Artigo de Opinião
Padre João Torres
Pároco de Priscos
O Presépio ao Vivo de Priscos, realizado na freguesia de Priscos, em Braga, é um dos maiores presépios vivos da Europa. Há 9 anos, que este evento se destaca não apenas pela grandiosidade das suas encenações, mas também pelo seu caráter inclusivo, especialmente na reintegração social de reclusos do Estabelecimento Prisional de Braga. Já passaram por Priscos cerca de 70 reclusos.
Desde 2015, reclusos do Estabelecimento Prisional de Braga participam no projeto “Mais Natal Priscos”, da Paróquia de Priscos como uma forma de promover sua reabilitação social. “Mais Natal Priscos”, foi um dos projetos vencedores dos Orçamentos Participativos de Braga em 2015 e 2016. A ideia nasceu como parte de um projeto de inclusão e humanização, oferecendo aos reclusos a oportunidade de colaborarem em atividades que envolvem a comunidade, criando laços de confiança e respeito mútuo. A coordenação, supervisão e acompanhamento do projeto é da responsabilidade da paróquia.
Os reclusos são integrados de diversas formas, seja na construção dos cenários e no apoio logístico. Esta iniciativa tem sido amplamente elogiada pela sua capacidade de promover a inclusão social e oferecer uma nova oportunidade a estas pessoas, ajudando a quebrar estigmas e preconceitos que muitas vezes dificultam a reintegração dos reclusos na sociedade.
O projeto é uma parceria entre a Paróquia de São Tiago de Priscos e a Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP), com o apoio do Município de Braga, na deslocação dos reclusos do Estabelecimento Prisional até Priscos. Ele tem mostrado resultados muito positivos, tanto para os participantes, que ganham uma nova perspetiva de vida, quanto para a comunidade, que acolhe a iniciativa como um exemplo de solidariedade e inclusão. Apesar do potencial de projetos como o Presépio de Priscos para a reinserção social, muitas vezes falta um comprometimento real por parte das autoridades governamentais. A necessidade de aprovações de múltiplas instâncias, a complexidade dos procedimentos administrativos e a falta de coordenação entre os vários serviços e departamentos fazem com que muitos projetos como o Presépio de Priscos não tenham o impacto desejado. É necessário, implementar mudanças que promovam uma gestão mais eficiente e humana, para melhorar significativamente a reinserção social e reduzir as taxas de reincidência, contribuindo para uma sociedade mais justa e inclusiva.
A participação no presépio não só oferece aos reclusos uma oportunidade de contribuir para algo significativo, mas também funciona como uma forma de ressocialização que pode facilitar a sua reintegração após o cumprimento da pena. Este projeto demonstra o poder transformador da cultura e da comunidade em iniciativas de reabilitação social.
Permitir que reclusos antes do fim da sua pena passem algum tempo na comunidade é um elemento vital para sua reintegração na sociedade. Pode ajudá-los a obter uma valiosa experiência de trabalho, obter qualificações ou aprender novas habilidades, não só técnicas, mas também sociais. A reabilitação reduz a reincidência e apoia o regresso à vida ativa. A reincidência tem um custo enorme, tanto financeiro quanto social, e um sistema prisional mais eficaz pode poupar recursos públicos e promover mais segurança. Os reclusos precisam ser preparados para o mercado de trabalho e para a vida em sociedade durante o cumprimento da pena. Infelizmente, muitos saem da prisão sem qualquer tipo de qualificação ou suporte, o que aumenta as probabilidades de voltarem ao crime devido à falta de oportunidades.
No Presépio ao Vivo de Priscos os reclusos cumprem um horário de trabalho entre as 08:30 e as 17:00, com intervalo de 60 minutos para almoço, entre as 12:00 e as 13:00. Têm a remuneração mensal. Uma parte do vencimento, cerca de metade, fica retido numa conta para que os reclusos possam fazer um pé-de-meia que lhes será devolvido quando saírem em liberdade. Nem todos têm suporte familiar que lhes garanta uma saída tranquila.
A reinserção social dos reclusos é uma questão que precisa de ser tratada com mais atenção por parte do governo e da sociedade em geral. Projetos como o Presépio ao Vivo de Priscos demonstram o impacto positivo de iniciativas que promovem a inclusão social de reclusos, mas esses esforços ainda são exceções e não a regra. Para que a reinserção social seja mais efetiva, algumas mudanças e investimentos por parte do governo são essenciais.