e autoridade, e confirmamos por autoridade o Reino de Portugal com a integridade das honras e a dignidade de Reino que aos reis pertence, e também todas as terras que, com auxílio da graça celeste, arrebatares das mãos dos Sarracenos[...] Por Frei António Brandão em Crónica de D. Afonso Henriques (em português atual)
Conforme mencionado, cerca de 40 anos antes já Afonso Henriques se proclamava Rei de Portugal. Foi a 26 de julho de 1139 que o arcebispo de Braga colocou a coroa dos reis godos na cabeça daquele que passava a ser o primeiro monarca da nação. D. Afonso Henriques tinha acabado de vencer, no dia anterior, a Batalha de Ourique, contra povos muçulmanos, abrindo assim espaço para a conquista da região sul do Portugal atual.
Reza a história que Lourenço Viegas, filho de Egas Moniz, disse ao arcebispo para, caso fosse sua vontade, lhe dar a insígnia real, o que foi acedido pelo religioso. Terá sido na mesma altura que os cavaleiros, em conjunto com o recém-empossado rei, alçaram espadas para proclamar a independência do rei e de Portugal.
Todavia, o primeiro documento onde o título de rei é atribuído ao monarca surge a 10 de abril de 1140. Já o reino de Leão e Castela, a que pertencia o condado Portucalense, apenas reconheceu o reino de Portugal em 05 de outubro de 1143, mais de quatro anos depois da auto-proclamação.
Em Guimarães, celebra-se o dia 25 de julho como o do aniversário do fundador da nação, mas a data não é consensual. Há apenas a certeza que foi nesse dia, 25, que se realizou a Batalha de Ourique e que no dia 26 D. Afonso Henriques se autoproclamou rei de Portugal.
Mas faltava ser reconhecido como rei perante o Papa, algo que apenas aconteceu em 1179, quando a bula papal Manifestis Probatum reconheceu D. Afonso Henriques como “intrépido destruidor dos inimigos dos cristãos, diligente propagador da fé, bom filho da Igreja e príncipe católico, exemplo digno de imitação para os vindouros”, reconhecendo também o reino de Portugal.